quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

a noite

de noite na cama tenho boas idéias
idéias boas que sonham em não ser esquecidas
mas quem se lembra das idéias que teve na cama no dia seguinte?
sexo, sonhos, sono
essa noite sonhei que um estranho saltava do viaduto
eu conversava, ele saltou
gritei, com medo que fosse eu
olhei lá embaixo e o homem sobreviveu
triste que estava, fracassou
nem morrer

acordo com a sensação de que alguma coisa aconteceu
idéias e sonhos esquecidos
suicídios fracassados
projetos inacabados
não, nada aconteceu
só a noite

sábado, 27 de outubro de 2007

olhos azuis

Ela me olhava com o olho de vidro azul, o olho verdadeiro também era azul, mas piscava. O olho não devia ser de vidro, mas eu não tive coragem de perguntar do que era feito seu olho. O olho não piscava, via tudo. Via nada.
Quando eu era criança pensava que as pessoas feias deviam ser infelizes, mas nunca pensei como se sentiam as pessoas com olho de vidro. Como ela se sentia vendo com seu olho verdadeiro que todos viam seu olho de vidro? Ela era feliz? Não parecia, talvez nem fosse pelo olho. Mas também não tive coragem de olhar pra ela com meus dois olhos castanhos e perguntar se ela era infeliz. Certamente ela ia pensar que perguntava por causa do olho de vidro cego.
Ela me olhava sempre, talvez esperando que eu reagisse, perguntasse, desviasse. Mas eu olhava com meus olhos castanhos tristes e sentia vergonha de ter tanta maquiagem. Dava um sorriso mecânico que sempre dou a quem me olha, ela não sorria. Não respondia olhares com sorrisos. E eu sentia mais vergonha ainda pela minha hipocrisia.
Se o olho verdadeiro por acaso desviasse o olhar, o olho de vidro azul estava ali, me encarando. E eu me lembrava de como sempre quis ter olhos azuis.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

paz

essa paz que eu tanto prezo, passa
eu sei que passa
daqui a pouco acordo com os bofes expostos
postos nos meus pratos de 1,99 pro jantar
e se você comê-los prometo que ainda vou te amar
vou comprar um vinho tinto pra acompanhar, me faça um brinde
sabe que gosto de uma delicadeza de vez em quando
só não me deixe esfriar em cima da mesa
não me ignore

depois da refeição vem a paz,
e a paz é o que eu mais prezo.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Religiosidade

Há quem diga que a religiosidade está acabando, eu discordo. As pessoas sempre vão precisar de uma razão pra levantar da cama de manhã, de algo que justifique sua estada na terra, é nato. Sem isso o mundo seria um caos, as pessoas precisam se sentir parte de algo maior.
Sei que as igrejas, centros espíritas, de macumba, etc, andam meio caídos. Mas em compensação os shoppings tão sempre cheios. Há os que gostem de comungar sem sair de casa e pra isso existe a internet, telefone e serviços de entrega.
Alguém pode dizer que sou exagerada, mas posso provar que não. Entre os leitores, quem sai de casa no sábado pra ir à igreja? E quem sai de casa no sábado pra fazer umas comprinhas? Tá bom, concordo que nem todo mundo compra no shopping, às vezes é só um cafézinho, um sorvete, um passeio. Mas nem todo religioso é ortodoxo.
Ainda acha exagero? Hum, você acorda às 7 da manhã pra trabalhar, faz hora extra, mba, pra quê? Pra ir pro céu. Claro que não, é pra poder comprar uma tv de plasma, viajar pro nordeste, pagar o financiamento do ap, ou pelo menos poder passear no shopping sem se sentir constrangido.
Ninguém aponta um ateu na rua hoje em dia, mas se o cara estiver desempregado há mais de 3 meses... tem algo errado com ele. Como ele vai pagar o aluguel, a conta do telefone, da tv a cabo, o plano de saúde? É melhor que ele saia de casa todo dia de manhã pra procurar emprego e volte só a noite, como penitência.
Essa religião, que eu costumo chamar de consumismo, não tem padre nem pastor, mas cada fiel fiscaliza o próximo de rabo de olho. É até mais eficiente que as antigas igrejas. E todos podem ser conselheiros, basta querer, soube de uma promoção incrível? É sua obrigação transmitir a informação ao próximo.
Claro que existem os infiéis, você pode identificá-los nos bazares, brechós, e locais análogos. Andam pela rua indiferentes às vitrines. Consomem, claro, mas não têm o consumo como fim. Assim como o antigo ateu que ia à igreja só em casamentos e batizados, o novo ateu compra o que precisa. Pode ser um livro, a coleção de dvds do almodóvar, uma picanha, uma roupa bacana e barata, mas a finalidade não é consumir, é satisfazer uma outra necessidade.
Já os fiéis mais ortodoxos necessitam comprar, seja lá o que for, se estiver na moda e em promoção, tanto melhor. Se estiver no fim do mês, com o orçamento estourado, vai no crédito mesmo. Se o cartão de crédito estiver estourado também, vale ficar olhando o próximo comprar, planejar as compras futuras... o importante é se sentir parte do todo. O importante é ter objetivos, é ter uma razão pra acordar às 7 da manhã.
Têm algumas igrejas da antiga religião que tentam se adaptar ao novo modo de vida dos fiéis, vendem cds, dvds, bíblias nas mais variadas cores, diferentes tamanhos de terreno no céu, etc, mas seus dias de êxito estão contados. Mais dia menos dia os fiéis vão perceber que estão por fora, que o mundo lá fora oferece mais opções. Mais dia menos dia vão aderir ao consumismo.
O consumo, sem dúvida é o novo deus e o mercado a nova igreja. O consumo tem mais seguidores que cristo.
Alguém duvida?

domingo, 21 de outubro de 2007

muda

quando fico assim
séria e muda
é que estou prestes a vomitar
um choro, uma poesia
um não sei o quê, um salto
salto
quebrado no buraco do asfalto

terça-feira, 16 de outubro de 2007

perdido

será que foram as porradas
ou foi o tempo
o que foi que mexeu tudo lá dentro
onde foi parar o que eu tinha pra te dar
perdi no meio do tiroteio, ou perdi e só
não vi quando foi, mas tudo é em algum momento
basta uma distração, um soco, um minuto
e alguma coisa muda de lugar
dessa vez foi você, não encontro mais seu lugar
acho que você nunca esteve aqui
ou foi o tempo?

Você ganhou flores, que lindas!
Deve ser tão gostoso ter um fã. Eu nunca tive, mas deve ser muito bom.
Coloca essas flores em cima da mesa pra todo mundo ver, se ele passar por aqui vai ficar feliz. Coloca vai?
Meu ex-marido me mandava flores quando a gente começou a namorar, mas depois disso eu nunca mais ganhei.
Coloca as flores aí, vai? Se ele não ver as flores vai ficar magoado.

Enquanto eu escrevo o que ela me disse, fica me olhando, parece que sabe. Ela nunca teve um fã, coitada.
Eu já tive, ele me mandava flores, bilhetes, cartas e desenhos.Todo mundo tinha pena dele. Depois de um tempo mandava ameaças e se sentia traído por não ser correspondido.
Fã é uma coisa no mínimo estranha, talvez seja sinal de que falta alguma coisa. Mas a senhora não sabe, ela nunca teve um fã. Talvez tenha sido fã de alguém. Será?
Hum, tem cara... e não pára de me olhar. Será que sabe que estou falando dela?
Ai meu deus, ela tá vindo pra cá e

domingo, 14 de outubro de 2007

des/plugado

é a marca.
como assim?
as coisas marcadas que estão por aí, nas vitrines... sabe?
acho que não.
você é muito distraído, por isso vive desplugado do mundo.
o que o mundo tem a ver com isso?
como assim? o mundo é isso.
é?
é, oras.

suspensão

um grito, um suspiro
um putaquepariu
avanço nos faróis vermelhos

um risco, um aperto
queda de cabeça do berço
o avesso

um gosto de bebida amanhecida
sonho de noite mal dormida
o nascer de mais um dia nublado
essa imperfeição explícita
confusão de sons e imagens
o ruído

o chão ruindo sob nossos pés calçados em belos sapatos coloridos.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

sonho

Sonhou que beijava um moço. Que na real era chato, mas no sonho era uma delícia. Aliás, até que o sonho parecia bem real em tudo, menos no moço.
E acordou meio enamorada do moço do sonho, que na real nem gostava. Nunca tinha beijado o moço na verdade, mas no sonho o beijo dele era muito bom.
No sonho, depois do beijo, tudo ficou com uma cara diferente. No sonho era tudo mais bonito. Até o moço chato ficou bacana no sonho, depois do beijo.
Sonhar até doía às vezes, porque não sabia controlar o que acontecia. Beijava alguém que não beijaria e ainda por cima gostava. E queria beijar mais, mas o moço do sonho ficou distraído depois do beijo, ou foram interrompidos, não lembrava.
Será que ele sonhava com ela também? Depois que acordou pensou em ligar pra ele e perguntar, só pra saber. Ou só pra lembrar como era o moço de verdade. Ou só pra ver se o moço queria beijá-la de verdade. Ou só pra não perder de vez aquele momento bonito do sonho.
O sonho era tão real que às vezes esquecia que acabava quando acordava. Será que acabava mesmo? Podia ligar pro moço e descobrir, mas não faria isso. Sabia que depois de uns dias passava a sensação do sonho. E sempre ficava com a impressão que estava perdendo uma chance. Será que estava?
Na dúvida se ligava ou não pro moço, resolveu dormir um pouco e talvez sonhar com aquele moço de novo, ou com qualquer outro moço esquisito que não beijaria nunca na vida... ou com aquele outro moço que bem tinha vontade de conhecer melhor, ou com... zzzzz... zzzzzzzzzz...

pra Marilda

Está ouvindo esse barulho? Parece um tornado, um furacão, uma erupção vulcânica... qualquer coisa assim violenta. Um desabar, uma avalanche.
Ninguém consegue parar uma avalanche. Começa devagar, um deslizar suave e vai crescendo, crescendo... leva quem está distraído no caminho.
Eu tava tão distraída, assoviando uma música antiga. E de repente me pegou, agora ouço só esse barulho.
Eu sei que moro num país tropical, abençoado por deus e bonito por natureza. Aqui só tem furacão na televisão. Mas parece que tudo mudou de lugar, o som dos carros passando parou.
Ouve o silêncio e lá no fundo o desmoronar? Escuta a explosão do vulcão. Alguém mais tá ouvindo?

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Cansei

Cansei de ser sexy
Cansei de ser
Cansei de ser esperta, informada.
Cansei de ser “ a beleza clássica”
a comportada
Cansei de beber socialmente,
fumar só de vez em quando
Cansei de ter que ter uma opinião formada
Cansei da forma
Cansei de ser realista
Cansei de ver as coisas como elas são
as coisas têm tantas cores
As coisas podem ser milhares de coisas
as coisas são só as coisas e depende de quem vê a coisa

Abra o cardápio
sirva-se à vontade, ouse
Aqui só não vale reclamar, nem aceitamos devoluções
Bom apetite.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A cidade está em obras
Por onde ando ouço o martelar
Passos. Braços. tac tac tac
o barulho constante que me acorda
movimento de braços mortos, cansados
Não se vê o fim da obra, eu não vejo o fim
Só o barulho que aos poucos ensurdece
o concreto que endurece
Risadas ensaiadas. Buzina.
A cidade está em reforma, por onde ando, por onde entro
o ruído.

Aqui dentro também ouço o martelar,
o tique-taque constante do tempo
Ruidosamente operando
Ruidosa
mente

Cuidado. Em obras.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Sumida, eu?!

Sei que tô sumida, mas também cheia de coisas pra fazer. Mudança de rotina me deixa confusa. E tô escrevendo bastante, só que não pro blog...
Vou me organizar melhor, pra conseguir postar aqui. Prometo.
Saudades.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

amigo

- você conhece alguma puta?
- puta que cobra?
- é.
- não, você tá precisando?
- tô.
- e tem que ser conhecida?
- puta com indicação é melhor.
- ah é? não sabia dessa...

Lembrei de quando ele era virgem, não bebia e sempre me carregava pra casa. Chegava a ser exótico, estava sempre entre a gente mas era de uma outra espécie, menos adolescente. Era motivo de piada, claro. Todos gostávamos muito dele, aliás era nosso preferido, mas isso não nos impedia de rir. Ríamos de tudo.
Às vezes eu pensava se ele não se incomodava com as brincadeiras, mas ele não reclamava e, se reclamasse, ninguém levaria a sério.
Diziam que era apaixonado por mim, nunca confirmei. Pra mim ele era o melhor amigo, chorava minhas frustrações amorosas no seu colo, ouvia os conselhos. Era amigo de todos, sabia todas as intrigas, mas não espalhava. Era pessoa de confiança.
Aí eu fui fazer faculdade, ele também e a gente se distanciou. Mas eu tinha notícias de que ele estava bebendo, dando vexame, inclusive tinha sido preso (!), pra mim era inacreditável. A turma que tinha que cuidar dele, agora. Porque essa reviravolta? Não sei.
Sei que anos depois ele me pergunta de putas e bebe. Mas ainda tem um lado ingênuo, até delicado, que se choca com a crueza das minhas palavras, que me acha sarcástica e agressiva demais. Não sou eu Bruno, as coisas que são assim.
Ele continua sendo uma incógnita pra mim, e apesar de falar sobre ele não quis arriscar ofendê-lo com minhas opiniões agressivas... ele é meu amigo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

acontece

pisar na barra do vestido
cair na escada no dia da formatura
fazer festa de aniversário e não aparecer ninguém
levar um banho de enxurrada embaixo do minhocão
tomar um porre por causa do ex-namorado neo-zelandês
comer a filha e ser flagrado pelo sogro
pagar de marilyn monroe na frente de uma obra, fiu-fiu
peidar no elevador que parará no próximo andar
atender a porta com porra no cabelo
correr atrás do ônibus que passa reto
ser corneada em público
dançar i will survive na festa da empresa

é... amanhã vai ser outro dia.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

espaço

mas e os espaços vazios entre nós?
e ainda tem os vazios em mim
nunca ouviu falar dos átomos?
do vazio das coisas, espaço entre os elétrons...
essa concretude cheia de nada
pensa
que posso oferecer além de ar e espaço vazio?
uma brincadeira
uma pose, uma moral de vento
uma tentativa de qualquer coisa
uma probabilidade
o quê?
pensando, passando
e uma sede de mudar qualquer coisa
a troco de quê, não são assim as coisas?
não somos assim, eu e você
vazio e cor
textura
fome e sede? de qualquer coisa
apague o tempo e comece a contar intensidades
contemos as dores, mas não os segundos
centésimos e milésimos
e não esqueça do vazio que existe aqui
olha pra mim
vê o espaço?

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

120 dias

Mais uma vez sou obrigada a lembrar dos "120 dias de sodoma".

Sobre a absolvição do digníssimo senador Renan:

Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, disse que "foi feita justiça" na votação. "Acima de tudo, foi uma vitória do Senado Federal, que passou por maus momentos durante 120 dias. Saímos fortalecidos", completou.

Se eles passam por maus momentos, que se dirá dos otários como nós.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Sabe o que é...

Sabe o que é, eu nunca te amei...
Não é por mal, eu nem sabia disso, mas...
Como eu posso explicar?
Eu me amava e como você estava sempre à disposição, sempre ao alcance da mão, sempre com palavras tão doces, sempre tão dedicado, sempre tão... sempre tão eu, eu achei que te amava.
Na verdade, verdadeira... não fique chateado, na verdade eu nem tinha reparado em você.
Mas também não precisa fazer essa cara, eu tô tentando ser sincera, oras!
Se pelo menos eu soubesse quem é você... talvez não te amasse, mas seria com conhecimento de causa, sabe?
Então, e agora eu conheci esse cara... não chora.
Esse cara... acho que ele não sabe meu nome completo, nem a data do meu aniversário, nem meu sabor de sorvete preferido, nem o nome da minha mãe...
Mas ele é tão... ele. E quando ele está perto eu sou ele, entende? Não do jeito que você era eu, mas de outro jeito, deixa eu explicar...
Se ele está por perto eu tenho que tomar conhecimento, entende? Ele não passa em branco, ele se coloca em destaque, ele não me pergunta o que eu acho disso e daquilo, ele me fala o que quer... E se eu ficar distraída ele passa por mim, me atropela, me desvia, nem sei...
Eu tenho que ficar atenta com ele, sabe?
Eu amo esse cara.
Não chora, vai.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

felizes

o calor que vem do corpo no corpo
a mão descansando no seu peito
dedos que correm nas cordas do velho violão
ataque de riso duas vezes por dia,
até perder o ar, sem saber porquê
sem televisão, sem freio, sem medida

sem data pra acabar

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Almoço

O oriental era de uma servilidade mui digna.
O gordo refestelava-se na cadeira do restaurante barato,
Cheio de ordens e falta de educação.
O oriental seguro na sua servilidade, imune.
Talvez não concebesse aquele orgulho, ou não se incomodasse.
- Pois não, senhor. Claro, só um minutinho.
Voz suave, sorriso e disposição, assim era o oriental.
O gordão dava ordens em voz alta e cochichava com os comparsas, gorduchos.
Tentava ser alguém, no restaurante barato dos imigrantes.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

cru

eu vivo aqui mesmo, perto do chão
gosto de sentir o cheiro de mijo da calçada
gosto do gosto de porra na boca
vôo às vezes por aí
mordida numa nuvem cinza
vôo cego, sem capacete
e o sol na cara
o chão é meu segundo lar, volto sempre que posso
pouso derrapante em dias de chuva

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Orestéia

Sexta-feira respirei fundo e fui pro galpão do folias pra ver "orestéia-o canto do bode". Respirei fundo porque a peça tem 3 hs de duração e eu costumo ficar cansada quando a peça é longa assim.
A peça é maravilhosa, as 3 hs passam voando, já na fila somos recebidos pelo dagoberto feliz, que vai explicando do que se trata a peça. A peça prende a atenção do início ao fim, é moderna, bem montada, tem um ritmo e uma homogeneidade que faz muito tempo que não vejo, em nenhum grupo. É ótima e eu recomendo mesmo.
Mas uma coisa me chamou a atenção, só tinha gente da classe na platéia, talvez uma meia dúzia de civis, mas o grosso do público era a tal classe artística. É bom que os atores vejam teatro? Claro que é. Mas não acho legal que essa peça maravilhosa não chegue ao público leigo.
Saí do teatro super feliz por ter compartilhado aquele momento lindo, aquele espetáculo lindo, lindo. Mas saí encanada com essa história de que fazemos teatro pra atores, e classe artística em geral. É uma merda isso! No cultura artística é cheio de civis, no teatro abril também, porque os bons grupos de teatro não são vistos por esse mesmo público? Porque essas peças caretas, quadradas, importadas, endinheiradas têm público, e as de qualidade ficam restritas ao nosso pequeno círculo de artistas? É injusto, foge do nosso objetivo como artistas. Ou pelo menos foge do meu objetivo, eu não quero ficar fazendo peça pros meus amigos assistirem, eu não quero ficar nessa punhetice de um ir na peça do outro e sentar no bar pra discutir como foi a peça e blá, blá. Eu quero atingir as pessoas que não têm a formação cultural e artística que a classe artística tem, são essas que me interessam mais que as outras. As pessoas que me interessam são as sem educação, preconceituosas, que não conhecem arte, que não têm posição política, que nunca leram filosofia, etc, são essas que eu quero que me assistam.
Só não sei como atingir essas pessoas, não sei como chegar até elas. Mas me ficou a impressão que estamos jogando errado, cada grupo de apega ao seu espaço, ao seu público e luta ali, naquele círculo. Cada grupo que está começando, como o meu por exemplo, quer conquistar um espaço, uma linguagem, uma cara, um público e conquistar tudo isso já não é fácil. Mas o objetivo tem que ser maior que esse, temos que buscar reformular, revolucionar as formas de produção artística, esse formato de ter um pequeno espaço alternativo é bacana, mas não devemos todos sonhar com isso, todos nos contentar com isso. A televisão é um veículo tão poderoso e tão mal utilizado, o rádio, a internet, os veículos de massa são tão desperdiçados. Será que só o capital se interessa pela massa? Não podemos abandonar a massa, temos que repensar os meios de alcançá-la.
De que me adianta fazer teatro pra meia dúzia de pessoas que acompanham todas as peças em cartaz? Hein?! Sei lá, precisamos pensar melhor.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Dias felizes

Ele me levava pra pescar, mas antes eu o ajudava a pegar as minhocas e acomodá-las em latas de massa de tomate.
Ele pedia silêncio pra pescar, então eu ficava quietinha com minha vara na água esperando algum peixe beliscar.
Eu mesma colocava a minhoca no anzol pra ele não achar que eu era mulherzinha.
Eu era craque em pegar lambaris espertinhos e minúsculos.
Era eu quem tirava os peixes do meu anzol e colocava no covo, ele só olhava com o canto do olho.
Quando fisgava um bagre chorão ele vinha correndo me ajudar, porque o danado corta se colocar a mão.
E me salvava do peixe malvado com seu canivete poderoso.
Umas 10 hs da manhã a gente já estava com fome e ele sacava um pão com mortadela.
Aproveitava pra me ensinar a não deixar lixo na beira do rio e depois recomeçava a pescaria.
Eu torcia prum peixão beliscar o anzol dele, porque ele adorava uma boa briga.
Nessas ocasiões sempre tinha mais gente, mas parecia que éramos só nós dois.
Porque só eu levava o silêncio e os peixes a sério como ele, só eu conseguia fisgar os mini-lambaris, só eu colocava a minhoca direitinho no anzol, dispensava o cuzinho e deixava a cabeça na ponta.
Nessas ocasiões eu era o orgulho do papai e esses eram meus dias mais felizes.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

caixas

caixas de presente empilham-se na sala
nas mesas e cadeiras
embaixo da cama
caixas de passado empilhadas há tempos por todos os lados,
empoeiradas, cerradas e remexidas
até na geladeira junto com o leite velho
caixas de pandora/futuro no fundo de algum armário obtuso
ocluso
o leão, a feiticeira e o guarda-roupa esperam a menina
a esperança acena

Barlavento v.2

ativa superfície vê se ao longe
Desperta sob fluido rosa
desvia vida
Sobe infinito desce, lenta tortura
ajuda
Evitar.
Cabeça feita.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

o tempo passa, o tempo voa, e a poupança bamerindus continua numa boa...

Teve um tempo em que tudo estava tão longe de mim que eu não via possibilidade de mudança.
Teve um tempo que eu ouvia "tudo pode ser, se quiser será; sonho sempre vem pra quem sonhar" e sonhava em ser paquita.
Teve um tempo que eu inventei de ser economista, influência de um namorado normal que eu tinha na época.
Teve um tempo que eu tinha vergonha de desejar ser outra coisa.
Teve uma vez que me apaixonei por um rapaz de barba por fazer e camiseta do che guevara.
Teve um tempo em que eu era mais forte que meu irmão.
Teve uma época que eu enchia a cara de vinho vagabundo e chorava ouvindo legião urbana.
Teve uma época que eu era a madrasta da cinderela.
Teve uma época que eu assistia desenho de manhã e ana maria braga a tarde inteira.
Teve um tempo que eu vivia sem saber o que fazer, esperando que algo acontecesse.
Teve um tempo que eu tinha uma galinha em casa, ela se chamava sara lee.
Teve um tempo que eu achava que um dia alguém ia descobrir que eu era muito talentosa.
Teve uma época que eu morava com minha família numa casa de dois cômodos.
Teve uma época que eu tinha todos os avós.
Teve uma época que eu beijava a cidade inteira, mas não dava pra ninguém.
Teve uma vez que bati na cara de uma pessoa que eu amava.
Teve um tempo que eu dormia até às 11 e meia todo dia e acordava cansada.
Teve uma vez que achei que ia morrer, mas não lembro direito.

É, o tempo passa.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

noite de festa

Descia zigue-zagueando a nestor pestana, as pernas pesadas do vinho tinto seco chileno.
Zigue-zagueava em alta velocidade na rua das putas, ou pelo menos tentava. O cheiro de buceta da nestor a incomodava, não que se incomodasse com os puteiros, pelo contrário. Achava puteiro uma coisa honesta, simpatizava até, vendia sexo pra quem tinha dinheiro e vontade de comprar, mais direto impossível. Divagava e zigue-zagueava.
Voltava sozinha pra casa depois de mais uma noite de comemoração, era aniversário da amiga do amigo do amigo e uma ocasião dessas não poderia passar em branco. Tomaram muito vinho chileno e prosseco nacional, agora a cabeça girava e as pernas pesavam. E a nestor pestana parecia interminável.
No fim da rua ficava sua casa, lar doce lar, onde um colchão jogado no chão e uma TV em cima de uma caixa a esperavam. Que mais precisava? Uma cama, uma TV e uma comemoração de vez em quando.
Enquanto zigue-zagueava pela nestor, lembrava da discussão na mesa do bar, alguém tinha resolvido ser sincero e falar as verdades que todos calavam. Ela via a discussão e não conseguia entender, foi mais ou menos nessa hora que tudo começou a girar. Na mesa ninguém se ouvia, ela ouvia tudo e não entendia nada, porque estavam tão zangados? Aquelas bobagens ela já tinha ouvido em várias ocasiões, um sempre falava do outro quando o outro não estava, eles não sabiam disso? Girava, enjoava e não entendia mais nada. Não eram amigos, afinal? Levantou e foi embora, não se interessava pelo fim daquilo.
Chegando em casa fez o de praxe, tirou a roupa que cheirava a cigarro e jogou dentro do armário bagunçado, escovou os dentes e deitou. Levantou, vomitou o vinho tinto, o prosseco, as torradas de alho com sardela e voltou a deitar sem escovar os dentes. Dormiu um sono estranhamente tranquilo, nenhum sonho bêbado.
Acordou cedo, que era dia de trabalho, a cabeça ainda pesada do prosseco, as pernas moles do vinho. Sempre acabava se arrependendo dessas noitadas no meio da semana. Tomou um banho pra acordar e tirar o cheiro de fumaça do cabelo, vomitou uma gosma verde, escovou os dentes, escolheu uma roupa qualquer entre as menos amassadas e foi.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Argumentos

- Mas você está racionalizando um impulso seu e transformando em argumento.
- Sim, e você está fazendo o quê?

argumento:
1 - Rubrica: termo jurídico.
razão, raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo
2 - prova que serve para afirmar ou negar um fato
3 - recurso para convencer alguém, para alterar-lhe a opinião ou o comportamento
4 - disputa de palavras; contenda
5 - aquilo que constitui um assunto; temática

e eu acrescento mais uma:
6 - racionalização de impulsos com a intenção de convencer o interlocutor.

astral do dia

Aquário

Tire as próximas semanas pra encarar medos, temores e aprender mais a respeito de seu psiquismo. Aprender a perder e abrir mão do que é acessório em sua vida são pontos fortes da passagem do Sol por Virgem, que começa hoje. Em destaque: finanças, dividas, heranças.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ponto de ônibus

Tem poucas coisas mais chatas do que ponto de ônibus, afinal nele a gente espera e esperar é uma coisa muito chata, pelo menos pra mim. Infelizmente eu passo por esse tormento todos os dias, espero em média 20 min por um ônibus normalmente lotado.
O meu ponto de ônibus é na 9 de julho, parada INSS, quem já esteve lá sabe que não é um local confortável, fica no meio da 9 de julho e nem tem banquinho pra aliviar a espera.
Todo dia fico torcendo pro meu ônibus passar logo e hoje esperei uma meia horinha, motivo de sobra pra eu ficar irritada. Eis que estava mal-humorada, provavelmente com a cara amarrada, quando uma senhora começou a falar comigo. Pra começar eu nem tinha visto quem estava do meu lado, tomei um susto quando ela começou a falar.
- Sabe que eu acho você muito bonita?
- É mesmo? Obrigada.
- Você sempre pega o vila olímpia, né?
- Pego.
- Ontem mesmo eu tava comentando em casa como acho você bonita, as pernas bem torneadas... outro dia você estava de vestido, fica bem, viu? E tem o rosto muito bonito também, não usa muita maquiagem, tá sempre arrumada. O pessoal de casa perguntou se você poderia ser modelo e eu disse que achava que a idade não dava mais.
- É, realmente não dá.
- Olha, eu não sou sapatona, não! É que gosto de ficar observando as pessoas no ponto de ônibus e sempre vejo você aqui. Você é bonita mesmo, viu? Esse é meu ônibus, tchau!
- Tchau, obrigada.
E eu fiquei com cara de tacho e vermelha, claro. Não sabia o que dizer praquela senhora tão simpática e bem disposta, ela me via sempre, até no vestido ela reparou e eu nunca a tinha visto ali. Talvez não me lembre do rosto dela se a encontrar amanhã, tomara que eu lembre porque ela merece. Eu que não mereço muito que ela olhe pra mim, sempre fico mal humorada e preocupada com o horário, eu sou atriz e não observo ninguém no ponto de ônibus, eu sou jovem mas não tenho disposição pra ficar de conversa com desconhecidos, dentro do ônibus fico irritada e olhando pela janela quando alguém tenta puxar papo. Sou uma chatona contaminada pelo frenesi da vida moderna, apressada e indiferente. Odeio admitir, tento evitar, mas sou assim.
Mesmo que amanhã eu não me lembre do rosto da tal senhora, mesmo que nem tenha perguntado o nome dela, mesmo que eu continue sendo idiota vou lembrar do que ela fez por mim. Por culpa dela meu dia começou bem, fiquei animada com os elogios despretensiosos e com o bom humor dela.
E mesmo que nunca tenha comentado sobre ela em casa, fica aqui minha homenagem.

blog da peça

Como havia dito outro dia num dos posts, resolvi fazer um blog pra peça nova.
Vou tentar administrar os dois, vamos ver no que dá.
Então povo, o link está aí na lateral, tão vendo? É só clicar em cima e um novo mundo se abrirá, internet não é coisa mágica?
Aguardo visitas e comentários, beijossss.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

tudo

Enquanto esperava o que ia acontecer, pensava nas possibilidades daquele novo futuro, pensava no futuro pois não conseguia lembrar do passado. Tudo que tinha acontecido perdera a importância de repente, e mesmo que quisesse não podia lembrar, o passado era nebuloso diante daquele nada que a rodeava e preenchia. Nunca tinha entendido o nada, era muito diferente do que ela supunha, parecia mais com cheio do que com vazio. Talvez não fosse nada afinal, é que não sabia como chamar isso que era agora. Parecia mais com tudo porque não havia falta, mas não era palpável como sempre fora sua vida concreta.
Esperava sem ansiedade o momento da mudança, porque sabia que por dentro estava cada vez mais parecida com fora, num movimento crescente e acelerado. Não sabia o que ia acontecer, esperava sem saber o quê e era como se soubesse.
Num momento qualquer percebeu que não estava mais entre as paredes do velho apartamento, estava em lugar nenhum. Não era como imaginava o espaço, que era o que pensava que havia fora dos limites do mundo que conhecia, era claro e não tinha nenhuma estrela pra distrair. Lembrou vagamente da ansiedade que sentia quando ia pra algum lugar que não conhecia, do medo de se perder. Não tinha mais medo de nada. Os pensamentos nem pareciam mais pensamentos pois não havia esforço, as idéias desabrochavam lentamente.
Tudo que era concreto tinha desaparecido, inclusive seu corpo, não conseguia se separar daquele nada/tudo. Não conseguia entender onde terminava ela e começava o resto e essa era a melhor sensação que podia existir, sentia-se completa e nem sabia mais se era uma pessoa. E pela primeira vez saber não era importante, saber não era nada. Não sabia qual era o próximo passo. Não sabia quanto tempo ia levar. Não sabia nada e não precisava entender nada.
Percebeu que saber era uma grande bobagem, que tinha perdido muita vida por querer saber tudo com antecedência. Agora não queria saber mais nada e por isso mesmo entendia tudo, era tudo e vivia aquilo que era naquele momento.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

nada

Voltava pra casa depois de duas semanas fora, tinha precisado de umas férias da própria vida, mas já sentia saudades de casa. Não há lugar como nosso lar, descia a rua lembrando de Dorothy e quando viu já estava em frente seu prédio.
Abriu a porta e sentiu aquele cheiro conhecido, de cera misturado com desinfetante. Engraçado como lembramos dos cheiros, ainda lembrava do cheiro da escola na primeira série e sempre que sentia aquele cheiro, que nem sabia identificar, era transportada pra aquela época.
Entrou no elevador antigo e mais uma vez teve medo que ele parasse de repente entre os andares, apesar de nunca ter parado com ela era insuportavelmente lento. Décimo terceiro andar era o dela, sã e salva. O corredor era comprido e cheio de portas, numa delas estava sua casa. Não há lugar como nosso lar. Na sua porta, o tapete colorido e brega parecia gritar algo sobre a dona da casa. Chave na fechadura e a pressa de tirar os sapatos e fazer um xixi, porque não conseguia mijar calçada.
Abriu a porta e... nada. Nada, como assim nada? Tudo vazio, a cama, a TV, fogão e até a geladeira tinham sumido. O apartamento estava vazio, como ninguém viu levarem os móveis? Aquilo era um absurdo, saiu rumo ao apartamento do zelador.
Abriu a porta e... o corredor tinha sumido, todas as 20 portas do corredor tinham sumido e no lugar havia nada, um nada que não conseguia conceber. Agarrou a fechadura com medo de cair no nada e voltou pro apartamento que continuava ali.
Pensava nas possibilidades de aquilo ter acontecido, era impossível, contrariava todas as leis da física, química, matemática e toda essa merda que só serve pra dar uma falsa segurança pra quem segue leis imutáveis. Onde estavam as leis agora? Foi abrir a janela e o que viu era estranho, nada estava ali.
Ela estava louca! Claro, era muito mais provável que ela tivesse pirado do que o mundo desaparecer, ela estava louca e não conseguia perceber, por isso sentia-se normal. Afinal todo louco deve se achar normal, não conhecia nenhum louco de verdade, mas achava que era assim. Ou talvez tenha sido louca a vida inteira e a realidade era aquela, porque nunca se sentira tão lúcida. Ou era uma viagem de ácido, dizem que pode voltar a qualquer momento, apesar de nunca ter tido esse tipo de viagem. Vai ver era isso, só uma viagem de ácido de uma pessoa totalmente normal. Ou o mundo tinha desaparecido mesmo. Àquela altura do campeonato não conseguia saber qual hipótese era mais sem sentido.
Por que o apartamento continuava ali, com seus cômodos vazios e portas que davam pra lugar nenhum? Não era lógico. Aliás a lógica nada mais era do que uma piada, agora. Não tinha relógio e não sabia mais há quanto tempo tinha chegado, e pra que queria saber? Mania de querer ser organizada quando não era, nem sequer tinha relógio.
Sentou no chão, mas percebeu que não estava cansada, aliás estava muito bem disposta apesar de tudo. A fome também tinha passado, um alívio já que nada havia pra comer. Nem pra beber, nem pra distrair, nem pra falar. A bolsa ainda estava no corredor da entrada, abriu e viu que estava tudo ali, o lap top, necessaire, carteira, ob, crachá, celular, bala e papéis soltos que nem sabia de onde eram. De repente sentiu que aquilo tudo não lhe pertencia mais, foi até a janela e jogou tudo pelo ar/nada e foi lindo ver tudo que ela era voar em direção ao nada.
Olhava pela janela e se sentia livre, tão livre como nunca tinha sentido, até então não sabia o que era liberdade. Aliás, aquilo que sentia não tinha nome, por isso chamava de liberdade, apegada à necessidade de nomear as coisas. Que bobagem inventar um nome praquilo que estava sentindo se era só ela que ia saber o que era, e ela não precisava de nome pra entender, entendia com a alma. Que aliás também é um nome bobo pra uma coisa que não sabemos o que é. Entendia tudo agora.
Tentou pensar nas outras pessoas que conhecia, será que estavam passando pelo mesmo que ela? Tentou pensar mas não conseguia lembrar de ninguém, nenhum rosto, nenhum detalhe pequeno que fosse, um cheiro... Nada. E a sensação que no princípio tinha chamado de liberdade cresceu um pouco mais, ela se sentia plena, ela se sentia...
Não importava o que sentia, estava maravilhada com a sensação de nada que a invadia, que agora parecia mais um tudo. Parecia que fazia parte do nada/tudo que estava lá fora.
O apartamento parecia ainda mais sem sentido, com suas portas e janelas que davam pro nada, tubulações, exaustores e buracos que davam pro nada e ela ali dentro. O lindo nada lá fora, o vazio e maravilhoso nada. O mesmo nada que estava dentro dela e que não sabia, não conseguia ainda entender. A sensação que chamara de liberdade aumentou ainda um pouco mais e faltava pouco pra preenchê-la, sentia que logo ia explodir aquele nada/liberdade.
Então abriu a janela e esperou o nada/tudo explodir dentro dela, era isso que podia/queria fazer e não iria evitar mesmo que houvesse porquê.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Qualé?

Não quero pensar, nem ser criativa.
Não quero ser espertinha, nem entreter.
Só falar uma verdade, mesmo que seja minha.
Eu não sou legal, sou uma pessoa.
Sou uma vaca e galinha às vezes. Menina às vezes.
Não sou escritora, nem atriz, nem nada além de eu.
Sorrio muito sem vontade, falo muito também.
Cago pros elogios vazios, mas agradeço.
Falo palavrão sim, não é piada sou eu.
Trepo sem camisinha e daí?
Não sou politicamente correta nem me encaixo nos padrões hipócritas que todos fingem que acreditam e fico de saco cheio de ser exótica.
Não sou exótica, entendeu?
E todo mundo gosta de um fio terra ou beijo grego.
Só vim pra falar qualquer coisa que me venha à cabeça.
E hoje estou assim, ok? Amanhã posso estar assado.
É tpm sim, e daí?
Passa amanhã.

Aquário

Eu tenho medo de horóscopo.

Os aquarianos estão sob a égide do poder e da boa vontade alheias e mesmo que detestem isso, terão que se adaptar a essa condição astral. Talvez você nem tenha percebido até agora o quanto isso pesa em seu presente. Nestes últimos dias essa consciência vem forte e você irá se reciclar.

Pior que é.

Aquariano vive no ar, mas hoje você precisa se aprofundar em alguns assuntos, mesmo aquele não gostaria e tem evitado lidar. Mesmo que isso leve a alguma crise, é importante fazê-lo para poder renascer e reativar algumas questões que precisam ser melhoradas para a sua produtividade. O dia pede que você mergulhe em si mesmo.

Eita.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Descontrolada

Tá bom eu confesso, eu sou estranha. Mas o que posso fazer se gosto de narigão? Gosto de pintão também, mas narigão tem um charme... ui. Se for bem dotado de nariz as possibilidades de conseguir me mostrar outros apêndices aumenta consideravelmente.
Não sei o que é, talvez freud explique ( vou pesquisar no google) mas a questão é que eu tenho certas manias estranhas. Por exemplo, adoro vírgulas e crases, adoro, mas tento me controlar, pelo menos nas vírgulas. ( Será que é porque são compridinhas?)
O rapaz não precisa ser lindo não, beleza é bem vinda mas um nariz de atitude é fundamental. Narizinho arrebitado não tem chance comigo, nem adianta ser um brad pitt, é bonito de olhar mas não dá vontade de conhecer melhor, sabe como é? Mas um moço encantadoramente desproporcional, másculo e simpático é batata, meu filho ( citando nelson, o rodrigues).
Fui vítima dessa combinação perigosíssima, narigão, pintão, virilidade e um lindo sorriso. O moço tinha outras qualidades e muitos defeitos também, mas quando eu olhava praquele nariz... todo o resto deixava de fazer sentido e perdia a importância, era uma espécie de hipnose, eu acho.
Pois é, é isso, eu sofro desse mal terrível e sempre me complico por um belo, grande e hipnótico nariz. Fazer o quê?

PS: Quem se sentiu incomodado com as vírgulas desconsidere, porque eu sou incontrolável. Sorry.
PS2: Relendo o texto percebi que fui acometida por outra mania horrorosa, parênteses!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Casamento

Há pouco tempo fui convidada a ser madrinha de casamento, já tinha sido convidada uma outra vez e tinha sido bem sucedida, portanto aceitei. Pra deixar tudo claro desde o início já avisei que não tinha dinheiro pra presente caro, a noiva me dispensou do presente e ainda me deu uma panela de pressão que tava sobrando. Isso é que é madrinha de honra.
No dia do casório parti rumo à igreja evangélica no fim da zona leste, que você pensa que sabe onde é mas não tem a mais vaga idéia. Fui eu, refém do motorista e padrinho que me ofereceu uma bem-vinda carona. Até aí, moleza. Duas horas depois cheguei ao destino e pude me vestir, maquiar e todo aquele nhém-nhém-nhém de madrinha que não quer fazer feio diante de desconhecidos.
Pois é, eu não conhecia ninguém. A mãe por alto, uma irmã, uma prima e o noivo mais de ouvir falar que de presença. Me perguntava ( e todo mundo também) porque eu era madrinha. Simpática, tentei me entrosar e descolar uma turma legal pra ficar na festa. O padrinho não ia rolar, uma vez que a ex-namorada furiosa já deixara claro que aquele rapaz feioso era só dela. Por mim, tudo bem.
A noiva atrasou uma horinha, normal. Quando ela chegou nos dirigimos ao altar. Entrada dos padrinhos, normal. Todos a postos e a noiva vai entrar. Opa, a noiva resolveu cantar antes de entrar. Pena que era desafinada coitada, mas o noivo ficou feliz, ou nervoso? Não sei. Agora entra. Eita, uma declaração de amor no microfone. Agora entra. Opa, mais uma música que outra cantou, menos mal. Entra ou não entra?
Entrou. Toda de rosa e paetês feito uma barbie antiga. Quando ela me perguntou eu disse que achava brega, mas ela achava lindo e estava feliz. Foi andando até o altar, na frente da dama de honra que era pra não ser ofuscada. Encontro com o noivo, aquela emoção. Normal. O pastor vai começar a falar, mas calma antes tem mais uma música. Ai ai ai, cada música tem uns 10 minutos faça as contas. Um casal gordo cantou, esguelou e abafou. Deixa o pastor falar, minha gente.
Ela tinha me dito que o pastor era rápido, eu pensava nisso depois da primeira meia hora. Pausa pra mais uma música, dessa vez interpretada por duas moças gordas. O pastor retomou, blá blá a mulher deve obedecer ao esposo, blá blá a esposa deve apoiar o marido, blá blá no livro tal, versículo tal. Pausa pra mais um casal gordo e cantor, porra todo mundo canta nessa igreja?
O altar cheio de padrinhos começou a girar, apagaram as luzes e ligaram o estroboscópio. Gente, que loucura de casamento é esse? A festa já começou?
Acorda Flávia, tá tudo bem? Ai, acordei e descobri que tinha desmaiado. Ainda bem que acordei antes do padrinho me soltar que o coitado já não tava aguentando.
A noiva me olhava, o noivo me olhava, os padrinhos, pais, todos os convidados e até o pastor me olhava. Fiz um sinalzinho de ok pro pastor e um discreto vou sentar pra todos.
Sentei e vi o resto do casamento da primeira fila. Enquanto o pastor continuava o discurso, outros cantores se alternavam e eu pensava, eu nunca desmaiei, porque justo agora? Na igreja evangélica? Porque se fosse em outro lugar o máximo que ia acontecer era o povo achar que eu bebi antes da cerimônia, ou que não tinha comido, por mim tudo bem. Mas ali todo mundo ia pensar que eu tava possuída pelo demônio! Enquanto eu assistia o casório lá na frente eu sabia que todo mundo tinha esquecido da noiva e especulava sobre meu desmaio, ainda mais porque o casamento tava um tédio. Olhavam pra aquela menina simpática, vestida de roxo, bonita, desconhecida e pensavam, essa menina precisa de um exorcismo rápido. Aliás, até eu fiquei na dúvida se não valia a pena pedir um exorcismo expresso ao pastor, será possível que era coincidência eu desmaiar logo ali?
Enquanto eu decidia a respeito do exorcismo o casamento acabou, eu saí com a fila de padrinhos da igreja e fui rapidamente cercada pelos curiosos que queriam saber o que tinha acontecido comigo. Eram duas filas, uma pra cumprimentar os noivos e outra pra falar comigo. Enquanto eu explicava pela décima vez, percebi que eu tinha me tornado a sensação do casório, já podia escolher em qual mesa eu ia sentar na festa. Sim, eles estavam pensando que eu tinha algo diabólico mas e daí? O importante é que eu estava arrasando. Pastor? Exorcismo? Que nada, vai ver esse é meu charme. E o charme não posso perder jamais.
E aí, quem vai sentar na minha mesa? Bora pra festa, galera.

Errata

- Por que você terminou com seu outro namorado?
- Porque não gostava mais dele.
- Hum.
- Por que você resolveu perguntar agora?
- Porque me arrependo de nunca ter perguntado muitas coisas.

E falaram sobre coisas antigas que nunca tinham falado, esqueceram da distância que havia entre eles e o passado. Entre ele e ela em qualquer tempo. Falaram de medos e de curiosidades. Falaram de objetivos e urgências. Falaram de arrependimentos, mas só um pouco. Aí ela pensou em mostrar um dos seus textos, um que ninguém leu ainda. Ela pensou em mostrar, mas não mostrou. Ele nem sabe que ela pensou.
Ela continua errando os mesmos erros.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

História inventada pra uma pessoa real

Já era pequeno quando nem sabia a diferença entre grande e pequeno, nasceu pequeno. Todo mundo nasce pequeno, mas ele era mais pequeno que os outros.
Quando começou a entender a diferença entre grande e pequeno já sabia que era menor que os outros, ou melhor, que sempre seria menor.
Cresceu assim, pouco e sempre consciente de sua pequenez. Passou por todas as fases que as crianças passam, era menor mas não se importava ou tentava. Primeiro dia de aula é assustador pra todo mundo, pra ele também. Quinta série dá aquele frio na barriga, nele também. Primeiro beijo dá medo, nele também. Ele era tão corajoso ou tão medroso quanto os colegas, crescer não é facil pra ninguém mesmo e ele tentava se convencer que pra ele era igual. Mas não era, ele não ia crescer.
Na adolescência que percebeu quanto tinha custado chegar até ali, e quanto ressentimento o acompanhava. Na verdade ainda não tinha consciência de nada, só do ressentimento. E fez o que tinha que fazer sendo jovem e ressentido, fez o que todo mundo faz na adolescência e acumulou mais um tanto de ressentimento.
Não sabe bem ao certo como nem quando aconteceu, mas um dia era adulto e pequeno. Via o mundo sempre da mesma perspectiva desde criança, cansou. Podia trabalhar num circo, usar perna de pau, a idéia não era má. Podia trabalhar de animador de auditório no Ratinho, era humilhante mas. Podia fazer muita coisa pra subir na vida, inclusive arrumar um emprego qualquer como todo mundo fazia, não era tão difícil. Podia fazer muitas coisas, mas já estava acostumado com sua posição no mundo, no rodapé. Mudar parecia muito complicado, precisava encontrar uma função adequada à sua experiência. Um dia percebeu que era o candidato perfeito ao cargo de mendigo, tinha grande experiência em ser olhado com o canto do olho, tinha intimidade com a margem, sempre vivera perto do chão, era só sentar e estender a mão. Foi assim que assumiu seu lugar na sociedade, representante de duas minorias se tornara uma minoria muito pequena, talvez a menor de todas. Mendigo e anão.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Das aparências

- Você tem cara de quem gosta de música gospel.
- É mesmo?
- Você não gosta?
- Hum... não.
- É porque você nunca ouviu.
- Já ouvi sim.
- Então você não ouviu com o coração aberto.
- É possível.
- Eu também não gostava, se você ouvir de coração aberto vai gostar.
- Não vou, não.
- Claro que vai, te garanto.
- Não.
Fez aquela cara de assunto encerrado e um sorriso, pra ele entender que não era má nem tinha simpatia pelo demônio.

Esse episódio me leva a duas conclusões:
1- as aparências enganam.
2- nós atribuímos as qualidades que prezamos às pessoas que nos agradam, independente das evidências que digam o contrário.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ressaca

Ressaca é das piores coisas que existem, tenho pra mim que é coisa do diabo.
Aliás, pensando bem, só pode ser castigo divino. É deus se divertindo lá em cima enquanto você vomita, ninguém mandou se divertir ontem. A ressaca é a arma divina contra as tentações mundanas, ai adoro essa palavra, mundana.
É injusto que as coisas boas resultem em tanto sofrimento, por essas e outras não curto mais deus, depois que comecei a me divertir vi que ele era um recalcado. Onde já se viu, por causa de algumas horas de diversão e bebedeira um dia inteiro de dor de cabeça, vômito e vertigem?
Mas pior que estar de ressaca é estar de ressaca e ter que trabalhar, tortura dobrada pra quem arrisca uma diversão no meio da semana. E pode ter certeza que justo no dia que você estiver com aquela mega ressaca seu chefe vai te pedir um trabalho que exija concentração. Sabe aquele negócio chato que ele deixou acumular o mês inteiro? Ele tava só esperando o dia que você ia chegar de ressaca pra te mandar fazer (com urgência). Porque sim, ele está crente que é deus e odeia imaginar que você se diverte.
Por isso recomendo matar o trabalho nesses dias, é melhor pra todo mundo. Ninguém vai ter que fingir que não te viu vomitar no banheiro, seu chefe vai ficar na ilusão de que você está realmente doente e você vai manter a dignidade que te resta abraçada ao vaso sanitário da sua casa. De preferência sem ninguém por perto.
Eu posso falar de ressaca porque é um assunto que conheço bem, conheço muita gente que bebe mais que eu, mas ninguém que tenha mais ressaca. Qualquer pinguinha que eu tomo já me dá aquele enjôo, meia dúzia de cervejas e começo a gorfar (gorfar: vomitar sem muita classe). Segundo a minha mãe, que está ao lado de deus no quesito provocar arrependimento e culpa, essa minha sensibilidade à bebida é graças ao meu fígado frágil, consequência da hepatite na infância. No dia seguinte já acordo com aquela dor de cabeça que promete durar o dia todo, vomito o que tiver sobrado da noite anterior e caio na cama de novo. O ritual se repete várias vezes ao longo do dia, interrompido por algumas tentativas de ingerir neosaldinas e gatorade.
Aliás, aí vai minha receita pra ressaca: após o primeiro gorfo do dia tome um longo banho, uma neosaldina e gatorade sabor frutas cítricas*. Não se esqueça, comece o tratamento após o primeiro gorfo porque as possibilidades de vomitar a neosaldina diminuem. Não é aconselhável vomitar bile o dia todo, portanto tome algum líquido que propicie um vômito mais saudável e digno. Se possível encerre o dia com uma canja.
Pra finalizar as dicas sobre bebedeira, vai aí uma que nunca funciona mas você pode tentar. Quando o diabo vier te tentar com aquela baladinha super bacana durante a semana lembre-se da fúria divina, tente lembrar dos momentos que passou curtindo ressaca, lembre-se das promessas ajoelhada em frente ao vaso. Se nada disso adiantar tome um engov antes, um depois e boa sorte.

* na verdade o gatorade pode ser de qualquer sabor, é que esse é meu preferido.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Segundo tempo

Pode não parecer mas estou super animada.
Esse sábado tive uma reunião de trabalho que foi ótima. Eu e a Renata Kamla estamos gestando a nova peça há algum tempo. Conversando, definindo o que queremos dizer e como. O que tínhamos de certo é que seria uma continuação da pesquisa do "Tempo", não que vá ser igual, aliás acho que será bem diferente, mas que seja uma linha contínua do nosso trabalho. A grande diferença a princípio, foi que chamamos um amigo pra escrever a peça, num processo meio que colaborativo. Na verdade ainda não sei ao certo como classificar o 'processo', uma vez que estamos no meio desse processo que não sei como será.
Pra começar, fizemos algumas reuniões com o Daniel, sim, esse é o nome do rapaz dramaturgo, pra ele entender um pouco o que queríamos e como ele poderia ajudar. Ele gostou das idéias e topou. Acontece que o Daniel é meu amigo, é da minha geração (estamos nos 20 ainda, viu Dani?), tem um humor bem parecido com o meu e escreve de um jeito que me agrada muito. Será que vai dar certo? Depois de algumas conversas com as duas malucas demos um tempo pra ele escrever e sábado eles nos entregou as primeiras páginas. Amei. Ficou super a nossa cara e ao mesmo tempo a cara de uma geração, essa entre 20 e 35 anos. Algumas páginas de muita verdade e humor.
Fiquei tão animada que tô doida pra começar os ensaios, que aliás começam essa semana. Ainda não sabemos exatamente como será a peça, afinal ela será construída nos próximos meses, mas garanto que haverá unhas e sapatos vermelhos, sexo e ressaca, e um tantinho de reflexão, afinal não somos vazios.
É bem provável que, graças a esse estímulo criativo que é ensaiar e construir uma peça, eu escreva novos textos que podem ou não ser usados no espetáculo, o que não for usado publicarei por aqui. E estou pensando seriamente em criar um blog pra peça, pra não ficar muita zona aqui e também pra dividir essa experiência com quem quiser. Além do mais, me obrigaria a organizar os eventos e ter mais cuidado com as descobertas diárias. Bem, tá quase decidido que esse blog vai existir.
Vamos começar a ensaiar pra ver o que acontece, em breve novidades.

Caixa postal

Sai e fecha a porta, por favor.
Cansei de ouvir, dizer, lembrar, blá blá e etc.
E o mais importante sempre tá na etecétera.
O mal mesmo, tá na etecétera.
Sai, por favor. Tenho um encontro marcado.
Eu, minha televisão e um baseado.
Eu, o pano de chão e o supermercado.
Sai e fecha a porta.

Meu status está offline e posso não responder.
Essa pessoa está programada pra não receber chamadas.
Deixe sua mensagem após o sinal. Beeeep.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Me explico

A história anterior, e toda essa morbidez é pra relembrar porque minha vida mudou completamente de rumo. Foi por isso. E prometo não explicar mais nada nesse blog.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

30 de janeiro

Acordou.
Onde eu tô? Sempre que eu durmo na minha vó acordo sem saber onde estou.
Mas eu não tenho mais 5 anos. Onde eu tô? Tá quente. Maior sol.
Tava indo pra São Paulo, amanhã é meu aniversário. 21 anos. Ontem fui na pizzaria.
Saímos 13:10 hs. Onde eu tô?
- A moça acordou.
- Onde eu tô?
- Você sofreu um acidente, moça. Lembra um telefone pra gente avisar?
- 9357-2367
Olhou pro lado, o namorado ensanguentado. Piscou e o tempo passou. Acordou, a mão ensanguentada. Cheia de cacos de vidro. Calor. Era verão e verão no interior é quente de verdade. Do lado ele gemia e uma coisa parecida com ronco.
- E minha sogra, ela também tá...
- Já chamamos o resgate, moça. Devem estar chegando. Fica calma, viu?
Piscou e o resgate chegou. Piscou e abriram a porta. Piscou.
- Vamos tirar ele primeiro.
- Ele tá bem?
- Fica calma moça.
Todo mundo mandava ficar calma e ela estava calma mesmo. Chorava lágrimas quentes e calmas. Suava com aquele calor. Ele gemendo e roncando.
- Agora vamos tirar você, você vai sentir um pouco de dor. Fica calma.
Piscou e estava dentro da ambulância, sabia pela sirene.
- Batimento 180, abre o soro.
- Tá muito alto, né?
- Fica calma que estamos cuidando de você.
- E ele?
- Não se preocupa. Parece que está tudo bem.
- E minha sogra?
- Ela foi em outra ambulância.
- Ela tá bem?
- Não sei.
Piscava e girava. Vou morrer na ambulância, manda ir mais devagar. Eu vou cair. Piscava e girava. Me segura que eu vou cair.
- Eu vou cair.
- Calma moça.
Piscou e estava no hospital. Muita gente de branco correndo com ela.
- Dói aqui?
- Não.
- E aqui?
- Não.
- Tá doendo minhas costas.
- É sua bolsa e seu sapato que estão aqui, guarda pra ela. Leva pro raio x. Depois a gente tira o colete, tá?
Piscava e girava. Piscava e doía. Piscava e esquecia. Piscava e o corredor não acabava.
- E o meu namorado?
- Ele está sendo atendido também.
Piscava e raio x. Piscava e rodava. Rodava e doía.
- Parece que tá tudo bem. Vamos tirar o colete e você vai fazer mais um raio x, tá? Acho que quebrou uma costela, mas vamos conferir sem o colete.
Tiraram o colete e cortaram a calça preferida, a blusa que ganhou de presente, o único sutiã branco. Chorou.
- Adoro essa calça.
- Fica calma moça.
- Você é enfermeira? Quantos anos você tem?
- 21.
- Eu vou fazer 21 amanhã.
Chorava de gratidão agora. De alegria e gratidão. Ia fazer aniversário amanhã. A enfermeira chorava. 21 anos. Olhou pro lado e ele estava ali, olhos fechados e cheio de sangue. Chorou.
- Fica calma, ele está bem. Só bateu a cabeça, mas tá tudo bem.
- E minha sogra?
- Não sei, só chegaram vocês dois. Ela pode estar em outro hospital.
Levaram ele embora e ela não conseguia perguntar pra onde. Injeção, curativo e mais soro.
- Esse é o paramédico que te resgatou, ficou pra ver como você estava.
- Eu tô bem. Obrigada.
- Você nasceu de novo.
- Amanhã é meu aniversário.
O paramédico chorava. Ela sorria e chorava. Precisava avisar alguém.
- Tem um celular tocando. É dela.
- Alô. Mais ou menos. Batemos o carro. Tá tudo bem, estamos no hospital. Ele tá fazendo uns exames. Ela não veio pra cá, tenta descobrir onde ela está. Eu tô bem, sim. Liga daqui a pouco, chegou um policial pra falar comigo.
- Você lembra o que aconteceu Flávia?
- Não.
- Pra onde vocês iam?
- Pra São Paulo.
- Você lembra da batida?
- Não. Como foi?
- Outro carro bateu em vocês.
- Lembra o número do seu RG?
- 297434464.
- É só isso, pode descansar.
- Você sabe da minha sogra? Ela tava no carro com a gente.
- Infelizmente...

Ela não escutava mais.

... ela faleceu, Flávia.

Não entendia mais.

... Eu sinto muito.

Ela piscou e recomeçou a girar. O celular tocava. Nada estava no mesmo lugar.
O foco estava aceso e ela não sabia o que dizer, não conhecia o texto, não tinha ensaiado. Essa porra de pesadelo de novo? Não podia atender o celular, nem abandonar o palco. O foco estava aceso e estava sozinha. Piscou querendo acordar. Tudo tinha mudado de lugar. O celular não ia parar. Não tinha texto. O foco. Ela.
- Alô.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

chega mais

Encosta sua cabeça no meu colo, colo foi feito pra isso.
Emaranha meu cabelo nos dedos, cabelo é pra isso mesmo.
Respira aqui no meu pescoço, que pescoço só serve pra isso.
Bota a mão na minha coxa, a boca na boca, a boca no peito, mão na bunda, boca no umbigo, a mão mais perto, que tudo converge pro centro. Pra dentro. Eu gosto, bobo.
E vamos ser felizes que a vida é nada, alguém já disse. E eu digo que é tudo. Eu te mostro que é tudo, é só me dar sua mão, sua boca.
Não precisa falar nada, se chegue e se aconchegue.
Eu sou a oferta do dia.
Aproveite.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Gravíssima

Grave. Ela era sempre grave.
E gostava assim, achava que dava um ar de mistério, de importância.
Na verdade não sabia que era por isso que gostava, mas gostava.
O máximo de cumplicidade que se conseguia dela era um riso no canto da boca.
Gargalhada, em casa a sós, lembrando alguma passagem engraçada. Só.
Sempre um comentário sarcástico na ponta da língua. Um gosto amargo pelas palavras.
Quando alguém não sabia se ela falava sério ou era ironia, sentia-se melhor.
Irônica. Gostava da palavra.
Agradável mesmo, não era. Mas era bonita.
E sabia que as pessoas bonitas têm um poder que vem exclusivamente da beleza.
Bela e grave. Sarcástica e irônica.
E triste. Quase sempre triste sem saber porquê.
Criava círculos de amigos ao redor, não amava nenhum deles sinceramente. Talvez um ou dois.
Pareciam todos bobos diante de tanta gravidade. Bobos da sua minicôrte.
Viam que ela tinha algo especial, mas ninguém sabia exatamente o quê.
Ninguém conseguia entender o que ela tinha de diferente, será o quê?
Uns cansavam desse mistério outros se encantavam e a turba de bobos estava em constante mudança.
Ela permanecia igual, grave. Cheia de uma importância que ninguém sabia de onde vinha.
Mas aconteceu que um dia começou a ficar feia, não se sabe porquê.
Talvez fosse a pele, o cabelo, talvez os olhos, talvez fosse o tempo.
O certo é que ela ficou feia e só. Porque gravidade sem beleza não tem mistério algum. Os bobos encontraram pessoas mais irônicas, sarcásticas e bonitas pra seguir.

Enfim aconteceu o que ela temeu a vida toda.
O mistério acabou e ela era simplesmente feia e triste.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Oração à santa periquita

Ai, minha santa periquita, santa dos casos perdidos e transas urgentes.
Me ajude. Preciso de um homem pra me fazer um carinho, me levar pra jantar, me beijar na porta de casa, enfiar a mão por baixo da saia, beliscar meus peitinhos, trepar a noite inteira, que faça serviço completo e mande flores no dia seguinte... dá pra ser? Ah, tá em falta.
Santa periquita, santa dos casos perdidos e transas urgentes me arruma pelo menos um rapaz bem servido de pinto, que seja rígido, bem disposto e que não passe mal com sexo oral, se vier com cafuné antes de dormir é perfeito. Ah... não tem também?
Olha minha santa, vou facilitar as coisas pra senhora. Me arruma qualquer coisa com pinto, nem precisa ser tão rígido, que a gente dá um jeito por aqui.
Amém!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ela é bamba, ela é bamba...

Olhava aquele conga e pensava, eu quero um bamba. Porque eu sou a menina do conga se eu nasci pra ser bamba? Sabia, no fundo, que tinha muito menos do que merecia. E uma timidez de se saber assim.
Aprendera desde sempre a estar satisfeita com o que tinha. Afinal, comida nunca faltou. Mas conga? Estava sempre ouvindo que não podia ter tudo que queria, o mundo é assim mesmo, é bom você se acostumar. Mas conga? Era mais do que podia aguentar.
Numa das noites em que chorava pelo conga teve uma idéia, uma dessas idéias boas que nos fazem dormir tranquilos. Os dias do conga estavam contados.
No dia seguinte foi feliz e saltitante pra escola, cantando a musiquinha que tinha inventado pra essas ocasiões, eu vou, eu vou, pra escola agora eu vou, parará tim bum, parará tim bum, eu vou, eu vou, eu vou, eu vou... Tinha tudo planejado e a certeza que aquele era o último dia do conga tornava o suplício de usá-lo quase em prazer. O próximo passo era conseguir um bamba.
Durante toda a aula distraía-se com seus planos para o conga, seu futuro com o bamba e sentia que sua vida seria bem mais fácil daquele dia em diante, finalmente ia ter o que merecia. A professora elogiou sua tarefa, parabéns não tem nenhum erro. E ela sentia-se mais que nunca a menina do bamba.
Na hora do recreio comeu a merenda bem rápido e foi pro parquinho, subiu no trepa-trepa que era o seu brinquedo preferido, se perdeu e se achou várias vezes naquele labirinto em que se brincava sozinho. Antes do recreio acabar queria brincar na gangorra, o segundo brinquedo preferido. Encontrou uma colega partidária da gangorra, subiram e desceram e sentiram aquele frio na barriga e riram daquele jeito que se ri quando se sobe e desce na gangorra, riso solto que faz cócegas no nariz. E o sinal tocou porque era hora de voltar pra aula. Voltou correndo pra sala naquela euforia de quem acabou de descer da gangorra. Tinha esquecido do conga.
Enquanto a professora falava sobre o b com a, ba, b com e, be, uma dessas coisas bobas e óbvias ela lembrou-se dos planos. E percebeu sem querer que o conga tinha sido seu companheiro de parquinho pela última vez.
A hora de ir embora se aproximava e a professora c com a, ca, c com e, ce... e ela pensando no que faria com o conga. Seu coração acelerava.
Deu o sinal e todos saíram correndo, menos ela, porque ela carregava o peso da sua resolução. Decisões não são fáceis de tomar, mesmo quando necessárias, além do mais ainda não estava acostumada a decidir nada. Respirou fundo e foi.
Foi embora sozinha, a casa era perto e já aprendera o caminho há um certo tempo. Já tinha tudo tramado, ia abandonar o conga no terreno baldio perto de casa e falar pra mãe que o tinham roubado. O terreno era cheio de mato, ninguém nunca ia descobrir. Estava satisfeita com sua idéia.
Andou os últimos passos do conga até o destino final, apoiou o pé na calçada pra desamarrar o cadarço, puxou o lacinho pronta pra se livrar daquele peso e, e... olhou pra ele e, e... coitado. Não conseguia imaginá-lo ali sozinho, sem um pé pra calçá-lo, no meio do mato, no escuro. Pobre conga, só tinha a ela. Ela não gostava mesmo dele, mas... E o bamba? Enquanto tivesse o conga nunca teria o bamba. Que difícil decidir. Queria o bamba, merecia o bamba, fôra feita para o bamba, optava pelo bamba. Desatou os cadarços e descalçou o conga que ficou lá, murchinho. Correu até em casa, ofegante.
No portão lembrou-se que teria que explicar pra mãe sobre o fim do conga, a mentira estava na ponta da língua. A mãe ia ficar preocupada com o assalto, você está bem, não levaram mais nada? Será que ia acreditar?
Não gostava de mentir e ia se sentir mal se a mãe ficasse preocupada, era assim, sempre culpada. Se a mãe não acreditasse então, ia morrer de vergonha, sem contar que ia ficar de castigo. Pensava olhando o portão fechado. Pensava e pensava e.
Voltou correndo e torcendo pro conga ainda estar lá, de repente parecia que ele ia sumir. Correu o mais rápido possível e quando chegou no terreno baldio viu, com o maior alívio que já tinha sentido, que ele continuava lá. Nem calçou o conga feio, abraçou-o e voltou pra casa descalça e feliz, que afinal não era menina de abandonar o conga assim.
O bamba? Bem, tanta gente tinha um bamba sem merecer e ela sabia que merecia um bamba mais do que ninguém. Enquanto ia pra escola saltitante e cantante pensava nisso e se sentia satisfeita por ter classe de bamba mesmo calçando conga.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

des/combina

Ah... você fuma?
Às vezes.
Não combina com você.
É mesmo?

Calaram. Um olho no olho do outro e viram quanto não se conheciam.
Talvez não combinasse mesmo, mas o fato é que fazia coisas que não combinavam com ela. Buscava descombinações, ávida. Ele também não combinava. Ávida.
Ele, por outro lado, era todo combinado. Mais por hábito que por talento, no fundo era meio descompassado. Ela não combinava com ele e, no entanto. Outras tantas combinavam e, no entanto.

Olha como minha mão tá gelada.
Assim fico com calor.

Nada combinava e, no entanto, ela se abanava.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Época de milho

Lembro que tinha a época do milho. Em determinada época do ano a horta se enchia milagrosamente de altos pés de milho e suas bonecas. Pra quem não sabe o que é boneca, são as espigas ainda novas que têm o cabelo comprido e sedoso. Eu amava as bonecas, tinha boneca ruiva, castanha e loira, que eu gostava mais porque combinava com meu cabelo. E minha vó gritando, não arranca todas espigas, menina! Quando a gente já tava enjoando das bonequinhas, era porque estava chegando a hora de colher as espigas e começar uma nova fase. A fase de comer milho.
E tinha milho de tudo que é jeito. Milho assado no fogão de lenha, cozido, refogado, bolo de milho assado na folha de bananeira, curau, pamonha e sei lá mais o quê. Sei que minha vó passava o dia ralando milho pra fazer curau, pamonha e bolo. E não tinha processador não, era ralador mesmo, um que meu avô tinha feito anos atrás, que se pegasse o dedo... ai.
Esse curau que tem no carrinho de milho de rua não tem nada a ver com aquele, feito com milho verde de verdade e leite direto da teta da vaca. Aquele sim era bom, e o cheiro eu nunca vou esquecer. A nata que se formava em cima era motivo de diversão, a gente fazia um buraquinho com a colher e soprava até fazer uma bolha que crescia, crescia... até explodir e sujar a mesa. E minha vó, toma cuidado que tá quente, vão se queimar. Não toma curau quente e água gelada que dá dor de barriga. O resto do curau que a gente não aguentava tomar ia pra geladeira pra endurecer, depois ela cortava em pedaços. Eu nunca comia depois de gelado, só gostava enquanto tava quente.
A gente enchia o saco da vó pra assar uns milhos o dia inteiro, ela sempre ocupada com os afazeres da casa e do milho botava a molecada pra correr, mas depois colocava umas espigas de surpresa na brasa do fogão e chamava a gente quando já tava quase pronto, aí era só passar manteiga e assoprar um pouco pra esfriar, nham nham.
Mas não era só o milho que tinha época, tinha a época da jabuticaba que coincidia com a da pitanga, a época da manga, da goiaba, do abacate e assim por diante. Todas épocas eram boas, quando a gente estava enjoando do milho ele acabava e começava outra época, a da jabuticaba por exemplo. E nós migrávamos da horta e suas bonecas pro poleiro do pé de jaboticaba onde passávamos nossos dias.
Era assim que a gente percebia que o ano estava passando, nossa já chegou a época da manga! Vamos comer manga verde com sal que ela demora muito pra madurar. E a época da manga coincidia com a época do natal em que os leitõezinhos eram o prato principal, eu sofria com os gritos dos pobres animais assassinados e jurava que não ia comer esse ano, mas todo ano eu comia porque sempre adorei um leitão assado.
O tempo passava mas a gente não tinha pressa, aproveitava cada época até enjoar e quando enjoava começava outra.
Hoje tem curau todo dia em qualquer esquina, tem manga no supermercado o ano inteiro, assim como goiaba e tudo o mais. Não sei como fizeram pra acabar com as épocas, mas foi uma pena. Hoje tem tudo que eu gostava o ano inteiro, mas eu não como mais nada. Hoje não vejo mais boneca de milho. Hoje minha vó não levanta mais da cama, nem sabe muito bem em que época estamos. Hoje eu penso que não sei como será ter meus filhos, se o que eu sabia sobre as épocas não vale mais.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Calendário

Continuo medindo o tempo pelo número de baratas mortas pelo chão e seu grau de decomposição.
Inseticida?
Ia perder a noção do tempo, mata tantas a cada vez. Ou teria que varrê-las de quando em quando.
Assim já me acostumei, cada barata uma chinelada. Três a quatro chineladas por noite.
E durante o dia elas se divertem com a gata.

Não se pode afirmar.

Estou achando muito interessante a apuração dos fatos no acidente da TAM. Todas as digníssimas autoridades que se pronunciaram até agora concordam em uma coisa: não se pode afirmar nada antes de concluídas as investigações.
No entanto, cada um tratou de tirar o seu da reta.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas a pista de congonhas estava em plenas condições de funcionamento.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas o airbus da TAM estava em plenas condições de uso, apesar do reversor direito não estar funcionando.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas esse acidente foi uma fatalidade que nada teve a ver com a crise aérea do país.
Não se pode afirmar nada e, no entanto afirma-se muito.
E o assessor Marco Aurélio Garcia festejando o defeito do avião, pensando e demonstrando: se foderam! tomaram no cú! tirei o meu da reta!
Levando em consideração tudo que eu ouvi até agora, a única coisa que se pode afirmar é que cada um vai lutar até o fim pra tirar o seu da reta também. Não interessa saber quais os fatores que contribuíram pro acidente, não interessa dissecar o problema porque a gente ia descobrir que sobra culpa pra todo mundo e isso pediria uma solução drástica. Importante é tirar da reta e garantir o emprego, a próxima eleição, os altos salários. E as mais de 200 vidas perdidas? Bom, eles já foram mesmo...
Pois é, eles se foram e a maioria deles nem poderá ser identificado ou sepultado inteiro.
Qual o nível de endurecimento dessas pessoas que continuam se negando a admitir a crise e resolvê-la? Quantos precisam ser carbonizados, desmantelados, triturados e nem quero pensar mais o quê, pra se pensar em soluções que visem não o lucro, não votos, mas as vidas das pessoas?
Sei que são muitas perguntas e ainda não se pode afirmar nada, mas gostaria que aparecesse alguma resposta séria em algum momento.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

.

Cair.
Do alto.
Do salto.
De sobressalto.
Mas eu não tô preparado...
Mas eu não tô...
Mas eu...
Mas...
M...
...
.

É...

Hoje tá difícil respirar sem suspirar. Não tem muito o que dizer.
tragédia anunciada+chuva+frio=flávia triste.
Não há medalha de ouro que dê jeito.
É... como diria Millôr.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Coisa de mulherzinha

Sabe o que é gostoso? Sair de turminha de mulher. É uma coisa que fazemos muito na adolescência e depois paramos.
Quando saímos de turminha algumas coisas são indispensáveis. Uma delas é trocar de roupa juntas, uma dando palpite na roupa da outra. O passo seguinte é a maquiagem, mais uma vez cheia de palpites. Uma passa o perfume da outra, troca um casaquinho, dá o último pega e sai, quase sempre atrasadas.
Na balada, que normalmente é boa pra dançar, bebemos juntas, muitas vezes o mesmo drink, esperamos na fila do banheiro juntas. Não entramos juntas no banheiro não, que eu não consigo mijar com alguém olhando. Dividimos opiniões sobre gatinhos e barangas, maltratamos os bebuns, dançamos juntas fazendo charminho, dançamos até acabar a música. E vamos embora trôpegas, xingando quem mexe com a gente na rua.
É só isso e é bom pra caralho.
Às vezes eu me sinto meio tia, e acho que sou tia mesmo, porque nem sempre fico confortável nessas situações. Não sei mais aceitar palpite na roupa, nem maquiagem, não sei mais dançar em dupla ou trio. E lembro que quando tinha meus 18 anos ficava reparando nas tiazinhas que dançavam de um jeito meio esquisito e ria até. Eu e minha turma adolescente. Hoje a tiazinha sou eu.
Mas tem dias, ou noites, em que eu esqueço minha condição de tia e topo sair de turminha, só de mulherzinha e vou te dizer: me divirto!
Nada como uma noitada dessas pra aliviar os dramas tão adultos, chatos e sem solução.

Da série grandes mistérios da humanidade

Por que porra tem cheiro de cândida?
E por que vira cola quando mistura com água?
Por que meu deus? Por que?

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Guarda lugar pra mim?

Se tem uma coisa que me irrita é esse negócio de "guardar lugar". Você chega pra almoçar no kilo e tem várias bolsas, carteiras e crachás sentados.
Por que as pessoas tem essa loucura de se antecipar e ocupar um lugar que ainda não estão precisando? Quanta ansiedade.
Aí, você que já pegou sua comida e realmente precisa de um lugar pra comer, fica em pé procurando um lugar que não esteja ocupado por nenhum objeto.
Será que é tão difícil compreender que daqui a 2 minutos quando a pessoa terminar de pegar sua comida alguém vai estar terminando o almoço e se levantando da mesa?
Porque convenhamos que ninguém fica batendo papinho no kilo. E guardar lugar é resquício da infância quando guardávamos lugar pro nosso coleguinha na hora do recreio.
Como diria uma amiga: Pronto, falei!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Perigo

Que mulher é um perigo, todo mundo já sabe. Agora, mulher de tpm, sem dinheiro, solteira e em processo de análise é caso de segurança pública.
Explico. Lá pras bandas da minha casa num fim de tarde desses aí, uma jovem senhora na faixa dos 20 anos e com todos os pré-requisitos acima foi assaltada. Quer dizer, sofreu uma tentativa de assalto.
O desavisado e desarmado meliante chegou intimando - isso é um assalto, passa a bolsa. O que ele não sabia era que aquela mocinha tão magrinha e bonitinha era uma fera esperando a oportunidade de atacar alguém. Se a vítima fosse homem e vagabundo, tanto melhor.
Dizem que ela agarrou o braço do rapaz e começou a gritar - ah, você quer minha bolsa? eu não te dou minha bolsa seu safado, some daqui! vai trabalhar - e essas coisas que a gente diz (ou não) durante um assalto.
Tem uma outra versão, que diz que ela espancou o moço com a bolsa, objeto de desejo, e ele saiu correndo e pedindo socorro. Ele gritava - chama a polícia, essa mulher é maluca! Socorro!
Tem ainda uma terceira versão que diz que o assaltante não sobreviveu, mas acho que é exagero.
Enfim, o que eu queria dizer com essa história é que às vezes estar na merda pode te salvar. Se a moça estivesse feliz da vida, provavelmente tinha entregue a bolsa pro assaltante. Mas ela tava puta, enfezada, de tpm e foi isso que a salvou. Porque a bolsa de uma mulher tem basicamente tudo que importa nessa vida, identidade, cartões, dinheiro, guarda-chuva, celular, o melhor gloss e o melhor rímel. Sem contar que aquela bolsa combinava com tudo.
E tem mais uma coisa, pense bem antes de mexer com uma mulher enfezada. Se ela espancou um marginal imagina o que faria com você.

Fim de caso

Uma coisa que me intriga é aquela choradeira de fim de relacionamento. É uma tristeza sem fim, um chororô, depressão, overdoses de aspirina, bebedeira... e por aí vai, de acordo com o gosto do cliente.
Pra quê tudo isso? Gente, como dizia minha avó, ninguém morre de amor. A não ser os suicidas, mas os suicidas são uma categoria à parte, como diria o velho Durkheim ( hoje tô cheia de referências confiáveis)
Aí, a gente faz aquela baixaria, chora na frente do porteiro, liga pros amigos às 3 da manhã, mobiliza a família, toma uns porres, sai agarrando uns adolescentes na balada, dias e mais dias de ressaca moral. E o que acontece?
Acontece que passa. Depois de uns meses ninguém lembra mais porque foi tudo aquilo. E o que fazer com as lembranças das baixarias? Ignorar. Sim, ignore na maior cara de pau, faz de conta que não foi com você. E se alguém tiver a desfaçatez de perguntar diz que foi possuída por uma força estranha, fala que devia ser macumba daquele desgraçado.
Agora, outra coisa que me intriga é como é que passa? Aquele amor que você tinha certeza que era o maior do mundo, simplesmente passa. Tá certo que ele fez um monte de merda, tá certo que toda sexta-feira era dia de pizza, tá certo que você tinha que cortar as unhas do pé dele, tá certo que ele nunca lavava a louça, tá certo, tá certo. Mas a questão é que parecia que era O CARA. Parecia que nada ia abalar aquele amor, que era possível entender qualquer defeito, e toda aquela baboseira de novela. Como é que a gente passa dessa fé inabalável no amor romântico pra indiferença absoluta? Sei lá. Mas as duas coisas são boas( e viva o otimismo).
É gostoso encontrar um amorzinho que dá aquele calor, que preenche suas noites solitárias, que te faz pensar em morar de novo com alguém, etc. Mesmo sem entender porque, foda-se o porque. O que interessa é que é bom.
E arrisco dizer que é melhor ainda você conseguir se livrar completamente daquele chato que não ama mais. No começo dói um pouco, mas depois vai que é uma beleza, nem precisa KY. E liberdade nunca fez mal pra ninguém, não é minha gente?
Minha vó que não se conforma, diz que eu sou solteirona e já passei da idade de casar, que marido é tudo ruim e que eu tenho que escolher logo qualquer um. A coitadinha tá esclerosada, não enxerga nem escuta mais ninguém, mas quando eu chego vai logo perguntando se arrumei um noivo. Pois é vó, não arrumei ainda mas tô feliz assim. Não se preocupe.
E vamos por aí, catando um gato aqui e um sapo acolá. Se vou casar com qualquer um como sugere minha avó é cedo pra decidir, por enquanto estou satisfeita com meu status de mulher solteira.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Conta outra

Alguém acredita que o atorzinho da malhação queuenemsabiaqueexistia pegou 2 travecos por engano? E foram bonzinhos com a prostituta oferecendo 50tão, por serviços não prestados?
Como se diz em carioquês: fala sério!
Essa é mais uma da classe média desocupada e amoral. Lembra do entediado Marquês de Sade promovendo orgias no séc. XVIII? Tá super na moda, benhê.
Os 120 dias de Sodoma não acabam mais.

Tenha fé

Uma coisa que me intrigava muito a respeito de religião, quando eu ainda tinha, era como ter certeza que minha religião era a certa. Porque o que eu entendia era que a minha religião era a única certa no mundo, que seus seguidores eram especiais e escolhidos pelo todo poderoso. Até aí, melhor pra mim... mas e o resto das pessoas? Elas também acreditavam que suas religiões estavam certas, elas não seguiam a religião errada de propósito. Elas mereciam se foder no além? Essas questões perturbavam meus devaneios filosóficos infantis.
Outro pensamento derivado desse que me atormentava, era que deus devia ser bem malvado pra deixar tanta gente desinformada morrer sem direito de frequentar o paraíso. Sem contar os índios coitados, que foram todos pro inferno sem sequer ouvir falar de deus! Mas minha religião me ensinava que deus era só bondade e amor... parece confuso, mas explico: ele era tudo isso só com os filhos que o amavam e seguiam a cartilha certa.
Pra fechar essa questão de dúvidas existenciais e divinas, tinha o problema da fé. A fé nesse caso é substituta de argumento, cada vez que eu perguntava: como vou ter certeza que minha religião é a certa? Eu ouvia: você deve ter fé. Mas, veja bem, as outras pessoas também têm fé em outra coisa... Recebia de volta aquela expressão meio compreensiva, meio repreensiva. E lá vinha a história de Adão e Eva que comeram do fruto da árvore do conhecimento, a despeito das recomendações divinas, e foram expulsos do Éden. E entendia que devia ter fé e guardar meus pensamentos pecaminosos pra mim e rezar pra deus não estar prestando atenção. Porque ainda por cima ele tudo sabe e tudo vê.
Resumo da ópera: tenha fé, não pense demais nem questione, siga as regras ou pode acabar no inferno. Fala sério, não dá pra ser feliz assim! Daí que eu desisti desse negócio de ir pro céu, de ficar com medo dos pensamentos, de me segregar do resto do mundo, de sentir pena dos índios que foram pro inferno e etc. Daí que mandei deus às favas e resolvi inventar meu caminho. Daí que é difícil estar solta no mundo. Daí que é gostoso trepar antes do casamento. Daí que é essencial usar camisinha. Daí que acho que os gays têm direito de existir. Daí que tenho valores.
Infelizmente o que sobra disso tudo é a culpa, a única coisa que ainda não perdi é essa culpa desgraçada, mas as coisas aprendidas na infância, tanto as boas como ruins, são difíceis de mudar mesmo. Mesmo quando a gente sabe que são tolices.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

E por falar nisso...

Lembrando de coisas que mãe não aprova, lembrei que até bem pouco tempo eu não falava palavrão em público. De vez em quando um filha da puta, mas só.
Então fiquei pensando, de onde saiu esse bloqueio? Aí lembrei de quando eu tinha uns 6 anos e bem na frente da escola tinha um muro onde estava pichado BUCETA. Euzinha na pureza dos meus 6 anos e pouca leitura fui perguntar pra minha mãe o que queria dizer.
Ela explicou: é um jeito muito feio de falar florzinha, vc não deve falar essa palavra feia. Promete?
Prometo.
E cumpri a promessa por vários anos, afinal nunca quis decepcionar a mamãe.
Até que chegou um momento da minha vida que eu precisava botar os palavrões todos pra fora. Abri as comportas e não parei mais, agora eu falo todos.
Falo cabaço, que sempre odiei e nem sei se é palavrão. E xoxota, também não gosto mas falo adoidado. Uma opção que curto pra xoxota é xana, acho mais natural. E tem PORRA que sempre foi meu sonho poder dizer à vontade.
Mas tenho meus preferidos. Pra xingar quando bate o dedão na quina é BUCETA.
E pra qualquer coisa boa ou ruim é CARALHO. Esse é sem dúvida o palavrão mais versátil. É do caralho!
Pra nomear o dito cujo gosto muito de pau, cai bem durante o ato. Pinto é tão espontâneo que dá vontade pegar logo de uma vez. Já bilau é broxante, assim como bráulio, blargh! Chupa meu bilau?! Péssimo.
Hoje em dia falo palavrão até perto da minha mãe, ela continua pura nas palavras mas não se incomoda mais comigo.
Ela entendeu que minha florzinha virou buceta faz tempo.

Masoquista

A dor. Ai a dor é uma delícia.
Me lembra que estou viva. Me acorda.
Minha moleza só se mexe na dor.
Ai de mim!
Queria tanto encaixar essa frase em algum lugar.
Tipo assim: Que ônibus lotado! Ai de mim!
Queria fazer uma tragédia pra dizer o tempo inteiro:
Ai de mim.
Ai como dói. Tem dores que doem mais.
Tem dor que dói tanto que me faz escrever.
Tem dor que me faz morrer.
Tem até dor que me faz trepar.
Tem dor pra tudo.
Ai de mim! Desgraçada que sou...
Minha mãe nunca me deixou falar desgraçada
E eu sempre adorei essa palavra
Ô desgraça!
Que dor desgraçada!
Ai de mim!
Ai que delícia...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Pára senão atiro

O pai atirou no próprio filho pensando que fosse um ladrão.
O filho, que costumava dormir cedo, chegou da balada e forçou a porta pra não ter que acordar os pais. O pai acordou e recebeu o intruso a balas. Era o filho, que morreu antes de chegar ao hospital. Agora o pai está sedado e já tentou suicídio 3 vezes. Deve ser bem mais fácil morrer do que sobreviver depois disso.
Pode ser implicância minha, mas não me espanta que o tal pai fosse PM. E uma coisa é certa, ele se sentiu no direito de matar quem ousou abrir a porta de sua casa.
E aí ele aprendeu que vale a pena pensar um pouco antes de atirar em alguém.
Aliás, será que vale a pena atirar em alguém?

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Acesso restrito

A porta se fechou, sinto muito.
Esteve aberta por tanto tempo e você entrou e saiu quando quis.
Precisava sair batendo a porta? Precisava entrar aos pontapés?
O acesso era livre.
Agora vou botar uma placa em letras de fôrma vermelhas:
Acesso restrito
Somente pessoal autorizado.

Um pedaço de história

Finalmente chegou o dia em que meus peitos começaram a crescer e eu que queria muito isso, de repente passei a sentir pavor de que eles não parassem mais de crescer e todo mundo visse e todo mundo via mesmo e eu torcia pra todo mundo continuar fingindo que não via nada. Eu mesma fingia que não via mas minha mãe que nunca foi fingida enchia meu saco pra eu usar sutiã e eu queria morrer antes de pensar em comprar o dito cujo e ter que ir pra escola com ele como minha mãe queria. Todo dia eu chorava e torcia pra naquele dia minha mãe esquecer de tocar no assunto dos meus peitos que eu não tava preparada nem pra olhar pra eles ainda, muito menos pra falar sobre eles. Mais ou menos nessa fase os pentelhos também apareceram e eu sempre odiei essa palavra pentelhos mas nunca encontrei palavra que definisse melhor o que eles são, enfim, os pentelhos apareceram mas não me incomodavam tanto porque ninguém via mesmo, só eu via até com certo interesse e orgulho que o anonimato me permitia sentir, ao contrário dos peitos que não eram nem um pouco anônimos. Mas um dia o drama dos peitos teve fim assim como têm fim todos os dramas e eu fui a uma loja e comprei o bendito sutiã e comecei a usá-lo mesmo com vergonha. Alguns anos depois assumi os seios e hoje eles fazem o maior sucesso, mesmo sem sutiã.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O segredo

O que traz felicidade? Se eu soubesse a resposta ia escrever um livro de auto-ajuda ou gravar um dvd, ou as duas coisas, e ficar rica. Eu sou feliz, mas não sei porque. Pra começo de conversa eu sou um fracasso assumido, o que me livra de muita ansiedade.
O sucesso é muito valorizado. Quando me perguntam: o que você anda fazendo? Eu sei que é uma armadilha, só pra confirmar que eu continuo sendo um fracasso. E eu morro de vergonha e ódio de responder que continuo na mesma, trabalhando, pagando aluguel, namorando o mesmo safado de sempre, correndo atrás...sabe como é... Mas é isso mesmo que eu respondo, afinal é verdade e apesar disso eu vou bem, obrigada.
Mas se eu estou bem não importa, o que importa é o sucesso.
E o que é sucesso? De acordo com o padrão, sucesso é: ter graduação, pós-graduação, um bom emprego, dinheiro, casa própria, câmera digital, i pod, viajar, falar no mínimo uma segunda língua, ter carro zero, tv de plasma, amante, plano de saúde, ser magro, jovem, gozar todo dia no mínimo, entre outras coisas. E sabe o que é engraçado? Por incrível que pareça isso tudo não traz felicidade pra ninguém.
Eu não tenho sucesso, não tenho nenhuma das coisas nessa lista. Eu abandonei a faculdade, fiz um curso de teatro, trabalho como recepcionista, ando de ônibus, moro numa quitinete e pago aluguel, enfim, vivo só com o básico. Mesmo assim eu consigo ser feliz, às vezes. A sensação de ser um fracasso tá sempre me rondando, porque eu sempre tive aquela “lista” do sucesso na cabeça. Até o dia que eu percebi que essa lista não me interessava e minha vida tava uma merda. Deixei tudo pra trás e fui buscar outras coisas. Mas a lista continua lá, registrada e me fazendo sentir fracassada. Meu pai ainda sente falta daquele futuro de sucesso que eu abandonei... Eu não sinto.
Mas eu comecei falando sobre felicidade... e não sei o que traz felicidade, mas sei o que não traz. Esse sucessinho mixuruca aí, não traz. É um monte de mentira inventada pra vender, pra me convencer que não serei feliz sem ganhar e principalmente GASTAR muito. É um monte de merda, e construir a vida baseada em um monte de merda não vai me fazer feliz mesmo.
Eu sou feliz apesar de fracassada. E o que vier é lucro.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Paris

Eu ia escrever sobre a Paris Hilton, mas desisti. Chega de meter o pau nessas pessoas, as celebridades que se explodam.
Não me interessa se ela vai mudar de vida ou não. Ela que cuide da sua vida enquanto eu cuido da minha.
Ia falar de como essa cultura das celebridades é vazia, e blá blá blá. Mas já falei disso, todo mundo fala disso e quanto mais a gente fala mais alimenta o assunto. Chega desse assunto pra mim!
Adeus Paris, não quero saber se você é uma nova pessoa. Vá com sua nova pessoa pro inferno! Eu também sou uma nova pessoa, uma pessoa que não lamenta, nem reclama do mundo por aí, mas uma pessoa que faz diferente. Vou fazer diferente e não falo mais de você! Tenho assunto mais interessante, até eu sou mais interessante. Porque eu sou uma pessoa de verdade e conheço algumas pessoas que também são de verdade e verdadeiramente interessantes.
Adeus Paris, Britney, Lindsay, etc. Espero que vocês acordem qualquer dia desses.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

O mergulho - parte II

Abandona a margem e se lança na água,
De vez.
Não sabe nadar, nem tem medo.
Mergulha fundo.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O mergulho

Eu mergulhei.
Dentro de mim e não me achei.
Ou será que errei?
Mergulhei fora de mim e me vi lá.
Acenando da margem.
Mergulhei na água e sumi.
Nunca mais voltei à superfície.
Mas a água era lama escura.
Dentro de mim abismo e fora o vácuo.
Mergulhei ou fui sugada?
Agente ou passiva.
Nem sei onde estava no início.
Mergulhei no precipício do não sei.
Não, eu mergulhei pra dentro.
De mim, da água, do vácuo.
Fundo na lama.
Eu mergulhei e não voltei.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Assassinos, suínos e outras histórias...

Fui ver essa peça aí no sábado. Adorei.
Antes de assitir qualquer peça pergunto por aí o que está rolando a respeito. Nesse caso, me falaram que a peça era engraçada, mas era mérito da direção e atores, porque o texto era ruim. O texto é do Jarbas Capusso. Na verdade eu nunca acredito nessas críticas, só quero saber da opinião geral pra confrontar com a minha.
Adorei o texto. São dois assassinos profissionais que foram contratados pra matar um morador da praça Roosevelt, a peça já começa com os dois no apartamento do cara, que está amarrado. Desde o início você imagina que a peça vai acabar com a morte do cara. E o que eles vão fazer nesses 40 min de espera? Isso me intrigou logo no começo. É simples, eles conversam. Nesse papo você descobre que são amigos e sócios, um deles é espiritualizado, faz terapia e é romântico. O outro é mais racional e sua mulher virou evangélica, portanto não faz mais boquete e o casamento está em crise. O romântico teve a ajuda do colega pra matar a namorada, cujo corpo está no porta-malas. Eles vão ao batizado da esposa evangélica depois do serviço. E por aí vai... são pessoas (quase) normais conversando. Mas o que mais gostei é que a conversa é fragmentada, um assunto é interrompido por uma dor de barriga, uma manifestação da vítima, uma lembrança, uma discussão, o acaso, enfim não é aquela coisa certinha. É uma conversa de verdade.
Os atores estão super bem, o Guizé é sempre bárbaro, o Edu Chagas também e tem o João Fábio que eu não conhecia atuando. Estão bem mesmo, tem uma construção um pouco over, quase caricatura mas que funciona e ao mesmo tempo tem muita verdade. Acho que o dedinho da direção amarra bem essa loucura toda. Enfim, juntando tudo deu um bom caldo.
Estava um pouco cansada das histórias da Praça Roosevelt, eu gosto mas tem hora que dá no saco. O maior mérito dessa história é que é engraçada sem deixar de ser séria. Provocante. Adorei o final, mas não vou contar, vai que alguém lê essa minha crítica.
E pra quem disse que o texto era chato, aí vai: eu discordo, você que não entendeu.
Entendeu?

PS: Não quero roubar o público do blog do Sérgio Salvia Coelho, portanto não vou me especializar em críticas.
PS2: O Sérgio Salvia Coelho não é meu parente.
PS3: Eu adoro as críticas dele, só ele me entende.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Ela chupava

Ela chupou o dedo até os 7 anos.
O dedão, também conhecido como polegar, da mão direita.
Parou porque a mãe a convenceu que aos 7 anos já era uma mocinha, e que na primeira série ninguém mais chupava. Ela acreditou.
No início não foi fácil, a vontade era muita. E de tudo usou-se, principalmente pressão psicológica, porque os pais achavam que pimenta era agressivo demais.
- Seus dentes vão ficar pra frente - e não faltavam exemplos de dentuços.
- Os meninos vão rir de você - eles riam mesmo.
- Você tem que crescer - e um dia ela cresceu. Será?
Mas a medida mais eficiente foi uma gaze enrolada no tal dedão, dia e noite. Tirava pra ir à escola e tornava a pôr ao chegar em casa. Ficava impossível chupar assim.
E como já não chupava nunca, foi se acostumando com aquele novo não hábito. Um dia não precisou mais da gaze. Já não chupava, nem mesmo a noite enquanto dormia.
O que a mãe esqueceu, talvez por ser menos vergonhoso, é que ela também tinha o hábito de se pegar às orelhas. Chupando o dedo e pegando a orelha sempre, a sua própria ou de algum desavisado que estivesse por perto.
Daí, que continua a pegar orelhas até hoje (já tem quase 30), incontrolavelmente. E é tão bom, aliás é delicioso. Ela geme e aperta sem parar, até que a orelha fique exausta. É um prazer inexplicável.
Ela ainda chupa algumas coisas: pintos, cigarros e garrafas. Chupa com prazer sim, mas o prazer de encontrar uma orelha macia e geladinha ainda é incomparável.
Ah, a mãe se esqueceu desse detalhe... ainda bem.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Estréia

Não sou do tipo moderna, sou mais pra retrô... pra não dizer ultrapassada.
Não uso a roupa que está na última moda, mesmo que eu goste. Acho o ó sair na rua e encontrar clones de mim. Prefiro esperar a moda passar e usar no ano que vem.
Não frequento a balada que é a última moda (a não ser que role um vip), prefiro um barzinho das antigas perto de casa.
Moro no Copan, que apesar de ter arquitetura moderna é velho pra caralho, e adoro o clima de lá.
Não é que seja contra coisas novas, é que gosto de ver o que fica de verdade, o que vai permanecer com o passar do tempo. E principalmente o que importa pra mim, e pra isso preciso de um tempo.
Tudo isso pra explicar porque fui inventar de criar um blog agora. Afinal é quase uma antiguidade no mundo digital (veja second life).
Simplesmente porque eu sou assim mesmo, meio teimosa.
Não quero fazer aqui um diário da minha medíocre vidinha, aliás esse caráter de diário sempre me afastou de blog, mas falar o que penso e postar as coisas que escrevo.
Não prometo que não haverão idéias medíocres, mas ao menos serão idéias.
Não prometo que vou postar tão frequentemente, porque às vezes as idéias faltam e às vezes são canalizadas pro meu trabalho de atriz/compositora.
Pra não ficar a impressão que sou reacionária, esclareço que adoro a liberdade de expressão que a internet proporciona, só não gosto da leviandade com que essa liberdade é usada, não gosto de leviandade em ambiente algum, aliás. Mas ADORO e sou defensora da liberdade e criatividade por todos os meios, inclusive digital.
Viva a liberdade de expressão!!! Parece assunto antigo, mas brigar por liberdade continua sendo super moderno, na medida em que ainda não a conquistamos.
É isso aí minha gente! Espero que alguém me leia e comente. Please comentem! Eu morro de medo de fazer festa e ninguém aparecer, é algum trauma de infância.

Beijos sempre.