quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Ponto de ônibus

Tem poucas coisas mais chatas do que ponto de ônibus, afinal nele a gente espera e esperar é uma coisa muito chata, pelo menos pra mim. Infelizmente eu passo por esse tormento todos os dias, espero em média 20 min por um ônibus normalmente lotado.
O meu ponto de ônibus é na 9 de julho, parada INSS, quem já esteve lá sabe que não é um local confortável, fica no meio da 9 de julho e nem tem banquinho pra aliviar a espera.
Todo dia fico torcendo pro meu ônibus passar logo e hoje esperei uma meia horinha, motivo de sobra pra eu ficar irritada. Eis que estava mal-humorada, provavelmente com a cara amarrada, quando uma senhora começou a falar comigo. Pra começar eu nem tinha visto quem estava do meu lado, tomei um susto quando ela começou a falar.
- Sabe que eu acho você muito bonita?
- É mesmo? Obrigada.
- Você sempre pega o vila olímpia, né?
- Pego.
- Ontem mesmo eu tava comentando em casa como acho você bonita, as pernas bem torneadas... outro dia você estava de vestido, fica bem, viu? E tem o rosto muito bonito também, não usa muita maquiagem, tá sempre arrumada. O pessoal de casa perguntou se você poderia ser modelo e eu disse que achava que a idade não dava mais.
- É, realmente não dá.
- Olha, eu não sou sapatona, não! É que gosto de ficar observando as pessoas no ponto de ônibus e sempre vejo você aqui. Você é bonita mesmo, viu? Esse é meu ônibus, tchau!
- Tchau, obrigada.
E eu fiquei com cara de tacho e vermelha, claro. Não sabia o que dizer praquela senhora tão simpática e bem disposta, ela me via sempre, até no vestido ela reparou e eu nunca a tinha visto ali. Talvez não me lembre do rosto dela se a encontrar amanhã, tomara que eu lembre porque ela merece. Eu que não mereço muito que ela olhe pra mim, sempre fico mal humorada e preocupada com o horário, eu sou atriz e não observo ninguém no ponto de ônibus, eu sou jovem mas não tenho disposição pra ficar de conversa com desconhecidos, dentro do ônibus fico irritada e olhando pela janela quando alguém tenta puxar papo. Sou uma chatona contaminada pelo frenesi da vida moderna, apressada e indiferente. Odeio admitir, tento evitar, mas sou assim.
Mesmo que amanhã eu não me lembre do rosto da tal senhora, mesmo que nem tenha perguntado o nome dela, mesmo que eu continue sendo idiota vou lembrar do que ela fez por mim. Por culpa dela meu dia começou bem, fiquei animada com os elogios despretensiosos e com o bom humor dela.
E mesmo que nunca tenha comentado sobre ela em casa, fica aqui minha homenagem.

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