quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fome e arte

Ontem fui a uma dessas leituras dramáticas, que os artistas promovem, a custo de muito suor, para divulgar a arte, o teatro, a literatura, a educação, etc. Texto do Feydeau (Feideau?), pra quem não faz teatro e portanto nunca ouviu falar, é um francês que escreveu vaudevilles, comédias de costume, e não é o Molière.
No final da leitura sempre há um debate, durante o debate todos concordavam que precisamos abrir mais espaço pra cultura, que as iniciativas boas devem ser incentivadas, que os artistas esbarram em burocracia e falta de vontade quando querem fazer seu trabalho, que o povo é carente de educação e cultura, que o teatro é um sacerdócio, segundo uns, ou um amante caro, segundo outros.
No final do debate havia um coquetel para comemorar o encerramente daquele ciclo de leituras, sim as leituras são organizadas em ciclos. Todos os presentes foram convidados a participar da comilança, tinha cerveja geladinha em baldes, patês gostosos que a gente não sabe do que é, garçons e garçonetes educados. Uma fartura conquistada com muito esforço, certamente, porque quando comecei a frequentar essas leituras tinha no máximo um guaraná com cream craker.
Enfim, nos jogamos, disputamos as vagas privilegiadas em volta das mesas, eu estava com fome, só tinha almoçado há muito tempo. Comi todos os patês e a batata apimentada (deliciosa), sempre com um copinho de cerveja na mão, pra acompanhar. Conversamos com nossos amigos, fizemos aqueles contatos sociais, todo mundo se gostando, feliz em compartilhar um momento de sucesso, sim posso chamar de sucesso.
Logo percebi que tinha algumas pessoas que não tinham assistido à leitura e só chegaram na hora da comida, não estavam sequer adequadamente vestidas, ou limpas, não socializaram, apenas beberam e comeram de graça, avidamente, sem nem apreciar o sabor da comida. Aparentemente eles tinham fome e sede, mas fome e sede de verdade, algo diferente da minha. Acho que eles não têm uma casa com lavanderia, pra tomar um banho quente e lavar os trapinhos encardidos. Acho que eles não têm muita educação, nem acesso à arte. Acho que eles não teriam dinheiro pra fazer uma refeição como aquela, pãezinhos e patês. Cerveja grátis, pode ser um sonho de vida. Eram dois homens, e fiquei surpresa (positivamente) por terem comido a vontade, sem interferência dos seguranças. Mas fiquei ainda mais surpresa por serem somente duas pessoas, porque eu sei que do lado de fora, ali na Praça da Sé, tem muita gente com fome e sede. Enfim, eles comeram, beberam e se foram em algum momento.
Nós ficamos ainda por ali, mesmo depois de matar nossas fomes, conversando, socializando, falando de arte, de projetos, de desejos, etc. Ficamos até bater o cansaço, até lá pelas 23 hs, e fomos pra nossas casas.

Moral da história: Uns têm fome de arte, outros de comida. Acho que chega a ser imoral, imoral da história.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A verdade

Tá o maior bafafá porque os ladrões, ops!, ricaços foram algemados. Gente, não é vergonha nenhuma roubar, ainda mais se forem bilhões, mas ser algemado é o fim. Algema é coisa de pobre ou de filme policial. Pobre pode apanhar da polícia, ter os filhos fuzilados pela polícia, correr com sacolas de supermercado no meio do tiroteio... tudo bem, eles são pobres e já deviam estar acostumados. Mas algemar ricaços, frequentadores das altas rodas, gente que ganha a vida roubando honestamente para gente ainda mais rica, isso é abuso da polícia federal. É espetáculo pra mídia...
Zente, o que não é espetáculo pra mídia? Me conta...
O Willian Boner nem fica mais vermelho quando explica porque a Grobo tem exclusividade nas imagens da polícia federal, nem quando justifica a exibição de imagens escandalosas, afinal o público tem o direito de saber de tudo, é a função do jornalismo mostrar a verdade.
A verdade. Muito se faz em nome da verdade, ninguém gosta de ser enganado não é? Nem mesmo o povo brasileiro. Nós merecemos ter acesso à verdade, sem dúvida. Ainda bem que temos o jornalismo, para nos mostrar a verdade, ou ao menos uma pequena parte dela, de vez em quando.

Mas olha, a verdade é uma coisa que realmente mete medo. Não só em políticos, ladrões, ops, ricaços, e jornalistas. Mete medo em gente normal também, em todo mundo... afinal, o que é verdade? Bom, mas isso é assunto pra outra hora. Saudades do meu broguinho...