sexta-feira, 23 de julho de 2010

um café

agora que tomava café sentia ele descendo pela garganta, quentinho. Só isso e já se desenhava em sua mente o dentro do corpo. Mais cedo, no almoço, tinha sentido a comida ir da boca para os tubos que precediam o estômago, chegando nele a comida quase caía no lugar vazio, parecia que boiava. Ninguém acreditava que conseguia sentir o trajeto da comida, mas sentia. Não queria ignorar o que acontecia lá dentro, queria sentir a comida mesmo que estivesse enjoada e ouvi-lo. Ouvia e tateava a si por dentro, por fora e entre. Aquele corpo que mostrava seu esforço em engolir, de modo irritante, era ela. Ela mesma sempre demonstrando seus esforços em engolir. Tateava e via seu útero inchado, não usava as mãos ou os olhos, via o de dentro inchado e irritado, talvez cansado. Cutucava as dores nas costas e no pescoço, apertava seus músculos até encontrar saliências e durezas. E aí sim, metia a mão e elas conversavam, a mão e as saliências, horas e horas. As dores de cabeça é que a irritavam, incontroláveis e impossíveis de tocar com as mãos ou pensar. Olhava para si por curiosidade e amor, não por si, mas pela vida que era. E muito dessa vida era fora, quase sempre fora de si. Por isso às vezes ficava quieta e parada, ou quieta e andando e os olhos perdidos nos fundos. Vivia a si mesma, um pouco por dia, quando dava. Às vezes tomando um café

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Arrabalde, as algemas

Será preciso andarmos de mãos dadas? Por onde olho estão os pares de mãozinhas grudadas. Depois que vi as algemas, entende? Sei que não entendeu quando te disse, mas é claro: as algemas, a dor e a felicidade. Sobretudo a felicidade me incomoda. E, todas grudadas, será preciso sempre todas? Todas me incomodam.
Preferia que nossas mãos estivessem soltas, ou fundidas. Se elas estivessem ensanguentadas e esmagadas juntas. Violentas. Fundidas em uma massa vermelha, cúmplice. Só se fosse assim. Ou soltas, esvoaçantes e lúcidas.
Será preciso explicar mais alguma coisa? Me incomoda que ninguém veja as algemas e o sacrifício que elas me custam. Preferia que a dor fosse explícita, vermelha e roxa. Preferia, ainda, que minhas mãos estivessem soltas e extremamente lúcidas. E você, o que pensa? Eu gosto das suas mãos nas minhas me arrastando cidade afora, mas veja: todas estão grudadas. Todos estão de mãos dadas e não vêem, isso me incomoda.
Eu gosto das suas mãos nas minhas, me arrastando cidade afora.
Será preciso andarmos de mãos dadas?
Algemas, por favor.

domingo, 11 de julho de 2010

Final

A final da copa tá emocionante...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Feriado em Ibitinga

Porque é bom visitar a mamãe e o papai.