domingo, 23 de março de 2014

vazio de sábado

numa dessas lacunas que eu entrei: de algo que devia estar lá e não tava, me esmerei no verso manco e nas metáforas cotidianas, pra atravessar aquele espaço, mas o buraco era faminto
minhas pobres metáforas não puderam me levar, apegadas com o calor pesado da carne,

[vejo pela janela um guia turístico que explica em inglês pra uns gringos o que é a consolation's church, lembro que isso acontece todo sábado e penso: que gringos são esses?]

voltando àquela lacuna (não consigo voltar quando lá fora tem um helicóptero e trovões)
voltando à nossa lacuna (enquanto baixo um filme)
voltando
tem uma tal marcha da família
voltando: consegui entender o que não gosto no woody allen, a ênfase nas confusões semânticas da comunicação amorosa, levadas ao paroxismo pela ausência de ação, se a gente pensar que fala é ação, então tem que ser corpo essa fala, entende? quando sai disso eu gosto, quando ele não atua, quando as atrizes arrebentam, etc
mas você gosta muito dos diálogos

voltando à fresta que eu entrei, apesar de pequena na entrada é bem espaçosa e agradável
tem um quê de casa no campo com lareira acesa, flor no cabelo e meia felpudinha
chá de camomila quase morno e dedos enlaçados

[meu download terminou, preciso procurar as legendas]

lembrei o que não gosto em mim também. esse amor pelo vazio, pela negação, pela ausência. o abandono do que é encontro e concordância. essa bandeira frouxa e esburacada da minha liberdade! essas exclamações, essa escrita. esse ridículo.
a busca pela rejeição que cria essas lacunas, buracos negros onde tudo está por existir e a engolir o que poderia ser.