segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os balões

Era por pura necessidade que ingeria balões. Preferia os coloridos: verdes, amarelos, vermelhos, azuis, roxos e alaranjados. Às vezes engolia exclusivamente os brancos. Mas todos eles cheios, inflados, bem gordos. Eram gordos e vazios ao mesmo tempo.
Pensava, eventualmente, que devia experimentar novos sabores. Todos se espantavam com essa preferência por balões. Rendia-se e engolia um sapo ou uma rosa. Arrependia-se, pois nada se comparava à sensação de engolir um balão cheio.
Abria a boca com gosto e sorvia com o fundo da garganta um balão, depois outro e ainda outro. Deixava o balão parar na altura do peito pra sentir com mais força a força vazia do balão. Quando chegava ao estômago perdia um pouco a sensação do balão, queria logo engolir outro. Engolia um atrás do outro até que o estômago transbordasse de ar e cor, só então parava.
Logo sentia uma ansiedade, os balões iam se esvaziando em suaves suspiros. Impossível mantê-los cheios lá dentro. Às vezes um balão explodia e num espirro seu abdome murchava. O espirro era um jorro e ela sorria, um espaço se abria dentro dela e engolia mais um balão.