quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Sumida, eu?!

Sei que tô sumida, mas também cheia de coisas pra fazer. Mudança de rotina me deixa confusa. E tô escrevendo bastante, só que não pro blog...
Vou me organizar melhor, pra conseguir postar aqui. Prometo.
Saudades.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

amigo

- você conhece alguma puta?
- puta que cobra?
- é.
- não, você tá precisando?
- tô.
- e tem que ser conhecida?
- puta com indicação é melhor.
- ah é? não sabia dessa...

Lembrei de quando ele era virgem, não bebia e sempre me carregava pra casa. Chegava a ser exótico, estava sempre entre a gente mas era de uma outra espécie, menos adolescente. Era motivo de piada, claro. Todos gostávamos muito dele, aliás era nosso preferido, mas isso não nos impedia de rir. Ríamos de tudo.
Às vezes eu pensava se ele não se incomodava com as brincadeiras, mas ele não reclamava e, se reclamasse, ninguém levaria a sério.
Diziam que era apaixonado por mim, nunca confirmei. Pra mim ele era o melhor amigo, chorava minhas frustrações amorosas no seu colo, ouvia os conselhos. Era amigo de todos, sabia todas as intrigas, mas não espalhava. Era pessoa de confiança.
Aí eu fui fazer faculdade, ele também e a gente se distanciou. Mas eu tinha notícias de que ele estava bebendo, dando vexame, inclusive tinha sido preso (!), pra mim era inacreditável. A turma que tinha que cuidar dele, agora. Porque essa reviravolta? Não sei.
Sei que anos depois ele me pergunta de putas e bebe. Mas ainda tem um lado ingênuo, até delicado, que se choca com a crueza das minhas palavras, que me acha sarcástica e agressiva demais. Não sou eu Bruno, as coisas que são assim.
Ele continua sendo uma incógnita pra mim, e apesar de falar sobre ele não quis arriscar ofendê-lo com minhas opiniões agressivas... ele é meu amigo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

acontece

pisar na barra do vestido
cair na escada no dia da formatura
fazer festa de aniversário e não aparecer ninguém
levar um banho de enxurrada embaixo do minhocão
tomar um porre por causa do ex-namorado neo-zelandês
comer a filha e ser flagrado pelo sogro
pagar de marilyn monroe na frente de uma obra, fiu-fiu
peidar no elevador que parará no próximo andar
atender a porta com porra no cabelo
correr atrás do ônibus que passa reto
ser corneada em público
dançar i will survive na festa da empresa

é... amanhã vai ser outro dia.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

espaço

mas e os espaços vazios entre nós?
e ainda tem os vazios em mim
nunca ouviu falar dos átomos?
do vazio das coisas, espaço entre os elétrons...
essa concretude cheia de nada
pensa
que posso oferecer além de ar e espaço vazio?
uma brincadeira
uma pose, uma moral de vento
uma tentativa de qualquer coisa
uma probabilidade
o quê?
pensando, passando
e uma sede de mudar qualquer coisa
a troco de quê, não são assim as coisas?
não somos assim, eu e você
vazio e cor
textura
fome e sede? de qualquer coisa
apague o tempo e comece a contar intensidades
contemos as dores, mas não os segundos
centésimos e milésimos
e não esqueça do vazio que existe aqui
olha pra mim
vê o espaço?

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

120 dias

Mais uma vez sou obrigada a lembrar dos "120 dias de sodoma".

Sobre a absolvição do digníssimo senador Renan:

Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, disse que "foi feita justiça" na votação. "Acima de tudo, foi uma vitória do Senado Federal, que passou por maus momentos durante 120 dias. Saímos fortalecidos", completou.

Se eles passam por maus momentos, que se dirá dos otários como nós.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Sabe o que é...

Sabe o que é, eu nunca te amei...
Não é por mal, eu nem sabia disso, mas...
Como eu posso explicar?
Eu me amava e como você estava sempre à disposição, sempre ao alcance da mão, sempre com palavras tão doces, sempre tão dedicado, sempre tão... sempre tão eu, eu achei que te amava.
Na verdade, verdadeira... não fique chateado, na verdade eu nem tinha reparado em você.
Mas também não precisa fazer essa cara, eu tô tentando ser sincera, oras!
Se pelo menos eu soubesse quem é você... talvez não te amasse, mas seria com conhecimento de causa, sabe?
Então, e agora eu conheci esse cara... não chora.
Esse cara... acho que ele não sabe meu nome completo, nem a data do meu aniversário, nem meu sabor de sorvete preferido, nem o nome da minha mãe...
Mas ele é tão... ele. E quando ele está perto eu sou ele, entende? Não do jeito que você era eu, mas de outro jeito, deixa eu explicar...
Se ele está por perto eu tenho que tomar conhecimento, entende? Ele não passa em branco, ele se coloca em destaque, ele não me pergunta o que eu acho disso e daquilo, ele me fala o que quer... E se eu ficar distraída ele passa por mim, me atropela, me desvia, nem sei...
Eu tenho que ficar atenta com ele, sabe?
Eu amo esse cara.
Não chora, vai.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

felizes

o calor que vem do corpo no corpo
a mão descansando no seu peito
dedos que correm nas cordas do velho violão
ataque de riso duas vezes por dia,
até perder o ar, sem saber porquê
sem televisão, sem freio, sem medida

sem data pra acabar

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Almoço

O oriental era de uma servilidade mui digna.
O gordo refestelava-se na cadeira do restaurante barato,
Cheio de ordens e falta de educação.
O oriental seguro na sua servilidade, imune.
Talvez não concebesse aquele orgulho, ou não se incomodasse.
- Pois não, senhor. Claro, só um minutinho.
Voz suave, sorriso e disposição, assim era o oriental.
O gordão dava ordens em voz alta e cochichava com os comparsas, gorduchos.
Tentava ser alguém, no restaurante barato dos imigrantes.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

cru

eu vivo aqui mesmo, perto do chão
gosto de sentir o cheiro de mijo da calçada
gosto do gosto de porra na boca
vôo às vezes por aí
mordida numa nuvem cinza
vôo cego, sem capacete
e o sol na cara
o chão é meu segundo lar, volto sempre que posso
pouso derrapante em dias de chuva

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Orestéia

Sexta-feira respirei fundo e fui pro galpão do folias pra ver "orestéia-o canto do bode". Respirei fundo porque a peça tem 3 hs de duração e eu costumo ficar cansada quando a peça é longa assim.
A peça é maravilhosa, as 3 hs passam voando, já na fila somos recebidos pelo dagoberto feliz, que vai explicando do que se trata a peça. A peça prende a atenção do início ao fim, é moderna, bem montada, tem um ritmo e uma homogeneidade que faz muito tempo que não vejo, em nenhum grupo. É ótima e eu recomendo mesmo.
Mas uma coisa me chamou a atenção, só tinha gente da classe na platéia, talvez uma meia dúzia de civis, mas o grosso do público era a tal classe artística. É bom que os atores vejam teatro? Claro que é. Mas não acho legal que essa peça maravilhosa não chegue ao público leigo.
Saí do teatro super feliz por ter compartilhado aquele momento lindo, aquele espetáculo lindo, lindo. Mas saí encanada com essa história de que fazemos teatro pra atores, e classe artística em geral. É uma merda isso! No cultura artística é cheio de civis, no teatro abril também, porque os bons grupos de teatro não são vistos por esse mesmo público? Porque essas peças caretas, quadradas, importadas, endinheiradas têm público, e as de qualidade ficam restritas ao nosso pequeno círculo de artistas? É injusto, foge do nosso objetivo como artistas. Ou pelo menos foge do meu objetivo, eu não quero ficar fazendo peça pros meus amigos assistirem, eu não quero ficar nessa punhetice de um ir na peça do outro e sentar no bar pra discutir como foi a peça e blá, blá. Eu quero atingir as pessoas que não têm a formação cultural e artística que a classe artística tem, são essas que me interessam mais que as outras. As pessoas que me interessam são as sem educação, preconceituosas, que não conhecem arte, que não têm posição política, que nunca leram filosofia, etc, são essas que eu quero que me assistam.
Só não sei como atingir essas pessoas, não sei como chegar até elas. Mas me ficou a impressão que estamos jogando errado, cada grupo de apega ao seu espaço, ao seu público e luta ali, naquele círculo. Cada grupo que está começando, como o meu por exemplo, quer conquistar um espaço, uma linguagem, uma cara, um público e conquistar tudo isso já não é fácil. Mas o objetivo tem que ser maior que esse, temos que buscar reformular, revolucionar as formas de produção artística, esse formato de ter um pequeno espaço alternativo é bacana, mas não devemos todos sonhar com isso, todos nos contentar com isso. A televisão é um veículo tão poderoso e tão mal utilizado, o rádio, a internet, os veículos de massa são tão desperdiçados. Será que só o capital se interessa pela massa? Não podemos abandonar a massa, temos que repensar os meios de alcançá-la.
De que me adianta fazer teatro pra meia dúzia de pessoas que acompanham todas as peças em cartaz? Hein?! Sei lá, precisamos pensar melhor.