segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Orestéia

Sexta-feira respirei fundo e fui pro galpão do folias pra ver "orestéia-o canto do bode". Respirei fundo porque a peça tem 3 hs de duração e eu costumo ficar cansada quando a peça é longa assim.
A peça é maravilhosa, as 3 hs passam voando, já na fila somos recebidos pelo dagoberto feliz, que vai explicando do que se trata a peça. A peça prende a atenção do início ao fim, é moderna, bem montada, tem um ritmo e uma homogeneidade que faz muito tempo que não vejo, em nenhum grupo. É ótima e eu recomendo mesmo.
Mas uma coisa me chamou a atenção, só tinha gente da classe na platéia, talvez uma meia dúzia de civis, mas o grosso do público era a tal classe artística. É bom que os atores vejam teatro? Claro que é. Mas não acho legal que essa peça maravilhosa não chegue ao público leigo.
Saí do teatro super feliz por ter compartilhado aquele momento lindo, aquele espetáculo lindo, lindo. Mas saí encanada com essa história de que fazemos teatro pra atores, e classe artística em geral. É uma merda isso! No cultura artística é cheio de civis, no teatro abril também, porque os bons grupos de teatro não são vistos por esse mesmo público? Porque essas peças caretas, quadradas, importadas, endinheiradas têm público, e as de qualidade ficam restritas ao nosso pequeno círculo de artistas? É injusto, foge do nosso objetivo como artistas. Ou pelo menos foge do meu objetivo, eu não quero ficar fazendo peça pros meus amigos assistirem, eu não quero ficar nessa punhetice de um ir na peça do outro e sentar no bar pra discutir como foi a peça e blá, blá. Eu quero atingir as pessoas que não têm a formação cultural e artística que a classe artística tem, são essas que me interessam mais que as outras. As pessoas que me interessam são as sem educação, preconceituosas, que não conhecem arte, que não têm posição política, que nunca leram filosofia, etc, são essas que eu quero que me assistam.
Só não sei como atingir essas pessoas, não sei como chegar até elas. Mas me ficou a impressão que estamos jogando errado, cada grupo de apega ao seu espaço, ao seu público e luta ali, naquele círculo. Cada grupo que está começando, como o meu por exemplo, quer conquistar um espaço, uma linguagem, uma cara, um público e conquistar tudo isso já não é fácil. Mas o objetivo tem que ser maior que esse, temos que buscar reformular, revolucionar as formas de produção artística, esse formato de ter um pequeno espaço alternativo é bacana, mas não devemos todos sonhar com isso, todos nos contentar com isso. A televisão é um veículo tão poderoso e tão mal utilizado, o rádio, a internet, os veículos de massa são tão desperdiçados. Será que só o capital se interessa pela massa? Não podemos abandonar a massa, temos que repensar os meios de alcançá-la.
De que me adianta fazer teatro pra meia dúzia de pessoas que acompanham todas as peças em cartaz? Hein?! Sei lá, precisamos pensar melhor.

4 comentários:

Mariana P. disse...

Engraçado, eu tava pensando nisso ontem.
Eu li um texto falando sobre como a comunicação em todos os seus sentidos é uma forma de amor, uma forma de transmitir os sentimentos, criar vinculos.
Enfim. Coincidentemente - ou não, isso me levou a pensar sobre como a televisão é um meio de comunicação tão poderoso e tão mal aproveitado.
Tanta gente talentosa, tanta coisa boa pra se informar, e as pessoas preferem falar de futebol e política.
Bom, o tema era interessante, mas o texto nem tanto.
Sobre o post, adianta, sim, vc fazer isso, que seja pra meia dúzia de pessoas. Paciência, criatividade e perseverança talvez sejam umas das chaves pra abrir essas portas.
No mais, conte comigo pra te ajudar a descobrir.
Beijo, flor.

flávia coelho disse...

Então Má, o que me preocupa nem é tanto a quantidade de público, mas a qualidade. A questão central é que as pessoas que têm acesso aos melhores trabalhos artísticos são as que já têm uma certa cultura. A TV entristece a gente né? Tanta possibilidade e tão pouca preocupação com qualidade.
E bom saber que posso contar com vc, sempre te falo que vc já ajuda bastante, mas podemos fazer mais, né? Beijos e obrigada.

Anônimo disse...

infelizmente, é igual programa educativo na tv: só assiste quem já é educado. o resto prefere ver big brother.

flávia coelho disse...

num é? por isso que a gente tem que se mexer.
beijos linda.