quarta-feira, 27 de outubro de 2010

de olhos bem abertos

ao amor da minha vida um beijo, na boca
aos amores passados da minha vida os mesmos beijos, nas bocas
mãos dadas, dedos enlaçados e grudentos desde o primeiro amor
desde o primeiro o aprendizado do beijo, beijar é assim
lábios se encostam, se abrem, se roçam e sugam as línguas
braços na cintura, no pescoço, nas partes
mãos
bocas
orelhas
pênis
bunda

olho nos seus olhos meu amor, olho suas marcas na testa, um pêlo que sai do nariz
seguro sua orelha entre os dedos e penso
nunca nos envergonhamos de nossas carícias treinadas
nunca procuramos um gesto nosso
nossas boquinhas ensinadas
os dedinhos
nunca estranhamos
e agora?

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aprender a desaprender

Quando eu era pequena achava, sinceramente, que eu era digna de sucesso. Não, não é isso. Quando eu era pequena, eu achava que podia fazer qualquer coisa. Ainda não é isso. Quando eu era pequena fazia tudo que eu imaginava.
Eu escrevi, atuei e dirigi uma peça na 3ª série. Também coreografei e dancei duas músicas da xuxa, com paquitas, na escola. Na mesma época criei um jornalzinho da escola, com vários colaboradores. Pouco depois criei um mural-correio na escola. Por volta dos 10 anos organizei um desfile caipira (era um evento inédito) para a festa junina da escola. Eu era um prodígio, pelo menos a diretora da escola acreditava nisso.
Algumas tentativas de assédio sexual, assédio moral, espancamento e difamação contra mim também ocorreram na mesma época.
Depois desse período, fui ficando cada vez mais reservada. E veio a adolescência. Minhas vontades começaram a me parecer cada dia mais idiotas. Ser invisível me pareceu mais agradável e mais seguro.
A medida que fui ficando mais invisível, minha vida foi se tornando mais fácil. E assim passei a adolescência toda tentando sumir, tentando ser mais uma. Consegui, ou quase.
Hoje eu penso em quanta violência eu sofri na infância, imagino que outras crianças também tenham sofrido. Penso no quanto essa violência foi importante para destruir uma insipiente criatividade, razoavelmente independente.
É assim que se educa crianças ainda?
Aos 30, fico aqui tentando driblar uma derrota prevista, uma frustração antecipada. Quase sempre na base da invisibilidade temporária. Aprendi direitinho.
Falta agora desaprender tudo que a escola me ensinou.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

uma afronta e três pessoas que responderam

os alto-falantes disseram aos usuários que não colocassem os pés sobre os assentos, os assentos devem ser respeitados.

um usuário observou - parece brincadeira isso, nem tem lugar pra sentar imagina pra por o pé.

uma usuária observou - não é brincadeira não, é uma ofensa isso.

uma outra - parece piada mesmo.

o mesmo usuário - pior que em todo trem falam a mesma coisa, e a gente nem consegue entrar no trem muitas vezes. por o pé, vê só! eles tiram uma com a cara da gente.
ó aqui no jornal, vão fazer o trem até guarulhos, precisa mesmo.

uma usuária disse - vão fazer por causa da copa né?

o usuário - mas vai ser bom. isso se fizerem mesmo.

a usuária - também falaram em ampliar a rede de metrô e trem, anos depois e nada. mas aposto que o trem até guarulhos sai.

o usuário - é, eles mentem muito. eu votei nesse aqui, no alkmin. mas não sei não... não sei se é de confiança.

a usuária pensou e calou - ele votou...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Mais uma história de heróis

33 mineiros foram resgatados de uma mina de ouro e cobre no Chile após 70 dias de soterramento. O resgate aconteceu antes do tempo inicialmente previsto, que era de 3 a 4 meses. Os mineiros foram recebidos pelos familiares e pelo presidente, que aguardavam ansiosos desde o acidente. Os mineiros se tornaram pop stars, ou heróis, como também têm sido chamados. O mundo inteiro se comoveu com a história desse resgate dramático. O presidente chileno, um empresário mineiro, já tem algumas palestras agendadas pelo mundo afora, o tema: segurança nas minas.

33 homens trabalhavam a mais de 700 m de profundidade. O ambiente é úmido e quente (temperaturas acima de 40°). Houve um acidente, a saída da mina foi bloqueada e os homens enterrados lá dentro. De acordo com as leis chilenas, toda mina deve ter pelo menos duas saídas, a lei não foi cumprida nesse caso.

33 trabalhadores ficaram soterrados por 70 dias a mais de 700 metros de profundidade. 33 trabalhadores de uma mina de ouro e cobre foram soterrados e foram resgatados 70 dias depois.

Homens escavam o terra em busca de ouro e cobre, esses homens trabalham para empresas. Homens morrem no fundo da terra, no Chile e na China. Onde mais? Homens vivem enterrados.

Enterraram os homens a centenas de metros de profundidade, deixaram que ficassem lá por 70 dias, depois desenterraram e sugeriram que devemos festejar.

33 homens presos debaixo da terra. Quantos mortos?

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

morri

não sei mais o que escrever aqui
não vem nada
não quero mais inventar assunto
pro blog não morrer
pra que serve um blog?
alguém me ajuda

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Fórum não

Antes que isso aqui se transforme em fórum sobre transporte público, faço minha última reclamação. Mesmo sabendo que terei muitas razões pra reclamar nos próximos 4 anos.
Hoje levei duas horas para vir de trem da barra funda pra vila olímpia. Não, não foi no horário de pica, foi entre 13hs e 15 hs. Porquê?
40 min de espera na plataforma barra funda, devido a avarias. Paradas longas e velocidade reduzida na linha grajaú. Na estação cidade universitária ficamos 10 min parados e tivemos que descer do trem. Explicações: problemas na composição. Em duas, porque a que vinha atrás também despejou os passageiros na estação cidade universitária e se foi.
Dá pra acreditar que foram problemas isolados? Nas duas linhas, no mesmo período?

Gente! Nós ficamos enlatados hoje.
Na saída do trem dei meu recadinho: Isso aí, continuem votando no alkmin. E ainda tive que explicar pra um usuário ingênuo que as pessoas não são mal-educadas, elas foram desrespeitadas e esmagadas. Pior: elas pagaram para isso e não receberam nenhuma explicação.
Obs: eu não estava passeando durante a tarde, estava a caminho do trabalho, assim como a maioria dos trouxas.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Curiosidades via Google analytics

A palavra-chave que traz mais usuários para o blog, via google, continua sendo santa periquita. Felizmente, meu nome, o nome do blog e expressões parecidas ultrapassam a periquita (nem sempre foi assim).
O número de visitas não varia muito e cai nos finais de semana. Esse dado me leva a crer que os leitores são amigos que fogem do trabalho no blog.
O tempo médio de permanência é 2 min, o que acho incrível.
Bom, tem muitos números e eles não variam muito, mesmo porque não faço nada para melhorar a performance do broguinho. Se ainda utilizo o GA é por pura curiosidade.
E às vezes aparecem uns dados realmente curiosos. Por exemplo: há um tempo atrás a região nordeste era representativa, ficando atrás apenas da região sudeste na frequência ao blog. Agora o interesse se deslocou para a região centro-oeste, sul e cidades do interior de minas que antes não apareciam. Porque?
Ah, esse mistério o google não resolve... nem o mistério do interesse pela santa periquita.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O poço

Era fundo, tão fundo que não se via o quanto. Quando se olhava da beira para dentro era um ímpeto. Era vazio e frio, mas no fundo não dava pra saber o que era. O fundo parecia quente.
Jogou um dia uma moeda - quero conhecer o fundo.
Nada. O buraco continuava gelado.
Então, jogou no poço um espelho. Era tão fundo que não viu quando o espelho chegou ao fundo. Silêncio.
Seguiu chorando. Aquele escuro era uma ausência insuportável.
Imune àquela escuridão, ou, por outro lado, interessada justamente por ela resolveu que ia conhecer o fundo de qualquer jeito.
Olhava sempre pra ele e procurava um brilho qualquer.
Talvez de tanto olhar, um dia viu uma luz lá embaixo. De cima era frio e escuro como sempre, mas viu um brilho e teve certeza que no fundo era quente.
Ficou olhando hipnotizada para a luzinha trêmula. Lembrou que tinha jogado um espelho lá, a luz devia ser o reflexo. Mesmo assim, via a luz como um sinal.
Falou com ele pela primeira vez. Falava baixo porque sabia que ele podia entendê-la.
Não pedia nada, não jogou nenhuma moeda, nada. Só falava e sentia que no fundo ele entendia.
Ela ouvia o eco da própria voz e tentava se conter. Ele ouvia.
O seu silêncio reverberava, o escuro era frio e o fundo era quente. Era o que ele dizia - silêncio, escuro e fundo. Ela entendia, como entendia!
E voltou muitas vezes, horas e dias sentindo o bafo frio que vinha dele e o silêncio. Ele era profundo demais.
Ela suspirava e até chorava quando pensava no seu profundo silêncio. Comovia-se com o silêncio e a escuridão que eram essenciais nele. Amava, enfim.
De repente decidiu que era o momento de descobrir o que escondia a escuridão e o silêncio. A luzinha continuava lá, dias mais forte, dias mais fraca, às vezes quase nada. Mas a luz continuava lá, era o sinal? Quando se olhava da beira para dentro era um ímpeto.
Mergulhou no frio escuro, olhou pra baixo e mais uma vez teve certeza que no fundo era quentinho.
Caiu por muito tempo, lá dentro era frio e escuro como parecia e não via nada.
Chorava porque tinha certeza que no fundo era quente, sentia o hálito e tinha certeza.
Quando finalmente chegou ao fundo estava quentinho. Chorava, mergulhava com gosto e não queria mais nada.
Encontrou no fundo sua moeda e o espelho, eles ainda estavam lá. Nadou durante horas, nunca tinha sido tão feliz.
Estava tão alegre que não percebeu que ficou gelado, quando percebeu já estava.
Tremia, os dentes batiam uns contra os outros.
Não entendia, falou. Nenhuma resposta, a profundidade de sempre.
Ela falou em quanto tempo tinha caído poço adentro e no quanto tinha chorado de alegria.
Ele permaneceu em silêncio.
Só aí ela entendeu que as suas lágrimas é que eram quentes.