terça-feira, 31 de julho de 2007

Gravíssima

Grave. Ela era sempre grave.
E gostava assim, achava que dava um ar de mistério, de importância.
Na verdade não sabia que era por isso que gostava, mas gostava.
O máximo de cumplicidade que se conseguia dela era um riso no canto da boca.
Gargalhada, em casa a sós, lembrando alguma passagem engraçada. Só.
Sempre um comentário sarcástico na ponta da língua. Um gosto amargo pelas palavras.
Quando alguém não sabia se ela falava sério ou era ironia, sentia-se melhor.
Irônica. Gostava da palavra.
Agradável mesmo, não era. Mas era bonita.
E sabia que as pessoas bonitas têm um poder que vem exclusivamente da beleza.
Bela e grave. Sarcástica e irônica.
E triste. Quase sempre triste sem saber porquê.
Criava círculos de amigos ao redor, não amava nenhum deles sinceramente. Talvez um ou dois.
Pareciam todos bobos diante de tanta gravidade. Bobos da sua minicôrte.
Viam que ela tinha algo especial, mas ninguém sabia exatamente o quê.
Ninguém conseguia entender o que ela tinha de diferente, será o quê?
Uns cansavam desse mistério outros se encantavam e a turba de bobos estava em constante mudança.
Ela permanecia igual, grave. Cheia de uma importância que ninguém sabia de onde vinha.
Mas aconteceu que um dia começou a ficar feia, não se sabe porquê.
Talvez fosse a pele, o cabelo, talvez os olhos, talvez fosse o tempo.
O certo é que ela ficou feia e só. Porque gravidade sem beleza não tem mistério algum. Os bobos encontraram pessoas mais irônicas, sarcásticas e bonitas pra seguir.

Enfim aconteceu o que ela temeu a vida toda.
O mistério acabou e ela era simplesmente feia e triste.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Oração à santa periquita

Ai, minha santa periquita, santa dos casos perdidos e transas urgentes.
Me ajude. Preciso de um homem pra me fazer um carinho, me levar pra jantar, me beijar na porta de casa, enfiar a mão por baixo da saia, beliscar meus peitinhos, trepar a noite inteira, que faça serviço completo e mande flores no dia seguinte... dá pra ser? Ah, tá em falta.
Santa periquita, santa dos casos perdidos e transas urgentes me arruma pelo menos um rapaz bem servido de pinto, que seja rígido, bem disposto e que não passe mal com sexo oral, se vier com cafuné antes de dormir é perfeito. Ah... não tem também?
Olha minha santa, vou facilitar as coisas pra senhora. Me arruma qualquer coisa com pinto, nem precisa ser tão rígido, que a gente dá um jeito por aqui.
Amém!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ela é bamba, ela é bamba...

Olhava aquele conga e pensava, eu quero um bamba. Porque eu sou a menina do conga se eu nasci pra ser bamba? Sabia, no fundo, que tinha muito menos do que merecia. E uma timidez de se saber assim.
Aprendera desde sempre a estar satisfeita com o que tinha. Afinal, comida nunca faltou. Mas conga? Estava sempre ouvindo que não podia ter tudo que queria, o mundo é assim mesmo, é bom você se acostumar. Mas conga? Era mais do que podia aguentar.
Numa das noites em que chorava pelo conga teve uma idéia, uma dessas idéias boas que nos fazem dormir tranquilos. Os dias do conga estavam contados.
No dia seguinte foi feliz e saltitante pra escola, cantando a musiquinha que tinha inventado pra essas ocasiões, eu vou, eu vou, pra escola agora eu vou, parará tim bum, parará tim bum, eu vou, eu vou, eu vou, eu vou... Tinha tudo planejado e a certeza que aquele era o último dia do conga tornava o suplício de usá-lo quase em prazer. O próximo passo era conseguir um bamba.
Durante toda a aula distraía-se com seus planos para o conga, seu futuro com o bamba e sentia que sua vida seria bem mais fácil daquele dia em diante, finalmente ia ter o que merecia. A professora elogiou sua tarefa, parabéns não tem nenhum erro. E ela sentia-se mais que nunca a menina do bamba.
Na hora do recreio comeu a merenda bem rápido e foi pro parquinho, subiu no trepa-trepa que era o seu brinquedo preferido, se perdeu e se achou várias vezes naquele labirinto em que se brincava sozinho. Antes do recreio acabar queria brincar na gangorra, o segundo brinquedo preferido. Encontrou uma colega partidária da gangorra, subiram e desceram e sentiram aquele frio na barriga e riram daquele jeito que se ri quando se sobe e desce na gangorra, riso solto que faz cócegas no nariz. E o sinal tocou porque era hora de voltar pra aula. Voltou correndo pra sala naquela euforia de quem acabou de descer da gangorra. Tinha esquecido do conga.
Enquanto a professora falava sobre o b com a, ba, b com e, be, uma dessas coisas bobas e óbvias ela lembrou-se dos planos. E percebeu sem querer que o conga tinha sido seu companheiro de parquinho pela última vez.
A hora de ir embora se aproximava e a professora c com a, ca, c com e, ce... e ela pensando no que faria com o conga. Seu coração acelerava.
Deu o sinal e todos saíram correndo, menos ela, porque ela carregava o peso da sua resolução. Decisões não são fáceis de tomar, mesmo quando necessárias, além do mais ainda não estava acostumada a decidir nada. Respirou fundo e foi.
Foi embora sozinha, a casa era perto e já aprendera o caminho há um certo tempo. Já tinha tudo tramado, ia abandonar o conga no terreno baldio perto de casa e falar pra mãe que o tinham roubado. O terreno era cheio de mato, ninguém nunca ia descobrir. Estava satisfeita com sua idéia.
Andou os últimos passos do conga até o destino final, apoiou o pé na calçada pra desamarrar o cadarço, puxou o lacinho pronta pra se livrar daquele peso e, e... olhou pra ele e, e... coitado. Não conseguia imaginá-lo ali sozinho, sem um pé pra calçá-lo, no meio do mato, no escuro. Pobre conga, só tinha a ela. Ela não gostava mesmo dele, mas... E o bamba? Enquanto tivesse o conga nunca teria o bamba. Que difícil decidir. Queria o bamba, merecia o bamba, fôra feita para o bamba, optava pelo bamba. Desatou os cadarços e descalçou o conga que ficou lá, murchinho. Correu até em casa, ofegante.
No portão lembrou-se que teria que explicar pra mãe sobre o fim do conga, a mentira estava na ponta da língua. A mãe ia ficar preocupada com o assalto, você está bem, não levaram mais nada? Será que ia acreditar?
Não gostava de mentir e ia se sentir mal se a mãe ficasse preocupada, era assim, sempre culpada. Se a mãe não acreditasse então, ia morrer de vergonha, sem contar que ia ficar de castigo. Pensava olhando o portão fechado. Pensava e pensava e.
Voltou correndo e torcendo pro conga ainda estar lá, de repente parecia que ele ia sumir. Correu o mais rápido possível e quando chegou no terreno baldio viu, com o maior alívio que já tinha sentido, que ele continuava lá. Nem calçou o conga feio, abraçou-o e voltou pra casa descalça e feliz, que afinal não era menina de abandonar o conga assim.
O bamba? Bem, tanta gente tinha um bamba sem merecer e ela sabia que merecia um bamba mais do que ninguém. Enquanto ia pra escola saltitante e cantante pensava nisso e se sentia satisfeita por ter classe de bamba mesmo calçando conga.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

des/combina

Ah... você fuma?
Às vezes.
Não combina com você.
É mesmo?

Calaram. Um olho no olho do outro e viram quanto não se conheciam.
Talvez não combinasse mesmo, mas o fato é que fazia coisas que não combinavam com ela. Buscava descombinações, ávida. Ele também não combinava. Ávida.
Ele, por outro lado, era todo combinado. Mais por hábito que por talento, no fundo era meio descompassado. Ela não combinava com ele e, no entanto. Outras tantas combinavam e, no entanto.

Olha como minha mão tá gelada.
Assim fico com calor.

Nada combinava e, no entanto, ela se abanava.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Época de milho

Lembro que tinha a época do milho. Em determinada época do ano a horta se enchia milagrosamente de altos pés de milho e suas bonecas. Pra quem não sabe o que é boneca, são as espigas ainda novas que têm o cabelo comprido e sedoso. Eu amava as bonecas, tinha boneca ruiva, castanha e loira, que eu gostava mais porque combinava com meu cabelo. E minha vó gritando, não arranca todas espigas, menina! Quando a gente já tava enjoando das bonequinhas, era porque estava chegando a hora de colher as espigas e começar uma nova fase. A fase de comer milho.
E tinha milho de tudo que é jeito. Milho assado no fogão de lenha, cozido, refogado, bolo de milho assado na folha de bananeira, curau, pamonha e sei lá mais o quê. Sei que minha vó passava o dia ralando milho pra fazer curau, pamonha e bolo. E não tinha processador não, era ralador mesmo, um que meu avô tinha feito anos atrás, que se pegasse o dedo... ai.
Esse curau que tem no carrinho de milho de rua não tem nada a ver com aquele, feito com milho verde de verdade e leite direto da teta da vaca. Aquele sim era bom, e o cheiro eu nunca vou esquecer. A nata que se formava em cima era motivo de diversão, a gente fazia um buraquinho com a colher e soprava até fazer uma bolha que crescia, crescia... até explodir e sujar a mesa. E minha vó, toma cuidado que tá quente, vão se queimar. Não toma curau quente e água gelada que dá dor de barriga. O resto do curau que a gente não aguentava tomar ia pra geladeira pra endurecer, depois ela cortava em pedaços. Eu nunca comia depois de gelado, só gostava enquanto tava quente.
A gente enchia o saco da vó pra assar uns milhos o dia inteiro, ela sempre ocupada com os afazeres da casa e do milho botava a molecada pra correr, mas depois colocava umas espigas de surpresa na brasa do fogão e chamava a gente quando já tava quase pronto, aí era só passar manteiga e assoprar um pouco pra esfriar, nham nham.
Mas não era só o milho que tinha época, tinha a época da jabuticaba que coincidia com a da pitanga, a época da manga, da goiaba, do abacate e assim por diante. Todas épocas eram boas, quando a gente estava enjoando do milho ele acabava e começava outra época, a da jabuticaba por exemplo. E nós migrávamos da horta e suas bonecas pro poleiro do pé de jaboticaba onde passávamos nossos dias.
Era assim que a gente percebia que o ano estava passando, nossa já chegou a época da manga! Vamos comer manga verde com sal que ela demora muito pra madurar. E a época da manga coincidia com a época do natal em que os leitõezinhos eram o prato principal, eu sofria com os gritos dos pobres animais assassinados e jurava que não ia comer esse ano, mas todo ano eu comia porque sempre adorei um leitão assado.
O tempo passava mas a gente não tinha pressa, aproveitava cada época até enjoar e quando enjoava começava outra.
Hoje tem curau todo dia em qualquer esquina, tem manga no supermercado o ano inteiro, assim como goiaba e tudo o mais. Não sei como fizeram pra acabar com as épocas, mas foi uma pena. Hoje tem tudo que eu gostava o ano inteiro, mas eu não como mais nada. Hoje não vejo mais boneca de milho. Hoje minha vó não levanta mais da cama, nem sabe muito bem em que época estamos. Hoje eu penso que não sei como será ter meus filhos, se o que eu sabia sobre as épocas não vale mais.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Calendário

Continuo medindo o tempo pelo número de baratas mortas pelo chão e seu grau de decomposição.
Inseticida?
Ia perder a noção do tempo, mata tantas a cada vez. Ou teria que varrê-las de quando em quando.
Assim já me acostumei, cada barata uma chinelada. Três a quatro chineladas por noite.
E durante o dia elas se divertem com a gata.

Não se pode afirmar.

Estou achando muito interessante a apuração dos fatos no acidente da TAM. Todas as digníssimas autoridades que se pronunciaram até agora concordam em uma coisa: não se pode afirmar nada antes de concluídas as investigações.
No entanto, cada um tratou de tirar o seu da reta.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas a pista de congonhas estava em plenas condições de funcionamento.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas o airbus da TAM estava em plenas condições de uso, apesar do reversor direito não estar funcionando.
Não se pode afirmar nada antes de concluir as investigações, mas esse acidente foi uma fatalidade que nada teve a ver com a crise aérea do país.
Não se pode afirmar nada e, no entanto afirma-se muito.
E o assessor Marco Aurélio Garcia festejando o defeito do avião, pensando e demonstrando: se foderam! tomaram no cú! tirei o meu da reta!
Levando em consideração tudo que eu ouvi até agora, a única coisa que se pode afirmar é que cada um vai lutar até o fim pra tirar o seu da reta também. Não interessa saber quais os fatores que contribuíram pro acidente, não interessa dissecar o problema porque a gente ia descobrir que sobra culpa pra todo mundo e isso pediria uma solução drástica. Importante é tirar da reta e garantir o emprego, a próxima eleição, os altos salários. E as mais de 200 vidas perdidas? Bom, eles já foram mesmo...
Pois é, eles se foram e a maioria deles nem poderá ser identificado ou sepultado inteiro.
Qual o nível de endurecimento dessas pessoas que continuam se negando a admitir a crise e resolvê-la? Quantos precisam ser carbonizados, desmantelados, triturados e nem quero pensar mais o quê, pra se pensar em soluções que visem não o lucro, não votos, mas as vidas das pessoas?
Sei que são muitas perguntas e ainda não se pode afirmar nada, mas gostaria que aparecesse alguma resposta séria em algum momento.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

.

Cair.
Do alto.
Do salto.
De sobressalto.
Mas eu não tô preparado...
Mas eu não tô...
Mas eu...
Mas...
M...
...
.

É...

Hoje tá difícil respirar sem suspirar. Não tem muito o que dizer.
tragédia anunciada+chuva+frio=flávia triste.
Não há medalha de ouro que dê jeito.
É... como diria Millôr.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Coisa de mulherzinha

Sabe o que é gostoso? Sair de turminha de mulher. É uma coisa que fazemos muito na adolescência e depois paramos.
Quando saímos de turminha algumas coisas são indispensáveis. Uma delas é trocar de roupa juntas, uma dando palpite na roupa da outra. O passo seguinte é a maquiagem, mais uma vez cheia de palpites. Uma passa o perfume da outra, troca um casaquinho, dá o último pega e sai, quase sempre atrasadas.
Na balada, que normalmente é boa pra dançar, bebemos juntas, muitas vezes o mesmo drink, esperamos na fila do banheiro juntas. Não entramos juntas no banheiro não, que eu não consigo mijar com alguém olhando. Dividimos opiniões sobre gatinhos e barangas, maltratamos os bebuns, dançamos juntas fazendo charminho, dançamos até acabar a música. E vamos embora trôpegas, xingando quem mexe com a gente na rua.
É só isso e é bom pra caralho.
Às vezes eu me sinto meio tia, e acho que sou tia mesmo, porque nem sempre fico confortável nessas situações. Não sei mais aceitar palpite na roupa, nem maquiagem, não sei mais dançar em dupla ou trio. E lembro que quando tinha meus 18 anos ficava reparando nas tiazinhas que dançavam de um jeito meio esquisito e ria até. Eu e minha turma adolescente. Hoje a tiazinha sou eu.
Mas tem dias, ou noites, em que eu esqueço minha condição de tia e topo sair de turminha, só de mulherzinha e vou te dizer: me divirto!
Nada como uma noitada dessas pra aliviar os dramas tão adultos, chatos e sem solução.

Da série grandes mistérios da humanidade

Por que porra tem cheiro de cândida?
E por que vira cola quando mistura com água?
Por que meu deus? Por que?

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Guarda lugar pra mim?

Se tem uma coisa que me irrita é esse negócio de "guardar lugar". Você chega pra almoçar no kilo e tem várias bolsas, carteiras e crachás sentados.
Por que as pessoas tem essa loucura de se antecipar e ocupar um lugar que ainda não estão precisando? Quanta ansiedade.
Aí, você que já pegou sua comida e realmente precisa de um lugar pra comer, fica em pé procurando um lugar que não esteja ocupado por nenhum objeto.
Será que é tão difícil compreender que daqui a 2 minutos quando a pessoa terminar de pegar sua comida alguém vai estar terminando o almoço e se levantando da mesa?
Porque convenhamos que ninguém fica batendo papinho no kilo. E guardar lugar é resquício da infância quando guardávamos lugar pro nosso coleguinha na hora do recreio.
Como diria uma amiga: Pronto, falei!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Perigo

Que mulher é um perigo, todo mundo já sabe. Agora, mulher de tpm, sem dinheiro, solteira e em processo de análise é caso de segurança pública.
Explico. Lá pras bandas da minha casa num fim de tarde desses aí, uma jovem senhora na faixa dos 20 anos e com todos os pré-requisitos acima foi assaltada. Quer dizer, sofreu uma tentativa de assalto.
O desavisado e desarmado meliante chegou intimando - isso é um assalto, passa a bolsa. O que ele não sabia era que aquela mocinha tão magrinha e bonitinha era uma fera esperando a oportunidade de atacar alguém. Se a vítima fosse homem e vagabundo, tanto melhor.
Dizem que ela agarrou o braço do rapaz e começou a gritar - ah, você quer minha bolsa? eu não te dou minha bolsa seu safado, some daqui! vai trabalhar - e essas coisas que a gente diz (ou não) durante um assalto.
Tem uma outra versão, que diz que ela espancou o moço com a bolsa, objeto de desejo, e ele saiu correndo e pedindo socorro. Ele gritava - chama a polícia, essa mulher é maluca! Socorro!
Tem ainda uma terceira versão que diz que o assaltante não sobreviveu, mas acho que é exagero.
Enfim, o que eu queria dizer com essa história é que às vezes estar na merda pode te salvar. Se a moça estivesse feliz da vida, provavelmente tinha entregue a bolsa pro assaltante. Mas ela tava puta, enfezada, de tpm e foi isso que a salvou. Porque a bolsa de uma mulher tem basicamente tudo que importa nessa vida, identidade, cartões, dinheiro, guarda-chuva, celular, o melhor gloss e o melhor rímel. Sem contar que aquela bolsa combinava com tudo.
E tem mais uma coisa, pense bem antes de mexer com uma mulher enfezada. Se ela espancou um marginal imagina o que faria com você.

Fim de caso

Uma coisa que me intriga é aquela choradeira de fim de relacionamento. É uma tristeza sem fim, um chororô, depressão, overdoses de aspirina, bebedeira... e por aí vai, de acordo com o gosto do cliente.
Pra quê tudo isso? Gente, como dizia minha avó, ninguém morre de amor. A não ser os suicidas, mas os suicidas são uma categoria à parte, como diria o velho Durkheim ( hoje tô cheia de referências confiáveis)
Aí, a gente faz aquela baixaria, chora na frente do porteiro, liga pros amigos às 3 da manhã, mobiliza a família, toma uns porres, sai agarrando uns adolescentes na balada, dias e mais dias de ressaca moral. E o que acontece?
Acontece que passa. Depois de uns meses ninguém lembra mais porque foi tudo aquilo. E o que fazer com as lembranças das baixarias? Ignorar. Sim, ignore na maior cara de pau, faz de conta que não foi com você. E se alguém tiver a desfaçatez de perguntar diz que foi possuída por uma força estranha, fala que devia ser macumba daquele desgraçado.
Agora, outra coisa que me intriga é como é que passa? Aquele amor que você tinha certeza que era o maior do mundo, simplesmente passa. Tá certo que ele fez um monte de merda, tá certo que toda sexta-feira era dia de pizza, tá certo que você tinha que cortar as unhas do pé dele, tá certo que ele nunca lavava a louça, tá certo, tá certo. Mas a questão é que parecia que era O CARA. Parecia que nada ia abalar aquele amor, que era possível entender qualquer defeito, e toda aquela baboseira de novela. Como é que a gente passa dessa fé inabalável no amor romântico pra indiferença absoluta? Sei lá. Mas as duas coisas são boas( e viva o otimismo).
É gostoso encontrar um amorzinho que dá aquele calor, que preenche suas noites solitárias, que te faz pensar em morar de novo com alguém, etc. Mesmo sem entender porque, foda-se o porque. O que interessa é que é bom.
E arrisco dizer que é melhor ainda você conseguir se livrar completamente daquele chato que não ama mais. No começo dói um pouco, mas depois vai que é uma beleza, nem precisa KY. E liberdade nunca fez mal pra ninguém, não é minha gente?
Minha vó que não se conforma, diz que eu sou solteirona e já passei da idade de casar, que marido é tudo ruim e que eu tenho que escolher logo qualquer um. A coitadinha tá esclerosada, não enxerga nem escuta mais ninguém, mas quando eu chego vai logo perguntando se arrumei um noivo. Pois é vó, não arrumei ainda mas tô feliz assim. Não se preocupe.
E vamos por aí, catando um gato aqui e um sapo acolá. Se vou casar com qualquer um como sugere minha avó é cedo pra decidir, por enquanto estou satisfeita com meu status de mulher solteira.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Conta outra

Alguém acredita que o atorzinho da malhação queuenemsabiaqueexistia pegou 2 travecos por engano? E foram bonzinhos com a prostituta oferecendo 50tão, por serviços não prestados?
Como se diz em carioquês: fala sério!
Essa é mais uma da classe média desocupada e amoral. Lembra do entediado Marquês de Sade promovendo orgias no séc. XVIII? Tá super na moda, benhê.
Os 120 dias de Sodoma não acabam mais.

Tenha fé

Uma coisa que me intrigava muito a respeito de religião, quando eu ainda tinha, era como ter certeza que minha religião era a certa. Porque o que eu entendia era que a minha religião era a única certa no mundo, que seus seguidores eram especiais e escolhidos pelo todo poderoso. Até aí, melhor pra mim... mas e o resto das pessoas? Elas também acreditavam que suas religiões estavam certas, elas não seguiam a religião errada de propósito. Elas mereciam se foder no além? Essas questões perturbavam meus devaneios filosóficos infantis.
Outro pensamento derivado desse que me atormentava, era que deus devia ser bem malvado pra deixar tanta gente desinformada morrer sem direito de frequentar o paraíso. Sem contar os índios coitados, que foram todos pro inferno sem sequer ouvir falar de deus! Mas minha religião me ensinava que deus era só bondade e amor... parece confuso, mas explico: ele era tudo isso só com os filhos que o amavam e seguiam a cartilha certa.
Pra fechar essa questão de dúvidas existenciais e divinas, tinha o problema da fé. A fé nesse caso é substituta de argumento, cada vez que eu perguntava: como vou ter certeza que minha religião é a certa? Eu ouvia: você deve ter fé. Mas, veja bem, as outras pessoas também têm fé em outra coisa... Recebia de volta aquela expressão meio compreensiva, meio repreensiva. E lá vinha a história de Adão e Eva que comeram do fruto da árvore do conhecimento, a despeito das recomendações divinas, e foram expulsos do Éden. E entendia que devia ter fé e guardar meus pensamentos pecaminosos pra mim e rezar pra deus não estar prestando atenção. Porque ainda por cima ele tudo sabe e tudo vê.
Resumo da ópera: tenha fé, não pense demais nem questione, siga as regras ou pode acabar no inferno. Fala sério, não dá pra ser feliz assim! Daí que eu desisti desse negócio de ir pro céu, de ficar com medo dos pensamentos, de me segregar do resto do mundo, de sentir pena dos índios que foram pro inferno e etc. Daí que mandei deus às favas e resolvi inventar meu caminho. Daí que é difícil estar solta no mundo. Daí que é gostoso trepar antes do casamento. Daí que é essencial usar camisinha. Daí que acho que os gays têm direito de existir. Daí que tenho valores.
Infelizmente o que sobra disso tudo é a culpa, a única coisa que ainda não perdi é essa culpa desgraçada, mas as coisas aprendidas na infância, tanto as boas como ruins, são difíceis de mudar mesmo. Mesmo quando a gente sabe que são tolices.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

E por falar nisso...

Lembrando de coisas que mãe não aprova, lembrei que até bem pouco tempo eu não falava palavrão em público. De vez em quando um filha da puta, mas só.
Então fiquei pensando, de onde saiu esse bloqueio? Aí lembrei de quando eu tinha uns 6 anos e bem na frente da escola tinha um muro onde estava pichado BUCETA. Euzinha na pureza dos meus 6 anos e pouca leitura fui perguntar pra minha mãe o que queria dizer.
Ela explicou: é um jeito muito feio de falar florzinha, vc não deve falar essa palavra feia. Promete?
Prometo.
E cumpri a promessa por vários anos, afinal nunca quis decepcionar a mamãe.
Até que chegou um momento da minha vida que eu precisava botar os palavrões todos pra fora. Abri as comportas e não parei mais, agora eu falo todos.
Falo cabaço, que sempre odiei e nem sei se é palavrão. E xoxota, também não gosto mas falo adoidado. Uma opção que curto pra xoxota é xana, acho mais natural. E tem PORRA que sempre foi meu sonho poder dizer à vontade.
Mas tenho meus preferidos. Pra xingar quando bate o dedão na quina é BUCETA.
E pra qualquer coisa boa ou ruim é CARALHO. Esse é sem dúvida o palavrão mais versátil. É do caralho!
Pra nomear o dito cujo gosto muito de pau, cai bem durante o ato. Pinto é tão espontâneo que dá vontade pegar logo de uma vez. Já bilau é broxante, assim como bráulio, blargh! Chupa meu bilau?! Péssimo.
Hoje em dia falo palavrão até perto da minha mãe, ela continua pura nas palavras mas não se incomoda mais comigo.
Ela entendeu que minha florzinha virou buceta faz tempo.

Masoquista

A dor. Ai a dor é uma delícia.
Me lembra que estou viva. Me acorda.
Minha moleza só se mexe na dor.
Ai de mim!
Queria tanto encaixar essa frase em algum lugar.
Tipo assim: Que ônibus lotado! Ai de mim!
Queria fazer uma tragédia pra dizer o tempo inteiro:
Ai de mim.
Ai como dói. Tem dores que doem mais.
Tem dor que dói tanto que me faz escrever.
Tem dor que me faz morrer.
Tem até dor que me faz trepar.
Tem dor pra tudo.
Ai de mim! Desgraçada que sou...
Minha mãe nunca me deixou falar desgraçada
E eu sempre adorei essa palavra
Ô desgraça!
Que dor desgraçada!
Ai de mim!
Ai que delícia...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Pára senão atiro

O pai atirou no próprio filho pensando que fosse um ladrão.
O filho, que costumava dormir cedo, chegou da balada e forçou a porta pra não ter que acordar os pais. O pai acordou e recebeu o intruso a balas. Era o filho, que morreu antes de chegar ao hospital. Agora o pai está sedado e já tentou suicídio 3 vezes. Deve ser bem mais fácil morrer do que sobreviver depois disso.
Pode ser implicância minha, mas não me espanta que o tal pai fosse PM. E uma coisa é certa, ele se sentiu no direito de matar quem ousou abrir a porta de sua casa.
E aí ele aprendeu que vale a pena pensar um pouco antes de atirar em alguém.
Aliás, será que vale a pena atirar em alguém?