quinta-feira, 30 de junho de 2011

compartimentos (in)adequados

acho que é o momento de sair do armário.
choque.como assim? você esteve dentro de um armário, desde quando?
não sei, me disseram que eu tava saindo.
e você acredita que tava num lugar assim?
acho que estive sempre em lugares indefinidos, instáveis.
um armário me parece bem estável.
é, armário é aquilo lá sempre, a mesma ideia. mas to saindo de onde então?
talvez de uma prateleira onde tava temporariamente encostada.
eu tava encostada?
ah, tava sim, isso tava.
mas foi temporário, não foi?
foi.
na verdade eu tava procurando um jeitinho de me jogar da estante.
eu sei, eu te conheço.

terça-feira, 28 de junho de 2011

vista de pontos

às vezes dentro me parece bom, ainda que sempre pense fora sempre fora
de repente percebo que fora é mesmo melhor, muito muito melhor
de fora pra dentro, olho e não quero mais estar dentro/fora/dentro/fora
por outro lado, sempre fora parece utopia minha: menina sempre utópica
de cima, vejo um fora amplo demais pra minha pequena subjetividade infinita
do lado de baixo, parece que dentro é grande o suficiente pra minha objetiva

às vezes tenho ímpetos inventivos rebeldes aqui fora/dentro e vontade de inventar uma línguafalada ampla ampla fala sem vírgulas pontos e sinais conhecidos sinto uma mmmrrrgagaga umamamania destrutiva de contruirir espaços fluídoss foraentredentro em todos os meus cantos canto lalalaaa uma melodia melosa que não me lembro lá lálá lere larí larí daqui de cimadentroforabaixoentres sopro um oi um ah um eh um shhh shiu

quarta-feira, 22 de junho de 2011

da série "ridículas"

hoje foi assim, me ajoelhei e chorei porque devia porque sim
eu nem queria foi algo assim, saiu aos jatos e molhou o guarda pó
pedi perdão ajoelhei e chorei
porque não parava não parava não

perdão pela água e pelo guarda pó, perdão
desculpas eternas pelas ausências precisadas e pelos apelos emocionais
não é meu hábito, veja bem
implorar assim perdão

mas é que to sem nada e sem nada a gente pede

sexta-feira, 17 de junho de 2011

sem lenço

eu até gostaria de escrever de alguma profundeza hoje, sabe que tenho essa mania velha de profundidades
gostaria de abordar as filosofias do amor e do desamor, dos hábitos e outras construções humanas
mas esse negócio de ser humano que ama e constrói relações duradouras
me parece estranho hoje
talvez seja a sexta-feira, talvez seja o vazio que está
me jogo então nas construções jovens que parecem feitas para serem extintas
falo em 140 caracteres as maiores graças, compartilho momentos de mínima e máxima intimidade face to face
to procurando um espaço onde eu seja possível, uma página onde possa imprimir meus suspiros e afagos instáveis
to cuspindo umas bobagens que ficaram guardadas devido às grandes responsabilidades
to curtindo essa saliva grossa e arroxeada que sai em jatos
e os espasmos quase sempre controlados
que eu não sei como serão
na próxima
tentativa

sexta-feira, 10 de junho de 2011

palavras pequenas

se um dia você tivesse lido ou ouvido algumas das minhas palavras
(essas palavrinhas mal selecionadas e agrupadas, daqui mesmo)
ou quaisquer das minhas palavras mal colocadas e confusas espalhadas por aí
as palavrinhas saídas da minha boquinha hesitante
se um dia você tivesse tentado entender o que eu murmurava, em evasivas talvez
talvez
talvez você tivesse evitado usar frases gastas
porque eu não ouço o vazio
eu entendo a bagunça toda de uma frase mal formulada eu gosto da falta de clareza e rebuscamento emocional gosto até da histeria informativa eu amo as bobagens ditas e re-ditas
mas eu não suporto não me interesso e não ouço frases gastas e isso
essa tragédia eu não aceito
você não se dar ao trabalho de pensar alguma palavra pra me dizer

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Psicofísica

Um dia me disseram que as ações eram psicofísicas, ou seja, cada ação humana tinha uma dimensão psicológica e não apenas uma dimensão física. Nesse mesmo caminho, descobri que as ações físicas quando executadas com dedicação e atenção apontam para os nossos sentimentos, sendo assim, é possível trazer os sentimentos das ações apenas executando-as fisicamente. O mais interessante dessas descobertas foi conhecer minha capacidade de observação de mim mesma. Neste universo de ações externas e internas, cada acontecimento tem importância e impacto sobre as nossas ações psicofísicas. Cada acontecimento altera nossa relação com as ações. Elas podem ser explícitas, mas raramente o são. Quase sempre, neste universo, as ações possuem um subtexto. Quase sempre as ações físicas vêm recheadas de sentimentos que, como tais, são internos e lá dentro devem ficar. No entanto, esse sentimento sempre vaza um pouco, já foi dito que nossas ações estão preenchidas de sentimentos. Esse sentimento vaza e dá qualidades únicas às ações. A questão pode ser resumida assim: você pode escolher as suas ações e deve fazê-lo de modo que suas próprias ações te encaminhem para determinado estado de sentimento, ou emoção. Seria muito mais difícil escolher os sentimentos que levariam a determinadas ações. Mas veja bem, o início do caminho é uma coisa, o restante do caminho é só dúvida e amor. O início parece fácil, no entanto, não devemos esquecer que o caminho é longo e indefinido. O caminho será criado por quem escolhe e executa as ações e, só é possível construir um caminho interessante se ele não for 100% conhecido. Ou seja, as ações nunca devem ser repetidas e cabe ao ator criá-las, usar toda a sua energia criadora nesta tarefa. Ações que se repetem são chamadas de clichês.

CORTA

AGORA FAZ O SEGUINTE: VOCÊ VEM ANDANDO E VÊ ESSE CARA. ELE É LINDO E TAMBÉM OLHA PRA VOCÊ. AÍ VOCÊ FICA TÍMIDA E OLHA PRO CHÃO. VOCÊ TOMA CORAGEM E OLHA PRA ELE, SORRISÃO. ELE SORRI DE VOLTA.

AGORA IMAGINA QUE AQUI TEM UM ESPELHO. VOCÊ TÁ NO SEU MOMENTO, SOZINHA. VOCÊ SE OLHA, MEXE NO CABELO, SE SOLTA PORQUE NÃO TEM NINGUÉM OLHANDO. ISSO, BEM CHARMOSA E DIVERTIDA, PODEROSA.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

fetiche

depois de abrir o meu coração ainda pulsando ela me disse que era ficção e quis algo real
abri com um bisturi improvisado minha paleta de cores frias e quentes
ela achou demasiado estético e com isso quis dizer falso
falsa eu em todas minhas cores e movimentos?
é o que eu tenho de mais verdadeiro pra te dar
e isso explica inclusive a minha fixação pelo seu pescoço serpenteante quando está assim de costas