segunda-feira, 6 de junho de 2011

Psicofísica

Um dia me disseram que as ações eram psicofísicas, ou seja, cada ação humana tinha uma dimensão psicológica e não apenas uma dimensão física. Nesse mesmo caminho, descobri que as ações físicas quando executadas com dedicação e atenção apontam para os nossos sentimentos, sendo assim, é possível trazer os sentimentos das ações apenas executando-as fisicamente. O mais interessante dessas descobertas foi conhecer minha capacidade de observação de mim mesma. Neste universo de ações externas e internas, cada acontecimento tem importância e impacto sobre as nossas ações psicofísicas. Cada acontecimento altera nossa relação com as ações. Elas podem ser explícitas, mas raramente o são. Quase sempre, neste universo, as ações possuem um subtexto. Quase sempre as ações físicas vêm recheadas de sentimentos que, como tais, são internos e lá dentro devem ficar. No entanto, esse sentimento sempre vaza um pouco, já foi dito que nossas ações estão preenchidas de sentimentos. Esse sentimento vaza e dá qualidades únicas às ações. A questão pode ser resumida assim: você pode escolher as suas ações e deve fazê-lo de modo que suas próprias ações te encaminhem para determinado estado de sentimento, ou emoção. Seria muito mais difícil escolher os sentimentos que levariam a determinadas ações. Mas veja bem, o início do caminho é uma coisa, o restante do caminho é só dúvida e amor. O início parece fácil, no entanto, não devemos esquecer que o caminho é longo e indefinido. O caminho será criado por quem escolhe e executa as ações e, só é possível construir um caminho interessante se ele não for 100% conhecido. Ou seja, as ações nunca devem ser repetidas e cabe ao ator criá-las, usar toda a sua energia criadora nesta tarefa. Ações que se repetem são chamadas de clichês.

CORTA

AGORA FAZ O SEGUINTE: VOCÊ VEM ANDANDO E VÊ ESSE CARA. ELE É LINDO E TAMBÉM OLHA PRA VOCÊ. AÍ VOCÊ FICA TÍMIDA E OLHA PRO CHÃO. VOCÊ TOMA CORAGEM E OLHA PRA ELE, SORRISÃO. ELE SORRI DE VOLTA.

AGORA IMAGINA QUE AQUI TEM UM ESPELHO. VOCÊ TÁ NO SEU MOMENTO, SOZINHA. VOCÊ SE OLHA, MEXE NO CABELO, SE SOLTA PORQUE NÃO TEM NINGUÉM OLHANDO. ISSO, BEM CHARMOSA E DIVERTIDA, PODEROSA.

3 comentários:

daniel disse...

aqui os clichés são também as fotos/negativos, além do "lugar-comum".

e, no fim, a gente chega sempre no pessoa. o ator/poeta/escritor (inclua o que mais quiser aqui) é um fingidor que chega a fingir que é dor...

a passagem pra maiúsculas é sintomática.

flávia coelho disse...

a questão mais difícil pra um ator no seu "mercado" é dar algum calor aos clichês, no fim das contas.
deve ser o mesmo que um escritor sente ao escrever um roteiro pra publicidade, ou uma matéria/anúncio/tuíte qualquer.
aí chego às conclusões libertadoras: estudamos e nos dedicamos ao estudo de certa linguagem por puro prazer, ainda que seja mais reconfortante achar q estudamos por necessidade e que um dia vamos receber algum dinheiro por isso.

daniel disse...

vâmo lá.

dedicar-se a algo por prazer quer dizer que esse algo responde a alguma pulsão interna, na medida em que é intimamente ligado a um desejo do sujeito. e aí fica fácil justificar o gosto com necessidade, por mais que a escolha de desenvolver este ou aquele desejo não passe de escolha pessoal sujeita aos dissabores das circunstâncias (que rebuscado eu)
e aos critérios subjetivos de cada um.

a questão do dinheiro é aquele bom e velho elemento castrador que acaba servindo como crivo, de certa forma, pelo qual só passam aqueles que o têm e podem escolher a que se dedicar, ou então aqueles obstinados que se dedicam, comem merda e conseguem lidar com a essa espera de ritmo frustrante sem perder o fôlego em definitivo no meio do caminho. meio do caminho que costuma engolir uma série de candidatos a amantes dessas artes.

mas o que me incomoda mesmo é o fato de que o estudo é fruição, mas também é sistematização. e, a partir do momento que o objeto de desejo é esmiuçado, você passa a entender as coisas melhor, vai se aprofundando, mas também passa a ser mais crítico. a meu ver, isso geralmente tira o caráter espontâneo que, bem ou mal, dá charme e graça à imprevisibilidade do desejo e acaba tendo o efeito inverso: o estudo passa, ele também, a ser um crivo que mais exclui os defensores de uma arte do que os faz embaixadores dela.

vale a pena virar especialista em minúcias ou ter o eterno prazer de amador? e isso me leva praquela discussão das artes plásticas envolvendo o trabalho dos loucos nos manicômios -- é arte mesmo ou é só devaneio?

isso é pano pra várias mangas e nem sei se eu me fiz entender até aqui. mas, ah, como eu gosto de discutir essas coisas com você.

[sobre o clichê, as mesmas acepções valem pro francês e pro português, mas nunca ouvi alguém chamar "retrato" de "clichê" em terra brasilis, coisa que aqui é relativamente comum, por isso meu comentário achando que fosse um dado inédito.]