segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

#FrasesDeClarice 2

Escuta essa, Clarice. Ontem eu vinha andando pela rua, acendendo um cigarro. Duas travestis, que estavam sentadas na porta dos fundos do kilt, me pediram cigarro. Eu tirei um cigarro pra cada, ofereci fogo, etc. Uma delas ficou realmente agradecida.

- Nossa, obrigada. Um cigarro pra cada uma...
- Imagina... - eu tinha acabado de comprar um maço.
- Deixa eu ver seu rosto. Nossa como você é linda!
- Obrigada.
- É sério, você é linda mesmo. Posso te dar um beijo, assim... no rosto?
- Claro.
- Não acredito! - e me beijou, um de cada lado.
- Vou indo nessa, tchau!
- Tchau, prazer.
- O prazer foi meu.

Aí fiquei pensando, elas estavam realmente sujas. Fiquei pensando, o prazer foi meu. Pensei em quantos beijos ganhei no rosto naquele dia, nem sei quantos. Eu ganho muitos beijos no rosto diariamente e grande parte não quer dizer nada. Ninguém me pede autorização, posso te dar um beijo? Não me lembro de nenhum outro beijo nessa semana, só desse. Ficou meia marquinha de batom com sujeira na minha bochecha. Chegando em casa eu tive que me lavar e, mesmo sem querer, pensei em conferir se o celular continuava na bolsa. A situação pareceu surreal. Que você achou dessa?

- Eu quero olhar para o lado e estar cercado só de quem me interessa.
- Fiquei justamente em dúvida sobre isso, o que nos interessa? quem?
- Finjo que alguém está me dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono.
- Hãã.
- Quando me entrego, me atiro. Mas quando recuo, não volto mais.
- Clarice, você tá chapada?
- Eu grito: eu sinto, eu sofro, eu me alegro, eu me comovo. Só o meu enigma me interessa.
- Ok, Clarice. Beijotchau.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

#FrasesDeClarice

Não sei o que houve mas não amo mais Clarice. Eu achava que cada frase de Clarice era uma surpresa, uma vírgula na vida. Agora vejo suas frases se proliferarem e não me dizem mais nada. Nem sei se as suas frases são mesmo suas, algumas não são.
Acho que os olhos de Clarice envelheceram, ou suas visões se perderam na indelicadeza dos meus dias. Suas perguntas não me inquietam mais, ou eu fiquei velho para as perguntas. Ah, Clarice não te amo mais. Juro que queria ainda te amar, queria mas não dá mais. Você não tem mais nada que me espante.

Ontem, olhando da janela vi um rapaz sendo assaltado. Ele trazia uma pizza e um guaraná. Não levaram a pizza, a fome era outra. Ele correu sem convicção com a pizza na mão. O guaraná na outra. Foi até a esquina olhou o ladrão e voltou. Voltou para o prédio onde mora, pareceu que enxugava os olhos. Balançava a cabeça.

- O que você pensa Clarice?
- Muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente.
- Não entendi.
- Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimentos.
- Ele foi assaltado com a pizza na mão.
- Uma pessoa livre, realmente livre, é aquela que não tem medo do ridículo.
- É, ele se sentiu ridículo correndo com a pizza.
- Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
- Esquece Clarice. Tchau.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Paris é...

Ainda não me acostumei com a sua ida a Paris. Nem tanto pela inveja, nem pelo sonho que sempre foi Paris para nós mortais pobres. Porque é muito diferente IR para Paris e passear em Paris todas as férias. Para nós tem cara de sonho, ou tinha.

Paris é uma festa, dizem.
Espero que seja uma festa mesmo, você vai aproveitar bastante. Só não sei como vai sobreviver à festa sem a gente. Quem vai controlar sua bebida, seu fumo, sua alegria? Ok, finalmente sem controle...
Pelo menos volte escritor, não volte antes disso. Não me venha com desculpas. Não me venha com a falta de tempo e o excesso de trabalho. Não vá até Paris pra trabalhar, não vá.
Aproveite nossa ausência e esqueça que é um rapaz maduro desde o nascimento.
Paris é uma puta, dizem, e acho que até você pode curtir uma putona. Não vá até lá pra comer camembert e tomar vinho na taça.
Use boina, cachecol ou gola rolê. Se colocar tudo junto me manda uma foto.

Ainda não me acostumei com essa ida a Paris.
Essa ida repentina me coloca diversos problemas que não sei como resolver.
Como suportar as tarde chuvosas de verão? Aposto que em Paris não chove todo dia.
Quem vai me socorrer no caso de mais uma separação?
Com quem vou conversar academices? E as reflexões filosóficas?
E pior: o que vou fazer com a minha já conhecida mediocridade? Ela ficou em evidência e isso é difícil perdoar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

eu, eu e eu

Hoje olhei pra minha cara e não me reconheci. Isso já aconteceu antes, mas faz tempo. Não conheço essa menina com cara de bolacha, sorrindo. Ela abraça as pessoas e sorri. Ela parece simples e feliz. Não conheço, não. Balanço minha cabeça pesada e tento, em vão, lembrar. Que eu me lembre... não consigo abrir mão de um aposto entre vírgulas.