quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

#FrasesDeClarice

Não sei o que houve mas não amo mais Clarice. Eu achava que cada frase de Clarice era uma surpresa, uma vírgula na vida. Agora vejo suas frases se proliferarem e não me dizem mais nada. Nem sei se as suas frases são mesmo suas, algumas não são.
Acho que os olhos de Clarice envelheceram, ou suas visões se perderam na indelicadeza dos meus dias. Suas perguntas não me inquietam mais, ou eu fiquei velho para as perguntas. Ah, Clarice não te amo mais. Juro que queria ainda te amar, queria mas não dá mais. Você não tem mais nada que me espante.

Ontem, olhando da janela vi um rapaz sendo assaltado. Ele trazia uma pizza e um guaraná. Não levaram a pizza, a fome era outra. Ele correu sem convicção com a pizza na mão. O guaraná na outra. Foi até a esquina olhou o ladrão e voltou. Voltou para o prédio onde mora, pareceu que enxugava os olhos. Balançava a cabeça.

- O que você pensa Clarice?
- Muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente.
- Não entendi.
- Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimentos.
- Ele foi assaltado com a pizza na mão.
- Uma pessoa livre, realmente livre, é aquela que não tem medo do ridículo.
- É, ele se sentiu ridículo correndo com a pizza.
- Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
- Esquece Clarice. Tchau.

4 comentários:

Zíngara disse...

Apenas um recado.

Zíngara disse...

Acho que essa clarice é ficção.
Assim como o nosso viver tambem é inventado.
Nós e que fazemos tudo virar realidade.
Eu acho...sei lá...

Sua mãe disse

daniel disse...

eu acho sim que a clarice tem seu valor. mas o que aconteceu foi que, feitas as devidas ressalvas, ela se tornou algo como a versão feminina do jabor (fralda nele!) e do veríssimo na internet: autora de todos os textos e aforismos que circulam em e-mails desajuizados por aí.

e então não há santo que aguente, não há literatura que sobreviva com tanta bobagem guela abaixo. não sobra nem pizza nem guaraná, entende?

além do quê, você é que pode não estar passando por uma fase clarice. e no fim das contas a gente é egoísta assim mesmo: se apaixona pelas leituras quando elas valem a pena pra gente. depois fica só aquele sentimento de ex amigável, umas lembranças que o livro te suscitou, um choro descontrolado, algum algo que não te representa mais.

e, nesse ponto, estar acima da ucraniana da língua presa (sem se achar superior, claro), talvez queira dizer que você está mais bem resolvida consigo do que os turbilhões emocionais que costumam aparecer nos livros dela e não te significam tanto mais, por mais que tenham seu valor de questionamento.

uma hipótese.

flávia coelho disse...

acima da ucraniana jamais. o resto todo, com certeza! só vc me entende...
e só lembrei agora: a mais conhecida escritora brasileira do momento é ucraniana, esposa de diplomata e mãe. parece personagem do maneco.
ai, to implicante.