segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Aprender a desaprender

Quando eu era pequena achava, sinceramente, que eu era digna de sucesso. Não, não é isso. Quando eu era pequena, eu achava que podia fazer qualquer coisa. Ainda não é isso. Quando eu era pequena fazia tudo que eu imaginava.
Eu escrevi, atuei e dirigi uma peça na 3ª série. Também coreografei e dancei duas músicas da xuxa, com paquitas, na escola. Na mesma época criei um jornalzinho da escola, com vários colaboradores. Pouco depois criei um mural-correio na escola. Por volta dos 10 anos organizei um desfile caipira (era um evento inédito) para a festa junina da escola. Eu era um prodígio, pelo menos a diretora da escola acreditava nisso.
Algumas tentativas de assédio sexual, assédio moral, espancamento e difamação contra mim também ocorreram na mesma época.
Depois desse período, fui ficando cada vez mais reservada. E veio a adolescência. Minhas vontades começaram a me parecer cada dia mais idiotas. Ser invisível me pareceu mais agradável e mais seguro.
A medida que fui ficando mais invisível, minha vida foi se tornando mais fácil. E assim passei a adolescência toda tentando sumir, tentando ser mais uma. Consegui, ou quase.
Hoje eu penso em quanta violência eu sofri na infância, imagino que outras crianças também tenham sofrido. Penso no quanto essa violência foi importante para destruir uma insipiente criatividade, razoavelmente independente.
É assim que se educa crianças ainda?
Aos 30, fico aqui tentando driblar uma derrota prevista, uma frustração antecipada. Quase sempre na base da invisibilidade temporária. Aprendi direitinho.
Falta agora desaprender tudo que a escola me ensinou.

Um comentário:

DRÊ disse...

Esqueceu de falar da madrasta quase perfeita que vc fez um dia. Digo quase ... pq perfeita vc faria ela agora !!!