quarta-feira, 14 de julho de 2010

Arrabalde, as algemas

Será preciso andarmos de mãos dadas? Por onde olho estão os pares de mãozinhas grudadas. Depois que vi as algemas, entende? Sei que não entendeu quando te disse, mas é claro: as algemas, a dor e a felicidade. Sobretudo a felicidade me incomoda. E, todas grudadas, será preciso sempre todas? Todas me incomodam.
Preferia que nossas mãos estivessem soltas, ou fundidas. Se elas estivessem ensanguentadas e esmagadas juntas. Violentas. Fundidas em uma massa vermelha, cúmplice. Só se fosse assim. Ou soltas, esvoaçantes e lúcidas.
Será preciso explicar mais alguma coisa? Me incomoda que ninguém veja as algemas e o sacrifício que elas me custam. Preferia que a dor fosse explícita, vermelha e roxa. Preferia, ainda, que minhas mãos estivessem soltas e extremamente lúcidas. E você, o que pensa? Eu gosto das suas mãos nas minhas me arrastando cidade afora, mas veja: todas estão grudadas. Todos estão de mãos dadas e não vêem, isso me incomoda.
Eu gosto das suas mãos nas minhas, me arrastando cidade afora.
Será preciso andarmos de mãos dadas?
Algemas, por favor.

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