quinta-feira, 9 de agosto de 2007

História inventada pra uma pessoa real

Já era pequeno quando nem sabia a diferença entre grande e pequeno, nasceu pequeno. Todo mundo nasce pequeno, mas ele era mais pequeno que os outros.
Quando começou a entender a diferença entre grande e pequeno já sabia que era menor que os outros, ou melhor, que sempre seria menor.
Cresceu assim, pouco e sempre consciente de sua pequenez. Passou por todas as fases que as crianças passam, era menor mas não se importava ou tentava. Primeiro dia de aula é assustador pra todo mundo, pra ele também. Quinta série dá aquele frio na barriga, nele também. Primeiro beijo dá medo, nele também. Ele era tão corajoso ou tão medroso quanto os colegas, crescer não é facil pra ninguém mesmo e ele tentava se convencer que pra ele era igual. Mas não era, ele não ia crescer.
Na adolescência que percebeu quanto tinha custado chegar até ali, e quanto ressentimento o acompanhava. Na verdade ainda não tinha consciência de nada, só do ressentimento. E fez o que tinha que fazer sendo jovem e ressentido, fez o que todo mundo faz na adolescência e acumulou mais um tanto de ressentimento.
Não sabe bem ao certo como nem quando aconteceu, mas um dia era adulto e pequeno. Via o mundo sempre da mesma perspectiva desde criança, cansou. Podia trabalhar num circo, usar perna de pau, a idéia não era má. Podia trabalhar de animador de auditório no Ratinho, era humilhante mas. Podia fazer muita coisa pra subir na vida, inclusive arrumar um emprego qualquer como todo mundo fazia, não era tão difícil. Podia fazer muitas coisas, mas já estava acostumado com sua posição no mundo, no rodapé. Mudar parecia muito complicado, precisava encontrar uma função adequada à sua experiência. Um dia percebeu que era o candidato perfeito ao cargo de mendigo, tinha grande experiência em ser olhado com o canto do olho, tinha intimidade com a margem, sempre vivera perto do chão, era só sentar e estender a mão. Foi assim que assumiu seu lugar na sociedade, representante de duas minorias se tornara uma minoria muito pequena, talvez a menor de todas. Mendigo e anão.

2 comentários:

Anônimo disse...

Excelente.

flávia coelho disse...

Olá anônimo, fiquei feliz com sua presença, não é qualquer blog que tem comentários anônimos! Volte sempre.

E roseven continua infame, rs. Beijo.