sexta-feira, 24 de agosto de 2007

noite de festa

Descia zigue-zagueando a nestor pestana, as pernas pesadas do vinho tinto seco chileno.
Zigue-zagueava em alta velocidade na rua das putas, ou pelo menos tentava. O cheiro de buceta da nestor a incomodava, não que se incomodasse com os puteiros, pelo contrário. Achava puteiro uma coisa honesta, simpatizava até, vendia sexo pra quem tinha dinheiro e vontade de comprar, mais direto impossível. Divagava e zigue-zagueava.
Voltava sozinha pra casa depois de mais uma noite de comemoração, era aniversário da amiga do amigo do amigo e uma ocasião dessas não poderia passar em branco. Tomaram muito vinho chileno e prosseco nacional, agora a cabeça girava e as pernas pesavam. E a nestor pestana parecia interminável.
No fim da rua ficava sua casa, lar doce lar, onde um colchão jogado no chão e uma TV em cima de uma caixa a esperavam. Que mais precisava? Uma cama, uma TV e uma comemoração de vez em quando.
Enquanto zigue-zagueava pela nestor, lembrava da discussão na mesa do bar, alguém tinha resolvido ser sincero e falar as verdades que todos calavam. Ela via a discussão e não conseguia entender, foi mais ou menos nessa hora que tudo começou a girar. Na mesa ninguém se ouvia, ela ouvia tudo e não entendia nada, porque estavam tão zangados? Aquelas bobagens ela já tinha ouvido em várias ocasiões, um sempre falava do outro quando o outro não estava, eles não sabiam disso? Girava, enjoava e não entendia mais nada. Não eram amigos, afinal? Levantou e foi embora, não se interessava pelo fim daquilo.
Chegando em casa fez o de praxe, tirou a roupa que cheirava a cigarro e jogou dentro do armário bagunçado, escovou os dentes e deitou. Levantou, vomitou o vinho tinto, o prosseco, as torradas de alho com sardela e voltou a deitar sem escovar os dentes. Dormiu um sono estranhamente tranquilo, nenhum sonho bêbado.
Acordou cedo, que era dia de trabalho, a cabeça ainda pesada do prosseco, as pernas moles do vinho. Sempre acabava se arrependendo dessas noitadas no meio da semana. Tomou um banho pra acordar e tirar o cheiro de fumaça do cabelo, vomitou uma gosma verde, escovou os dentes, escolheu uma roupa qualquer entre as menos amassadas e foi.

4 comentários:

Unknown disse...

adorei a parte do 'eles não sabiam disso?'

é tão óbvio e ululante que as pessoas preferem fingir que isso não existe.

flávia coelho disse...

num é?

Unknown disse...

o óbvio incomoda em certos casos.

flávia coelho disse...

e não deveria, né? é uma bobagem, é só o que é... nada além