segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Casamento

Há pouco tempo fui convidada a ser madrinha de casamento, já tinha sido convidada uma outra vez e tinha sido bem sucedida, portanto aceitei. Pra deixar tudo claro desde o início já avisei que não tinha dinheiro pra presente caro, a noiva me dispensou do presente e ainda me deu uma panela de pressão que tava sobrando. Isso é que é madrinha de honra.
No dia do casório parti rumo à igreja evangélica no fim da zona leste, que você pensa que sabe onde é mas não tem a mais vaga idéia. Fui eu, refém do motorista e padrinho que me ofereceu uma bem-vinda carona. Até aí, moleza. Duas horas depois cheguei ao destino e pude me vestir, maquiar e todo aquele nhém-nhém-nhém de madrinha que não quer fazer feio diante de desconhecidos.
Pois é, eu não conhecia ninguém. A mãe por alto, uma irmã, uma prima e o noivo mais de ouvir falar que de presença. Me perguntava ( e todo mundo também) porque eu era madrinha. Simpática, tentei me entrosar e descolar uma turma legal pra ficar na festa. O padrinho não ia rolar, uma vez que a ex-namorada furiosa já deixara claro que aquele rapaz feioso era só dela. Por mim, tudo bem.
A noiva atrasou uma horinha, normal. Quando ela chegou nos dirigimos ao altar. Entrada dos padrinhos, normal. Todos a postos e a noiva vai entrar. Opa, a noiva resolveu cantar antes de entrar. Pena que era desafinada coitada, mas o noivo ficou feliz, ou nervoso? Não sei. Agora entra. Eita, uma declaração de amor no microfone. Agora entra. Opa, mais uma música que outra cantou, menos mal. Entra ou não entra?
Entrou. Toda de rosa e paetês feito uma barbie antiga. Quando ela me perguntou eu disse que achava brega, mas ela achava lindo e estava feliz. Foi andando até o altar, na frente da dama de honra que era pra não ser ofuscada. Encontro com o noivo, aquela emoção. Normal. O pastor vai começar a falar, mas calma antes tem mais uma música. Ai ai ai, cada música tem uns 10 minutos faça as contas. Um casal gordo cantou, esguelou e abafou. Deixa o pastor falar, minha gente.
Ela tinha me dito que o pastor era rápido, eu pensava nisso depois da primeira meia hora. Pausa pra mais uma música, dessa vez interpretada por duas moças gordas. O pastor retomou, blá blá a mulher deve obedecer ao esposo, blá blá a esposa deve apoiar o marido, blá blá no livro tal, versículo tal. Pausa pra mais um casal gordo e cantor, porra todo mundo canta nessa igreja?
O altar cheio de padrinhos começou a girar, apagaram as luzes e ligaram o estroboscópio. Gente, que loucura de casamento é esse? A festa já começou?
Acorda Flávia, tá tudo bem? Ai, acordei e descobri que tinha desmaiado. Ainda bem que acordei antes do padrinho me soltar que o coitado já não tava aguentando.
A noiva me olhava, o noivo me olhava, os padrinhos, pais, todos os convidados e até o pastor me olhava. Fiz um sinalzinho de ok pro pastor e um discreto vou sentar pra todos.
Sentei e vi o resto do casamento da primeira fila. Enquanto o pastor continuava o discurso, outros cantores se alternavam e eu pensava, eu nunca desmaiei, porque justo agora? Na igreja evangélica? Porque se fosse em outro lugar o máximo que ia acontecer era o povo achar que eu bebi antes da cerimônia, ou que não tinha comido, por mim tudo bem. Mas ali todo mundo ia pensar que eu tava possuída pelo demônio! Enquanto eu assistia o casório lá na frente eu sabia que todo mundo tinha esquecido da noiva e especulava sobre meu desmaio, ainda mais porque o casamento tava um tédio. Olhavam pra aquela menina simpática, vestida de roxo, bonita, desconhecida e pensavam, essa menina precisa de um exorcismo rápido. Aliás, até eu fiquei na dúvida se não valia a pena pedir um exorcismo expresso ao pastor, será possível que era coincidência eu desmaiar logo ali?
Enquanto eu decidia a respeito do exorcismo o casamento acabou, eu saí com a fila de padrinhos da igreja e fui rapidamente cercada pelos curiosos que queriam saber o que tinha acontecido comigo. Eram duas filas, uma pra cumprimentar os noivos e outra pra falar comigo. Enquanto eu explicava pela décima vez, percebi que eu tinha me tornado a sensação do casório, já podia escolher em qual mesa eu ia sentar na festa. Sim, eles estavam pensando que eu tinha algo diabólico mas e daí? O importante é que eu estava arrasando. Pastor? Exorcismo? Que nada, vai ver esse é meu charme. E o charme não posso perder jamais.
E aí, quem vai sentar na minha mesa? Bora pra festa, galera.

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