quarta-feira, 10 de agosto de 2011

inspiração à revelia

Por vários dias eu escrevi sobre você, ou a partir de você e da sua voz ou respiração. Quase tudo que eu vi através de você precisou sair de mim e virar palavra, virar inspiração, porque era o que eu tinha pra te oferecer. Parece bonito, e foi, mas você reclamou da minha falta de concretude. Eu achava minhas palavras bastante concretas, você achava pouco.
Aí eu parei de escrever. Engraçado esse movimento de abrir mão da palavra em busca de outra coisa. Minha busca continuou a ser sua respiração, seu olhar, sua voz, mas também suas mãos. Passou a ser cada vez mais seu hálito, boquinha pequena e dedos longos. Esses temas gerariam muitos textos e palavras, mas preferi guardar todas em mim. Uma proximidade de carne e alma fugaz e lá se foi a poesia escrita.
Agora voltei a escrever. Tô aqui, longe do que gostaria de experimentar e guardar na minha pele. Engraçado como meu eu concreto de repente deixou de te interessar. Mais engraçado ainda é a volta da palavra, quase sempre ela vem me salvar da ausência. Então é isso, preferia ficar sem a inspiração poética, mas ela me consola na sua falta. Assim como as promessas (que também um dia fiz) de que logo estaremos perto.
Antes que você pergunte, sim, é um recado pra você. E sim, estou explorando você pra alimentar minha inspiração, de novo. Mas dessa vez preferia me calar.

Um comentário:

daniel disse...

a inspiração sempre espera uma falta pra se manifestar. talvez ela se baseie na falta pra virar avalanche.

o jeito é se contentar com a chegada dela, apesar dos pesares todos, que logo ela trata de correr pra longe, mesmo que a falta ainda não esteja suprida.