quinta-feira, 1 de setembro de 2011

ofélia

era uma vez uma linda princesa que se chamava ofélia. na verdade ela ainda não era princesa, mas o príncipe era a fim dela. ela era jovem e recatada, enquanto o príncipe era estudado e ousado. a jovem ofélia tinha que se preservar, pois segundo o seu pai, o príncipe só queria comer a sua bacurinha. a futura princesa ofélia lembrava dos presentes e das mãos do esperto príncipe com alegria e corava. torcia as mãozinhas e olhava pra baixo quando o pai lhe perguntava. papai, o príncipe tem demonstrado seus sentimentos com muito respeito e faz juras de amor eterno. sei! dizia o pai da ofélia. filha, você não pode se entregar aos prazeres da carne. o príncipe pode tudo, porque é príncipe. você precisa se guardar e arrumar um marido que te sustente, porque eu não vou durar pra sempre. sim papai, eu sei, eu sei. vou apagar meu fogo e procurar um marido mais sossegado, do meu nível social. e ofélia continuava sonhando e querendo o príncipe, porque todas queriam o príncipe. ela tinha sido escolhida por ele, ele realmente levava presentes e gostava da pele branca dela. como recusar o príncipe? o príncipe podia tudo. era o que ela dizia quando ninguém estava por perto. posso colocar minha mão aqui, ofélia? você é meu príncipe e eu sou sua serva. um dia será meu rei, faça o que quiser por favor.
um belo dia o príncipe deixou de comparecer e ofélia murchou. talvez ele estivesse maluco, era o que se dizia. o príncipe não dizia mais coisa com coisa, mandou ela se casar com outro. pra piorar a situação, o príncipe matou o pai da ofélia sem querer. ele era um príncipe e podia tudo. ofélia ficou sem o pai, sem o príncipe e sem marido. aí começou a falar o que passava pela sua cabeça, usava as roupas que bem entendia e cantava. começaram a dizer que ela também estava louca, um surto de loucuras. ofélia não parecia mais tão pura e usava expressões vulgares. o príncipe podia tudo, a rainha podia tudo e o rei também. mas ofélia não era princesa ainda, ela cantava e colhia flores. passou a ser tolerada como uma débil e frágil moça perdida, uma espécie acidente. por fim, numa reviravolta trágica, a bela e jovem ofélia se afogou no lago. livrou-se de uma vez da culpa, do desejo, da saudade do príncipe e da piedade de todos. a suicida foi sepultada no cemitério mesmo, como se isso fizesse alguma diferença pra sua carne podre. o príncipe, dado a tragédias e paixões de modo geral, pirou com a morte da ofélia. saltou sobre o caixão da menina e duelou com o irmão dela ali mesmo. ele podia tudo.
ofélia só podia morrer ou ir pra um convento, mergulhar foi uma aventura.

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