quarta-feira, 30 de setembro de 2009

corpos mudos

os corpos passam e passam
mórbidos
vivos e mortos em tempo real
invisíveis nas câmeras inteligentes
corpos invólucros,
embalagens biodegradáveis adequadas
corretos, secos
o corpo fala e diz que é hora: de trabalho, de descanso, de correr
é tempo de ir, sempre ir, sempre ir, ir ir ir ir ir ir
é tempo de ir a favor: do fluxo, da corrente, do tráfego
trafegar por mares já navegados, com pressa
corre que a vida vai! a vida não volta e os corpos menos ainda

corpo duro e uniforme na sua não-forma
preso à sua própria estratégia de não se deixar ver
corpo sem alma, sem identidade
silicone, tábua, tanquinho
clínica e salão de beleza, banho de lua pêlos claros
corpo estático
o andar que não se detém pela impossibilidade
corpo funcional, econômico e treinado para o nada
treinado, domesticado
cansado
o corpo fala e diz que não está

um degrau
um degrau que não estava na rua
um buraco na calçada e o corpo cai (ele não estava lá)
segure no corrimão: assim dizem ao corpo o que ele deve fazer a seguir
e o corpo não sabe onde estão suas pernas, o cóccix, a panturrilha, as escápulas
o corpo tropeça nas suas beiras
ele não vê sua morte nos outros corpos
jura que está vivinho da silva e goza às vezes.

Nenhum comentário: