segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Recomeço

Eu fecho o livro e os olhos. Eles ardem como se estivessem abertos há muito tempo.
Eu fecho os olhos e as palavras flutuam na minha frente. Flutuam e se embaralham.
Sei o que elas dizem mas não ouso compreendê-las.
As palavras travessas não cansam desse jogo, tentam me explicar o óbvio.
Fecho os olhos e abro um novo livro, mais complexo, que me explica profundidades. Mergulho neste profundo, a visão embaçada dos velhos óculos. Talvez valesse a pena trocá-los.
Parece simples comprar um novo par de óculos, mas não. Como deixar o olhar familiar por um outro, desconhecido? É como respirar uma nova atmosfera, lunar. Como é andar e respirar na lua sem capacete, uniforme e cabos conectores?
Tirar o dedo da boca, o cigarro, a garrafa, o pinto. Abrir a boca e tê-la livre.

Chupo o dedo da mão direita depois de muito tempo, sugo como se pudesse me encher de algo.
Algo invisível e indizível, algo que não conheço mas preciso. Sugo o dedo e os olhos afundam nas órbitas. A língua acaricia o polegar quase sem querer, com amor imenso e saudade.

Amor e saudade. Nunca sei porque os sinto ou por quem.
Talvez sinta por mim mesma, porque preciso senti-los. O dedo na boca me acalma e os olhos fechados só vêem sombra. Só sinto.
Sinto-me só e sei que sou só mesmo, só não queria senti-lo. Saber e sentir são diferentes.
Saber é prazer, alívio, segurança. Sentir é dedo na boca e olhos fechados. Nada explica ou pouco importa a explicação.
Qualquer explicação é mentira.
Sinto amor e saudade por mim que fiquei pra trás há mais de vinte anos. Pouco importa a explicação.
Cada amor é um reencontro com a menina, é dedo na boca.
Mas a menina sabe que é velha demais pra chupar o dedo, há mais de vinte anos.