quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Profundo?

Outro dia uma amiga escreveu a respeito de um post meu: " Profundo!!!" Talvez tenha sido ironia dela, não dava pra saber. Independente de a intenção ter sido irônica ou não, me peguei a pensar no que queremos dizer quando falamos que algo é profundo. Profundo parece ter uma qualidade melhor que raso. Aí me pergunto: profundo é melhor que raso?
Raso parece ser o que está na superfície, o que reconhecemos facilmente, o que vemos com clareza. Na praia vemos nossos pés na água rasa, mas não na profunda (pelo menos aqui no nosso litoral próximo e sujo) Profundo parece mais difícil conhecer, msterioso, demanda um esforço maior. Até aí tudo bem, nem melhor, nem pior.
Às vezes dizemos "profundo" quando não entendemos algo. O discurso é difícil? Logo mandamos um "profundo..." Ao mesmo tempo que expressamos nossa incompreensão, fazemos um elogio ao emissor do discurso "não é você que se expressa mal, eu que não sou capaz de compreendê-lo". Dito isso, não nos sentimos mais na obrigação de entendê-lo, nem ele de se fazer entender. Entramos na esfera do obscuro, quase sobrenatural.
Voltando a pensar no meu post, não acho que seja profundo. Fala de coisas conhecidas, rasas, clichês e também de coisas não tão claras, sentidas, incompreendidas. Ele não é profundo, nem raso. É composto por camadas e elas não se sobrepõem umas às outras, só estão lá, as camadas.
Fiquei pensando também em quanto essa noção de raso e profundo nos afasta de conhecer. Colocamos uma etiqueta: "raso" ou "profundo", e não precisamos mais pensar. Nem estou falando do post que eu escrevi, ele não merece tanta atenção, mas falo de tudo.

Segunda (26/01) li no jornal o imortal Evanildo Bechara falando sobre a reforma ortográfica. Ele ganhou uma página inteira no JT (do Grupo Estado) para falar sobre o assunto. Em momento algum ele colocou em questão a reforma. Nem mesmo as mudanças do pára e fôrma, que tinham acentos diferenciais (servem pra gente saber se o para é verbo ou preposição e se forma é de bolo ou física). Eu, particularmente, odiei essa parte da reforma. Enfim, ele apóia totalmente a reforma e no final da entrevista o repórter pergunta se ele se incomoda com as críticas. Ele disse que não, porque as pessoas que têm (esse acento caiu também?) conhecimento técnico sobre o assunto não colocam a reforma em questão e as pessoas que questionam não têm (^?) direito de criticar pois não têm conhecimento do assunto.
Conclusão: se você é um mortal como eu que usa a linguagem escrita apenas para se comunicar, não tem direito de questionar um imortal. Em outras palavras, esse assunto é muito profundo pra você. Por outro lado, a meu ver, o discurso do Sr. Bechara é muito raso. Confiram a entrevista, e os exemplos que ele dá, alguns são hilários.
Sei que não tenho conhecimento para discutir o assunto, mas não tô nem aí. Acho que o Sr. Bechara fica numa posição bem mais segura ao lidar com o assunto da reforma como se fosse de uma profundidade insondável. Imaginem se todos nós pudéssemos palpitar na ortografia da língua portuguesa, pra onde iria o poder do Sr. Bechara?
Enfim, vamos um pouco além da profundidade? Às vezes o que parece profundo é, na verdade, muito mais raso do que acreditamos. É preciso prestar atenção.


Serviço: O post do qual falo no texto é "Recomeço", de l9/01.

3 comentários:

Anônimo disse...

monamú, vamos em partes:

1) acento diferencial de ter, vir e seus compostos continuam valendo, grazie a dio.

2) o bechara é um mala.

3) eu não tenho quase nada contra a reforma ortográfica, mesmo. pro intuito de aproximar os hablantes comuns, são alterações pequenas e que, provavelmente, não vão desempenhar o papel geopolítico que delegam a elas. e pior: vão continuar sendo ignoradas por 95% da população. isso é coisa de governo, não de língua. mas eu acho interessante que se mantenham algumas rédeas pra que, por mais diferentes que sejam, as línguas não fiquem de todo irreconhecíveis. rola uma dificuldade inicial, mas é mero treino de ouvido. pra que a base linguística seja a mesma, já que a cultural não vai ser nunca.

4) sobre o nível de especialização pra dar palpite na língua... nhá. porque os eruditos demais ficam com ranço, chatos, por vezes preciosistas. mas deixar um jornalista operar um cérebro, por exemplo, não é lógico. mais adequado seriam especialistas menos... conservadores, talvez. mas quem faz a língua são os falantes. e depois as mudanças são incorporadas.

5) e pelo menos a reforma fez as pessoas pensarem na língua. coisa que, sério, não acontece. todo mundo fala e depende dela o tempo todo, mas todo mundo ignora. e o mais engraçado é que fazendo letras eu não tenho esclarecimento algum sobre a reforma. e todas as dúvidas que me perguntam são de coisas que eu nunca tratei na faculdade. em cinco anos. porque eu jamais faria introdução à crase I, por exemplo. muito profundo em algo muito raso.

e ainda tem a discussão profundo/raso, mas eu preciso encerrar o expediente.

bejo e até amanhã! (:

flávia coelho disse...

Lindão, obrigada. Adorei!

Anônimo disse...

NÃO TENHO CERTEZA MAS O PROFUNDO VEIO DE MIM NÉ? QUE BOM QUE O MEU PROFUNDO TROUXE A VC" REFLEXÃO" SOBRE O PROPRIO PROFUNDO. EU SEMPRE ESTOU LENDO O QUE VC ESCREVE , GOSTO , É UMA FORMA DE SENTIR VC AINDA MUITO PRESENTE NA MINHA VIDA ( MESMO ESTANDO LONGE ). EU POIS DIREI PROFUNDO SEMPRE QUANDO VC EM BREVES OU NÃO PALAVRAS PASSAR PRO MEU INTIMO A IMPRESSÃO DE ALMA ABERTA E CLARA ( CONFUSA AS VEZES ) .EU ACREDITO CONHECER UM POUCO ESSE SEU SER PROFUNDO ASSIM COMO VC ACREDITA EU ACHO CONHECER O MEU. AS PESSOAS SE MUDAM , ESCOLHEM CAMINHOS ( ALGUNS ERRADOS ) , CONHECEM NOVOS AMIGOS QUE VAO ACREDITAR SER PRA SEMPRE ( E ALGUNS DE FATO SÃO )... MUDANÇAS MINHA CARA : MAS O PROFUNDO QUE EXISTE EM MIM , EM VC , NAS PESSOAS PROXIMAS ... TODA ESSA ESSENCIA NASCEU E IRA MORRER CONOSCO ,QUEIRA OU NÃO. E SÃO POUCOS OS QUE CONSEGUEM PERCEBER ISSO. FALEI BESTEIRA? NÃO TENTA ENTENDER NÃO ... SÓ ME SENTI A VONTADE PRA RESPONDER PROFUNDAMENTE E NADA RASO O PROFUNDO DAS MINHAS E DAS SUA PALAVRAS.CONTINUE ESCREVENDO , VC É BOA NISSO! BJS DRE