terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Fim de feira

Desci do ônibus e dei de cara com a feira. Tinha esquecido a feira.
Nunca vou à feira porque não gosto do barulho e do tumulto, fico atordoada.
Tinha que passar pela feira, em direção a
Foi ali que pensei mais uma vez em como amava andar por aquelas ruas. Amava e não sabia se odiava também.
Os restos de comida e pessoas estavam ali. Pareciam se mover com rapidez e, no entanto, estavam inertes.
Pombas voavam, beliscavam. Já deviam estar cheias, as barrigas gordas.
Eu pensava em como amava aquela imundície. Tinha medo, sem dúvida.
Era muito diferente de andar por ruas arborizadas, limpas. Pessoas correndo com seus nike shox.
Era feio ali, na feira. A rua inteira estava ocupada e tinha que desviar das folhas de alface, de repolho, folhas.
Só sobraram as folhas, o que me fez pensar que os legumes foram recolhidos, comidos.
A rua estava cheia e era difícil saber quem trabalhava, catava ou observava.
Os homens me chamaram, elogiaram, assoviaram. Eu não respondi e eles sabiam que não responderia.
Eles sabem, mas chamam mesmo assim.
Eu também sei que vão reagir à minha passagem.
Eu não reajo, não olho.

Depois da feira o cenário não era melhor. Muita sujeira e trapos-pessoas.
Penso porque eles reagem e eu não.
O final da feira era uma espécie de festa ao contrário, ou uma festa.
Penso porque gosto dessa imundície.
Penso que dá sentido a alguma coisa que não sei o quê. A sujeira estava lá antes de mim e vai continuar depois. Qual o sentido?
Por ali tudo é exagero, em volta os travestis desfilam sua feminilidade exagerada. Bêbados cambaleiam ou caem pelas calçadas. A sujeira se acumula no espaço e nas pessoas. Não há disfarce, mas o seu contrário.
Eu desfilo contrastando com o redor. Nem muito feminina, nem suja, nem cambaleante. As bochechas coloridas pelo blush, os cílios duros. O contraste se torna exagero.
Ali fico dilatada, um exagero. Personagem que contrasta com o meio por onde passa, clichê visual.
Vai ver é isso.

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