sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um louco disse uma vez...

"... constato que o mundo tem fome e que não se preocupa com a cultura; e que é de um modo artificial que se pretende dirigir para a cultura pensamentos voltados apenas para a fome.
O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência nunca salvou qualquer ser humano de ter fome e da preocupação de viver melhor, mas extrair, daquilo que se chama cultura, idéias cuja força viva é idêntica à da fome.
Quero dizer que se todos nos importamos com comer imediatamente, importa-nos ainda mais não desperdiçar apenas na preocupação de comer imediatamente nossa simples força de ter fome.
Se o signo de uma época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são representação dessas coisas.
O que falta, certamente, não são sistemas de pensamento...; mas quando foi que a vida, nossa vida foi afetada por esses sistemas?
É um monstro no qual se desenvolveu até o absurdo, a faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos em vez de identificar nossos atos com nosso pensamentos.
Se nos falta enxofre à vida, ou seja, se lhe falta magia constante, é porque nos apraz contemplar nossos atos e nos perder em considerações sobre a forma sonhada de nossos atos, em vez de sermos impulsionados por eles."

E por aí vai... Esse texto é um trecho do prefácio de "O teatro e seu duplo" de Antonin Artaud. Artaud foi poeta, ator, dramaturgo e ele fala de um teatro de crueldade. Ele passou boa parte de sua vida num hospital psiquiátrico, o que acho muito estranho. Ele não parece sensato?

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