quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Porque eu gosto

Outro dia meu pai me disse que sou muito crítica e tô sempre revoltada. Ele estava preocupado porque acha que nunca estou feliz. Ele tem razão. Não que eu não fique feliz, mas tô sempre preocupada. Leio o jornal e fico nervosa, vejo TV e fico inconformada. Ando pela rua detectando tudo que está errado e devia ser diferente. O social, o humano, a conjuntura.
Eu respondi pro meu pai que se eu deixasse de ser crítica não ia me sobrar nada.
Há umas duas semanas minha prima e amiga citou meu pai e ainda me mandou essa: você leva a vida com muito peso, fica difícil aproveitar as coisas boas que acontecem. Ela tem razão.
Eu criei um padrão de “excelência” que me custa mais do que percebo. Faz alguns anos que abandonei o descompromisso, mesmo o eventual. Pensava que esse era um movimento natural, algo como trocar a adolescência pela vida adulta.
Caí do cavalo.
Assumi compromissos, estabeleci metas, ingenuamente chamadas de sonhos. Destilei regras e padrões de felicidade comprometida. Opa, justo eu que adoro questionar os padrões, os modelos? (pelo menos teoricamente). A questão é que todo esse comprometimento que prezo tanto me afastou das coisas simples e plenas.
Estou sempre defendendo o valor a experiência, não experiência como passado, mas a experiência como pura experiência mesmo. Sabe quando você faz qualquer coisa e pensa: putz, é isso! entendi tudo... é experiência. É aprendizado e transforma suas percepções.
Eu assumo, matei minhas experiências repetidas vezes, durante anos. Não todas, evidentemente, mas uma boa parte delas.
Nos últimos dias tenho andado numa montanha russa, não sei em que ponto estou e muito menos se vou cair ou subir na próxima curva. Perdi as referências. Justamente nessa perda, ou por essa perda, redescobri a experiência. A experiência acontece no agora e é um momento pleno, completo.
Quando você não sabe o que vai acontecer a seguir, nem se preocupa com isso, quando não se tem parâmetros, nem um passado que te mostre o que vai acontecer. Enfim, quando não há onde se agarrar, acontece a experiência e ela é plena de prazer.
Ficar apaixonado é mais ou menos assim. Não há regras, compromissos e metas a cumprir. Você sente tesão, prazer na companhia do outro e parece que não há tempo.
Aí a gente inventa um monte de bobagem: sonhos em comum, objetivos, planos para o futuro e mais um sistema completo para que tudo isso dê certo. Um esquema que não tem nada a ver com sentimento. Tratos e combinados que devem ser cumpridos, mesmo se foram feitos enquanto você estava com um pênis na boca. Assim você legitima aquela paixão e transforma em algo MAIOR, MAIS COMPLETO: UM CASAMENTO.
Nada contra casamento, veja bem, não pensem que estou aqui com dor de cotovelo. Acho que a idéia de viver com alguém é muito boa, é uma coisa realmente deliciosa. Claro que é bom por alguns lados e ruim por outros, mas é aí que quero chegar. Chego a uma conclusão entre tantas possíveis: o amor independe da montanha de combinados.
Sentir amor é algo que acontece no presente. Não sei de nada melhor que amar alguém sem ter que pensar na conjuntura da relação. Foda-se a conjuntura e foda-me por favor! Ninguém pode sentir a minha experiência de estar apaixonada, ninguém pode tirar isso de mim. É um tesão não ter que resolver problemas de relacionamento.
Outro dia eu perguntava: mas porque você quer fazer isso? a gente já sabe que não leva a nada. A resposta me desconcertou: PORQUE EU GOSTO.
Eu não faço nada só por gostar, tudo deve estar ligado a um objetivo maior que eu mesma. Oi?! maior que eu mesma?
Olha, não vou abandonar minhas crenças de vez, chutar o balde e sair por aí apenas satisfazendo 'eu mesma'. Por outro lado, os policiais de plantão que me desculpem, mas eu gosto de ser feliz, nem que seja um dia, dois, uma semana, alguns meses... eu mereço. E fazer algo simplesmente porque eu gosto é bom pra caralho.
Eu faço porque eu gosto, porque é vivo, porque existe a possibilidade. Por enquanto é só isso que eu preciso.

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