terça-feira, 12 de junho de 2018

O dia da volta

Ela entrou pela porta como quem volta para a mesma casa, mas a casa não era a mesma, nem ela.
Os pés eram os mesmos pés magros, mas o pó que os cobria - não precisa tirar os sapatos, pode tirar se quiser.
O mesmo pescoço, abraços compridos, cintura - nessa ordem. Cheiro, sopro, sons - check!
Eu te conheço? Ah sim, acho que te vi outro dia mesmo passando debaixo da minha janela.
Teve também um sonho e uma predição, foi isso! Às vezes as previsões demoram e nos perturbam o senso. Senta?
Do outro lado da mesa como se o espaço-tempo e os pontos de vista estivessem ali misturados à toalha florida. Não estranhamos.
Entramos com cuidado no jardinzinho que nos juntava e falamos baixo. As borboletinhas batiam as asinhas devagarinho em respeito.
Soávamos como antes, mas o sopro - quer mais vinho? era outro, percebemos quase sem nos mexer.
Assim, quase-quase falávamos uma língua antiga e não esquecida, meio adormecidas como nos sonhos em que voávamos crianças.
Sem derramar um fio de sangue abriu as costelas que lhe cobriam as delicadezas e dali um broto me olhava, quase curioso.
Como nos sonhos, abrir os olhos à força nos devolveria àquela cama já roída de cupins - Shhhh nana nenê que a cuca vem pegar, shhhh...
Fica? Vou. Tem certeza? Tenho. Volta? Hum...
Volta, prometo que ajudo a molhar o jardinzinho.

Nenhum comentário: