- é difícil, viu meu bem? quem falou esse negócio de "atuar pra poder voar", tava falando do quê? quem atua voa, por acaso? atuar é aquela coisa existencialista, que não quer ser porque é social. só que também não é social porque não consegue chegar. ah, a sociedade é tão grande que não cabe no meu talento. sabe? nunca voei, não consigo. esse negócio de voar é pra quem pode, pra quem tem um ego ou um gênio muito grande. tenho vergonha até. e a vergonha que me dá é de tudo, de atuar, de não atuar, de trabalhar, de querer receber pra fazer teatro (que aí nem chamo de trabalho). é uma vergonha que não vejo em quem voa, por exemplo. os voadores acreditam que têm talento suficiente. aí fico achando que tenho que dar aula, que tenho que fazer teatro de esclarecimento. como se fosse possível clarear alguma coisa. pronto, bate a vergonha de achar que atuar serve pra alguma coisa. mas também não dá pra fazer qualquer coisa, né? o artista tem obrigação de tapar buracos na educação e na cultura. nossa, é difícil viu? no fim, a arte ainda serve pra alguma coisa, num serve?
- eu adoro musicais.
Um comentário:
olha, meu bem, acho que a gente já teve esse tipo de conversa (o que não torna o texto menos simpático).
mas te digo que voar todo mundo pode, seja de webjet, seja de jatinho. foi-se o tempo que os viajantes aéreos eram um grupo seleto, que aparecia listado nos jornais.
e você pode tanto alcançar o sucesso nas alturas e viajar com milhas quanto virar um voador só quando tem promoções de um real. todo mundo corre o risco de começar por cima e terminar por baixo, ou o contrário, ou nada disso.
mas daí vem aquela: falar é fácil.
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e tem a discussão do chamar de trabalho, mas o comentário já ficou grande demais.
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em tempo: eu não gosto muito de musicais, fico com vergonha no meio.
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