terça-feira, 18 de março de 2008

Pulgas

Uma das pulgas que anda picando atrás da minha orelha,é a pulga das câmeras de segurança.
Alguém mais notou que o número de reportagens em telejornais utilizando câmeras de segurança está crescendo?
Em uma semana devo ter visto umas 3 matérias sobre confusões em posto de gasolina. Os postos de gasolina estão ficando mais importantes, ou a importância reside (na curiosidade) de registrar imagens de pessoas que não têm consciência de que estão sendo filmadas?
Sim, todos sabemos que as câmeras de segurança estão em quase todos os lugares, mas elas estão lá em cima, são pequenininhas e justamente pelo fato de estarem em todos os locais, já foram incorporadas como parte da vida muderna. Em outras palavras perdemos a consciência da sua presença.
Não é novidade pra ninguém o interesse que temos em fuxicar a vida dos outros, temos aí vários exemplos de reality shows e similares para provar. A meu ver, participar de um reality show é uma atividade extra-cotidiana e depende da disposição do participante, ele tem consciência de onde está se metendo e se mete justamente por necessidade de se expor, aparecer, ficar famoso, etc. E não faltam intelectuais para escrachar a existência dos tais programas, justamente por isso e outros fatores sobre os quais não vou entrar em detalhes.
O principal problema da câmera de segurança é justamente a perda da consciência da sua presença, o (in)felizardo que trabalhar diante do monitor de uma dessas câmeras deve se esbaldar com os recortes de vida real que vê por ali, gente coçando a bunda, ajeitando o sutiã, se amassando no elevador, discutindo, e por aí vai...
E a câmera serve pra quê? Acho que uma função positiva é justamente registrar qualquer crime que ocorra dentro do seu foco de registro, num assalto por exemplo, as imagens ficam registradas e podemos sonhar com a possível captura não somente da imagem do ladrão, mas também do próprio ladrão. Dentro de um processo jurídico, certamente as imagens podem ser muito úteis, mas será que realmente são?
Voltando à questão da exibição dessas imagens em rede nacional... Qual a relevância? Uma notícia sem imagem não tem importância ou não tem impacto? Se as imagens fossem captadas por um repórter, de câmera em punho, onde todos os envolvidos estivessem conscientes da sua presença, essas imagens teriam o mesmo caráter? Ou os envolvidos se sentiriam inibidos?
Quando crimes como espancamentos, atropelamentos, assassinatos são exibidos através de imagens captadas pelas câmeras de segurança, temos a impressão que é realmente importante exibir as imagens e chamar a atenção sobre esses crimes, além do prazer de fuxicar, é claro... Mas a partir do momento que brigas em condomínios nos Jardins, entre estressados membros da nossa má educada classe média, se tornam notícia, não dá mais pra ignorar.
Que porra me interessa essa briga? Qual a relevância jornalistica? Será que não tinha nenhuma notícia mais séria pra ocupar o lugar dessa? O caminho do telejornal é se tornar mais um reality show?

O que eu quero dizer com tudo isso é: não devemos aceitar tudo que existe por aí como se fosse natural, ético ou digno. As câmeras de segurança têm uma função, mas isso não significa que estejam cumprindo essa função, e mesmo essa função deve ser questionada de vez em quando. O mesmo vale para o jornalismo e a televisão, aliás vale pra qualquer assunto, ou não vale?

2 comentários:

Vivien Morgato : disse...

Nã0 sei,Flávia,acho que aquela curiosidade mórbida que fazia as pessoas berrarem no Coliseu ainda estão presentes.E se contetam com pequenas e mesquinhas cenas de baixaria da classe méRdia.

flávia coelho disse...

Pois é Vivien, os seres humanos continuam humanos... Beijos!